Para analistas, varejo pode crescer até 4%

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O comércio varejista encerrou abril com queda de 0,2% frente a março, depois de recuo de 0,5% na comparação entre fevereiro e março, sempre com ajuste sazonal, apontou levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A oferta ainda escassa de crédito e o efeito retardado da redução do IPI sobre o consumo de eletrodomésticos e materiais de construção contribuíram para o resultado, apontaram economistas. Para os próximos meses, as perspectivas são de recuperação das vendas na comparação mensal, mas insuficiente para reverter a tendência de desaceleração do indicador no acumulado de 12 meses. Para o ano, as previsões são de expansão de 3% a 4% no volume de vendas, ante crescimento de 9,1% no ano passado e de 7% no acumulado de 12 meses até abril.

 

Mesmo as quedas de março e abril não foram consideradas ruins por economistas. Dados da LCA Consultores mostram que o índice de desempenho do varejo em abril, com ajuste sazonal, manteve-se em nível semelhante ao de setembro de 2008. O índice do comércio ficou em 149,8 pontos, 0,29 ponto acima do índice medido em setembro. Cinco setores apresentam desempenho superior ao de setembro: hipermercados, supermercados, alimentos, bebidas e fumo (6,7 pontos), artigos farmacêuticos (5,19 pontos), livros, jornais, revistas e papelaria (1,73 ponto), equipamentos e materiais de escritório, informática e comunicação (20,68 pontos) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (4,77 pontos).

 

Os outros cinco grupos mantêm ainda índices inferiores aos de setembro - combustíveis e lubrificantes (diferença de 1,24 ponto), tecidos, vestuário e calçados (12,05 pontos), móveis e eletrodomésticos (24,5 pontos), veículos, motos, partes e peças (10,77 pontos), material de construção (15,20 pontos). Conforme o economista da LCA Douglas Uemura, com a recuperação nas vendas de eletrodomésticos e materiais de construção por conta do IPI reduzido, as vendas devem crescer 0,7% em maio, compensando as perdas de março e abril. Para o ano, ele prevê aumento de 4% no comércio, mas com recuperação lenta do grupo móveis e eletrodomésticos (que deve crescer 1%) e do grupo tecidos e vestuário, que deve recuar 3%.

 

"Os setores de bens duráveis, que dependem mais da disponibilidade de crédito, terão recuperação mais lenta, embora alguns tenham já em maio algum alento por conta do IPI", avaliou a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara, citando os setores de materiais de construção e bens duráveis. Alguns indicadores corroboram essa tese. Dados da Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) apontam alta de 5,38% nas vendas de veículos em maio sobre abril e pesquisa da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco) apontou expansão de 4,5% nas vendas do setor.

 

Em relação a junho, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da Federação do Comércio de São Paulo (Fecomercio-SP) apontou alta de 7% sobre maio, para 134,5 pontos. Levantamento da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) também apontou melhora na primeira quinzena deste mês, com expansão de 12,1% nas consultas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) em comparação com a primeira quinzena de maio, e elevação de 16,3% nas consultas ao SCPC/Cheque. "Ainda não há um quadro que permita uma arrancada da indústria, mas alguns fatores podem colaborar, como a inflação menor e o afrouxamento monetário", avaliou a economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif.

 

O economista-chefe da MB Associados considera que os reajustes do Bolsa Família e do funcionalismo público provocarão avanços na renda e no consumo no segundo semestre. "Já o efeito da recuperação de crédito ainda é pequeno", afirmou. Segundo dados do Banco Central, o saldo das operações de crédito à pessoa física cresceu 1,8% em abril e 5,2% no ano, mas houve queda no saldo de operações para aquisição de veículos (0,3% no mês e 1,5% no ano) e outros bens (2,9% em abril e 19% no ano).

 

Em abril, oito dos dez grupos que compõem o varejo registraram queda em relação a março. "A tendência é o varejo apresentar um comportamento equilibrado nos próximos meses, sem explosões de consumo e sem quedas acentuadas", disse Luiz Goes, sócio sênior e diretor da GS&MD - Gouvêa de Souza, que prevê para o ano expansão de 4% para o setor.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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