Empresários temem ampliação de barreiras comerciais na Argentina

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Os empresários brasileiros estão preocupados com os sucessivos atrasos nas negociações com a Argentina e reclamam que o comércio com o sócio do Mercosul está quase paralisado desde novembro em alguns produtos. O setor privado também teme que o governo argentino amplie o número de produtos sujeitos a licenças não-automáticas de importação, uma barreira burocrática, na próxima semana.

 

"É um absurdo e transcende qualquer grau de compreensão com a situação da Argentina", disse Fernando Pimentel, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Ele acrescentou que o "clima" na indústria têxtil brasileira em relação ao governo argentino é "o pior possível". Segundo a Abit, 30% das exportações do setor para a Argentina estão sujeitas a barreiras e vai chegar a 40% com as novas medidas previstas, que atingem cama, mesa e banho.

 

A reunião entre os setores privados dos dois países, inicialmente marcada para amanhã, havia sido adiada para a próxima semana, porque o governo argentino não queria contaminar com uma agenda negativa a visita da presidente do país, Cristina Kirchner, a São Paulo, na sexta-feira. Ontem, o encontro foi protelado novamente e a data prevista agora é 30 de março.

 

"O país rompe com todos os acordos e vai ficar por isso mesmo. Estão empurrando com a barriga", disse José Luiz Diaz Fernandez, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Móveis (Abimóvel). O setor é um dos prováveis prejudicados com as novas barreiras. Para o executivo, o problema é grave porque o país vizinho se tornou o segundo maior cliente do Brasil no exterior. "Os Estados Unidos cortaram suas compras pela metade, buscamos um outro mercado e agora isso", reclamou.

 

Segundo Ivan Ramalho, secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, os argentinos estão com dificuldade em organizar a agenda para vir até Brasília. "Da parte do governo brasileiro, iniciaremos o mais rápido possível", disse. Promover acordos de restrição de exportações entre privados é uma sugestão das diplomacias dos dois países para diminuir os conflitos, mas há resistências em outros setores do governo argentino. O comércio bilateral entre os sócios do Mercosul foi duramente atingido pela crise. No primeiro bimestre do ano, as exportações do Brasil para a Argentina caíram 49% e as importações, 44%.

 

Outro ponto que também preocupa os empresários brasileiros é a perspectiva de novas barreiras. Conforme resolução publicada no Diário Oficial da Argentina, serão incluídos no regime de licenciamento não-automático 58 novas posições tarifárias a partir da próxima semana, como têxteis (cama, mesa e banho), móveis e máquinas. O percentual de exportações brasileiras sujeito a barreiras deve subir dos atuais 7% para 14%, conforme a Abeceb.com

 

Para o setor privado brasileiro, os argentinos estão confortáveis com a situação e não tem pressa em negociar. Com as licenças não-automáticas , o governo do país controlaria a entrada de produtos sem discutir os volumes com o Brasil. "O governo já assegura o que os empresários argentinos querem", disse Maria Tereza Bustamante, coordenadora de comércio exterior da Associação Nacional dos Fabricantes de Eletroeletrônicos (Eletros). Ela disse que seu setor já está sujeito às licenças e que até poderia negociar um acordo, se a proposta viesse dos argentinos.

 

Os setores têxtil, calçadista e de linha branca ainda não receberam dos argentinos as propostas de cotas ou tarifas para os acordos de restrição de exportações. Ontem pela manhã, a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) não havia sido informada do interesse argentino em incluir produtos como celulares no pacote. O governo da Argentina entregou ao Brasil na semana passada uma lista de 37 produtos "sensíveis", que deveriam estar nos acordos. Conseguir um entendimento entre todos esses setores ao mesmo tempo não será fácil.
 

 
Veículo: Valor Econômico


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