Ritmo de produção da indústria é mais ameno

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Conjuntura: Puxado pelo crescimento forte da fabricação de bens intermediários e duráveis, setor tem alta de 1,1%


Depois de duas quedas seguidas, a produção industrial reagiu em janeiro, subindo 1,1% em relação ao mês anterior, feito o ajuste sazonal. Puxada pelo crescimento de 2% de bens intermediários (insumos como aço, borracha, plástico) e de de 8,6% de bens de consumo duráveis (como automóveis e eletroeletrônicos), a indústria teve uma expansão razoável, mas inferior ao ritmo fortíssimo registrado em alguns meses de 2009, como os 2,9% de outubro.


O resultado sugere uma moderação da velocidade de alta da produção industrial, avaliação corroborada pela estabilização do nível de utilização de capacidade instalada (Nuci) na indústria de transformação - números da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostraram um Nuci de 81,4% em janeiro, na série livre de influências sazonais, muito próximo dos 81,5% de dezembro.


"A indústria parece ter encontrado um novo ritmo de crescimento, mais baixo do que o verificado de janeiro a outubro do ano passado", diz a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara. Ela destaca que, na série com ajuste sazonal, a produção industrial ainda está 4,9% abaixo do pico verificado em setembro de 2008, ficando próxima do nível de dezembro de 2007. Na comparação com janeiro de 2009, a indústria cresceu 16%, percentual expressivo que se deve à fraca base de comparação, devido ao impacto da crise.


O estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, também ressalta a moderação do ritmo de crescimento da indústria. Para ele, isso se deve em parte ao fato de que, depois da forte recomposição de estoques ocorrida no terceiro trimestre e no começo do quarto, as empresas diminuíram um pouco o ritmo de produção nos meses seguintes.


O economista Silvio Sales, consultor da Fundação Getulio Vargas (FGV), aponta o crescimento da produção de bens intermediários como o principal ponto positivo do resultado de janeiro. A alta de 2% sobre dezembro, feito o ajuste sazonal, foi a 13ªconsecutiva nessa base de comparação, levando o setor a acumular ganho de 22,5% no período. "A expansão dos intermediários mostra a força da demanda intra-industrial", diz Sales, observando que ela também indica uma possível aceleração da produção de bens finais mais à frente.


Depois de cair 10,2% no acumulado de novembro e dezembro, a produção de bens duráveis voltou com força em janeiro, subindo 8,6% em relação ao mês anterior e 36,4% sobre janeiro de 2009. As quedas nos dois últimos meses do ano passado ocorreram porque a fabricação desses bens havia subido muito nos meses anteriores, alimentadas pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos e eletrodomésticos da linha branca, o que levou a uma antecipação das compras desses produtos. Esse fenômeno também ajuda a explicar a moderação do ritmo de expansão da indústria nos últimos meses, avalia o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. Depois do boom de produção desses bens no segundo e no terceiro trimestres e também em outubro, as empresas diminuíram um pouco o ímpeto, diz ele.


A produção de bens de capital, por sua vez, ficou quase estável em janeiro, registrando queda de 0,1% sobre dezembro, depois de ter subido 29% nos nove meses anteriores, na série com ajuste sazonal. A interrupção do crescimento da fabricação desses bens, voltados para o aumento da capacidade produtiva, poderia ser uma má notícia, mas Sales acredita que não há motivos para preocupação. Ele nota que a produção de bens de capital, excluindo equipamentos de transporte industrial (como os voltados para a indústria aeronáutica), teve alta expressiva de 19,75% sobre janeiro de 2009.


"Isso mostra que os bens de capital para a indústria, que são os ligados ao investimento, tiveram alta forte", diz Sales. A fabricação de equipamentos de transporte industrial cresceu 3,35% em relação a janeiro de 2009, afetados pela fraqueza das exportações.


No caso desses dois itens, o IBGE não calcula o resultado sobre o mês anterior, em termos dessazonalizados. O indicador de investimento da Rosenberg, que leva em conta o consumo doméstico de máquinas e equipamentos e a construção civil, subiu 1,6% sobre dezembro. Em janeiro, a produção de insumos típicos para a construção cresceu 0,1% sobre dezembro e 10,8% sobre o mesmo mês de 2009.


Entre os indicadores da CNI, um dos destaques de janeiro foi a acomodação do nível de utilização de capacidade instalada. Para Borges, é um reflexo da moderação do ritmo de expansão da indústria. As empresas também têm aumentado as contratações, como mostra a expansão de 2% do nível de emprego sobre dezembro, feito o ajuste sazonal. O número de horas trabalhadas teve alta de 0,6%, a quinta seguida.
 

Veículo: Valor Econômico


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