Indicadores mostram que recuperação econômica ainda é frágil

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O ano de 2010 foi saudado como sendo aquele no qual o Brasil se destacaria no cenário global e enterraria de vez os efeitos da crise que abalou as economias ao redor do mundo a partir do segundo semestre de 2008. No entanto, passadas poucas semanas, começam a surgir alertas de que o País pode estar mergulhado em uma onda de euforia - comparada ao clima de Carnaval pela revista inglesa The Economist. Além disso, economias desenvolvidas, especialmente na Europa, revelam números que mostram que a recessão continua e quem sabe uma nova desaceleração se aproxime. Prestar atenção a esses e outros sinais é essencial para se evitar apostas equivocadas de agora em diante, quando parece que efetivamente o ano irá se iniciar após a finalização das comemorações do Rei Momo.

 

Nesse cenário, o grande problema brasileiro está na taxa básica de juros, baixa para o histórico do País, mas ainda elevada para parâmetros globais. A reportagem recente da The Economist aponta os gastos do governo como principais inibidores do corte de juros. Além disso, há sinais de superaquecimento na atividade econômica (o IPCA, índice de inflação que baliza as metas do governo, subiu 0,75% em janeiro) que já estão na alça da mira do Banco Central para determinar um reajuste da taxa básica de juros, estabilizada em 8,75% ao ano. Outros dados que entraram no rol de vilões para os juros são os maiores níveis de emprego formal e da atividade da indústria. Os dois em alta devem indicar mais consumo.

 

No mercado de capitais, os primeiros movimentos do ano também não são alvissareiros. Desde os primeiros dias de janeiro, a BM&FBovespa tem dado sinais de que a grande recuperação observada ao longo de 2009, principalmente no segundo semestre, pode não seguir em frente em 2010. O Ibovespa atingiu seu pico no mês passado ao alcançar os 70.729 pontos, mas de lá para cá vem oscilando entre grandes quedas e pequenas altas que já levaram o índice à casa dos 62 mil pontos. A expectativa é que o movimento prossiga instável ao longo do ano e motivos não faltam para isso. No Brasil, as eleições presidenciais criam um ambiente propício para a dúvida dos investidores, principalmente os responsáveis pelo gerenciamento dos fundos de pensão internacionais.

 

O que o mercado observa é a dificuldade dos Estados Unidos e principalmente da União Europeia em retomar o crescimento. Enquanto as economias emergentes mostram fôlego para avançar, as nações desenvolvidas ainda permanecem soterradas em desemprego e baixa atividade econômica. Para piorar, muitos países demonstram que não têm mais condições de suportar os pesados custos das medidas anticiclícas.

 

Na China, candidata a nova superpotência global, o problema é outro: o excesso de dinheiro em circulação. O governo vai elevar em 0,5 ponto percentual o depósito compulsório dos bancos a partir do dia 25. Esse é o pontapé inicial da retirada das medidas anticrise que tinham por objetivo elevar o crédito e, por consequência, o consumo interno. O ritmo de crescimento atual não é considerado sustentável pelo banco central chinês.

 

Sinais como esses, que pipocam nas mais diferentes nações, reforçam a percepção de que o que se viu no ano passado foi apenas uma leve retomada da economia global e que um novo ciclo de baixa pode vir pela frente, formando o que analistas expressam ao usar a letra W como símbolo da crise. Prudência parece ser um ingrediente importante para as decisões de empresários e líderes públicos nos próximos meses.

 


Veículo: Jornal do Comércio - RS


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