Altas pontuais no IPCA podem pressionar decisão do BC sobre juros

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No início deste ano, os aumentos das tarifas de transporte público em São Paulo e no Rio de Janeiro e a alta dos preços dos alimentos por causa das chuvas - forçando o adiantamento de colheitas e a queda do volume vendido - ajudaram a puxar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro para 0,75%, uma variação superior a maioria das estimativas. Como o dólar subiu, outras pressões "sazonais" virão em fevereiro e a inflação também acelerou no atacado (especialmente nos preços industriais), cresceu, entre os analistas, a expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do banco Central aumente a taxa básica de juros na próxima reunião, em março.

 

A área econômica do Itaú Unibanco prevê alta de 0,5 ponto percentual na Selic já no mês que vem. Laura Haralyi, analista de inflação da instituição financeira, lembra que já havia previsto um IPCA mais "forte" no primeiro trimestre de 2010. "Aumentos em transporte e por causa da chuva nem sempre ocorrem em janeiro. A passagem em São Paulo não subiu no ano passado. Desde a metade do ano passado alertamos que poderia haver antecipação de reajustes no início do ano por causa da eleição e que poderíamos ter um primeiro trimestre pressionado, com concentração nos administrados", explica Laura.

 
 
Priscila Godoy, analista da Rosenberg & Associados, diz que as pressões pontuais continuam de forma menos intensa em fevereiro, acrescidas dos aumentos sazonais conhecidos, como os reajustes das mensalidades escolares e o início da contabilização no IPCA da cobrança do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). "No curto prazo haverá trocas de pressões inflacionárias com peso menor dos impactos pontuais na perspectiva do ano, mas não é precipitado dizer que eles não vão afetar os juros", opina a economista.

 

Irene Machado, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), diz que, para fevereiro, ainda serão contabilizados aumentos que têm afetado o preço do álcool combustível. "E aí gasolina vem junto e com maior peso no índice, mas a tendência é de queda." Para o banco Credit Suisse, o IPCA deve desacelerar para 0,60% em fevereiro. "A previsão justifica-se em função da menor elevação dos preços dos alimentos e combustíveis. Informações do varejo nos sugerem a desaceleração do ritmo de alta dos preços na margem. Além disso, o impacto dos reajustes de ônibus urbano tende a ser menor no próximo mês", diz nota da instituição.

 

O resultado do IPCA, divulgado na última sexta-feira, foi o maior para um mês de janeiro desde 2004. A variação no acumulado em 12 meses ficou em 4,59% - acima do centro da meta de inflação -, a maior marca desde junho do ano passado (4,8%). Dos nove grupos que integram o índice, só vestuário e artigos de residência perderam fôlego de dezembro para janeiro. A maior contribuição para a aceleração geral do IPCA veio do grupo transporte, que subiu 1,45% em janeiro, ante 0,78% no mês anterior. A alta do setor foi puxada pelos ônibus urbanos, com alta de 3,9% e contribuição de 0,14 ponto percentual para o IPCA. A alta na tarifa de São Paulo, de 17,40%, teve influência significativa sobre o indicador. O grupo alimentos e bebidas foi responsável por um terço da taxa de inflação do mês. Os preços subiram, em média, 1,13%, quase cinco vezes a taxa de 0,24% do mês anterior.

 

O Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), também divulgado na sexta, registrou altas em seus três componentes, e fechou janeiro no nível mais alto desde outubro de 2008. Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), o indicador subiu 1,01% em janeiro, após cair 0,11% em dezembro. O Índice de Preços por Atacado (IPA) fechou em alta de 0,96% em janeiro, após baixa de 0,29% em dezembro. O IPA agrícola recuou 0,32% no mês passado, contra queda de 1,21% no mês anterior. Já o IPA industrial subiu 1,37%, contra alta de 0,02% em igual intervalo.
 

 


Veículo: Valor Econômico

 

 


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