Dólar tira sustentação das commodities

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Com fundamentos "altistas", açúcar, cacau e suco sobem em janeiro apesar da alta da moeda americana

 


A valorização do dólar no mercado internacional tirou parte da sustentação das cotações das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no exterior em janeiro.

 

Com fundamentos de oferta e demanda francamente "altistas", açúcar, cacau e suco de laranja, referenciados na bolsa de Nova York, resistiram à pressão exercida pela alta do dólar e a migração de investimentos de grandes fundos para outras aplicações e encerraram o mês com preços médios superiores aos de dezembro, segundo cálculos do Valor Data baseados nos contratos de segunda posição de entrega.

 

Já café e algodão, também transacionados em Nova York, além de soja, milho e trigo, que têm na bolsa de Chicago um de seus principais ambientes de compra e venda de contratos futuros, refletiram com mais força a influência financeira e recuaram. Nos últimos 12 meses, as cinco commodities agrícolas de Nova York que fazem parte do levantamento do Valor Data apresentam ganhos, enquanto o cenário em Chicago é de perdas acumuladas generalizadas.

 

"Estamos em meio a um processo de reversão de tendências macroeconômicas [após o aprofundamento da crise financeira irradiada dos EUA, em setembro de 2008] e as cotações das commodities estão reagindo a essas mudanças", diz Vinícius Ito, analista da Newedge em Nova York. Há outros fatores de influência nesse sentido, mas Ito enxerga no enxugamento da liquidez nos EUA e na forte expectativa de elevação dos juros naquele país o mais forte deles.

 

Na sexta-feira, o índice da bolsa de Nova York que compara o dólar a uma cesta de moedas (entre as quais euro, iene e franco suíço) alcançou o maior patamar desde o mês de agosto do ano passado, de acordo com a agência Dow Jones Newswires. O dólar em alta enfraquece o apelo das commodities para fundos de investimentos sem tradição nesses mercados, mas a análise dos fundamentos de cada cadeia comprova que eles ainda têm vez, apesar da "financeirização" que ganhou corpo. E, nesse contexto, a "estrela ascendente" da vez continua sendo o açúcar.

 

Ainda impulsionado pela escassez de oferta derivada da mudança de lado do comércio da Índia, que passou a importador, o açúcar registrou em janeiro, em Nova York, um preço médio 11% superior ao de dezembro. Com isso, salto nos últimos meses, conforme o critério de médias mensais dos contratos de segunda posição, chegou a 114,63%.

 

Muitos acreditam que a curva do açúcar não vai parar por aí. Por causa desse contexto, o banco Barclays Capital, de Londres, projeta que as cotações continuarão em alta, ou no mínimo firmes, pelo menos até o terceiro trimestre deste ano, como já informou o Valor. Bom para as usinas brasileiras, uma vez que o açúcar está remunerando mais que o etanol, que também está valorizado.

 

Na lista das commodities agrícolas que subiram em janeiro, o suco de laranja só perdeu para o açúcar no mês passado. Aqui o fator de sustentação continua sendo a quebra da safra de laranja da Flórida, mas as perspectivas de redução da oferta da fruta em São Paulo também colaboram, e o quadro não deverá se alterar muito nos próximos meses.

 

Assim, o suco fechou janeiro com cotação média 6,42% maior que em dezembro em Nova York. Nos últimos doze meses, os ganhos alcançaram 83,51%. Bom para as indústrias exportadoras do Brasil, que dominam o comércio do produto, e para os citricultores, que têm esperança de conseguir pela fruta preços melhores que os da última safra.

 

No cacau ainda há muitas incertezas sobre a oferta, mas projeções sinalizam novo déficit global. Ontem, o belgo-holandês Fortis Bank estimou que a produção global deverá ser 170 mil toneladas inferior à demanda na safra 2009/10 e 48 mil toneladas menor em 2010/11. Na Costa do Marfim, maior país produtor, o clima não parece favorável.

 

A combinação garantiu o cacau na trinca das commodities agrícolas que fechou janeiro com cotação média mais alta que a de dezembro do ano passado. A valorização foi de 0,84%, e em 12 meses atingiu 30,2%.

 

Os demais produtos acompanhados pelo Valor Data têm quadros de oferta e demanda mais confortáveis. Ainda em Nova York, o café recuou 0,92% em janeiro, apesar das chuvas no Brasil e na Colômbia, e passou a acumular ganhos de 19,6% em 12 meses. E o algodão, que guarda estreita relação com as cotações dos grãos negociados em Chicago, recuou 2,94% no mês e viu a alta em 12 meses emagrecer para 47,53%.

 

Das quedas em Chicago, a que mais preocupa o Brasil é a da soja, carro-chefe do agronegócio e das exportações do setor do país. Com o dólar jogando contra e as perspectivas de fartos estoques mundiais em virtude da safra gorda colhida nos Estados Unidos e das boas condições das lavouras na América do Sul, o grão caiu 5,23% em janeiro e já apresenta baixa de 1,17% em 12 meses.

 

"Há um viés de baixa para milho e soja por causa das colheitas em Brasil e Argentina", disse Koname Gokon, analista da Okato Shoji baseado em Cingapura, à Dow Jones Newswires. "Para os brasileiros a tendência de queda é um problema, uma vez que, apesar da valorização do dólar, os prêmios na exportação estão em queda", afirmou Vinícius Ito, da Newedge, ao Valor.

 

O milho também não resistiu à pressão financeira, aos estoques mundiais relativamente confortáveis e à recuperação da safra argentina e caiu 2,83% em janeiro na comparação com dezembro, passando a registrar retração de 1,29% em 12 meses. E o trigo recuou 2,55% no mês e cai 11,02% no último ano-móvel.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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