Importação de bens de consumo dispara

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Puxada pelos produtos básicos, principalmente petróleo e seus derivados, as exportações surpreenderam ao fechar o mês de janeiro com elevação de 21,3% da média diária, na comparação com o mesmo período de 2009. Embora o valor dos embarques tenha contribuído para uma redução no saldo negativo da balança comercial em janeiro, especialistas lembram que a alta das exportações de petróleo fez grande diferença nos números e ficou muito concentrada na última semana do mês, quando a média diária de vendas ao exterior foi de US$ 161,2 milhões. O valor foi bem superior à média mensal, de US$ 82,75 milhões ao dia. Isso coloca em dúvida a sustentação do desempenho dos embarques.

 

"É possível que tenha sido algo pontual. É preciso esperar o comportamento nos próximos meses", diz Fernanda Feil, da Rosenberg & Associados. Para ela, o comportamento do petróleo e seus derivados surpreendeu também, porque o esperado era um nível de exportação menor, em razão da maior demanda interna, como resultado da elevação do preço do álcool combustível.

 

O desempenho dos importados, ao contrário, acredita Fernanda, mostra tendência maior de continuidade. A média diária de desembarques de matérias-primas e produtos intermediários aumentou 16,8% em janeiro de 2010 na comparação com janeiro de 2009.

 

Mesmo considerando que a base de comparação está deprimida, porque em janeiro do ano passado a crise econômica jogou para baixo a corrente de comércio, chama a atenção a elevação na média diária de importação de bens de consumo, que cresceu 37,9% no mesmo período. Os duráveis tiveram alta de 51,8%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento (MDIC).

 

Na comparação dessazonalizada em relação a dezembro, diz Fernanda, o desempenho dos bens intermediários revela o impulso da produção interna. Segundo dados do ministério elaborados pela Rosenberg, a importação de intermediários teve alta dessazonalizada de 5,3% em janeiro, na comparação com o mês anterior. Na mesma base de comparação, os bens de consumo não duráveis tiveram alta de 0,8% e os bens de capital, 1%. "Os duráveis tiveram queda de 0,5%, mas mesmo assim fica mantida a tendência de alta", diz.

 

"O comportamento das importações mostra claramente que o mercado interno está com gás", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Para ele, o que revela isso é o bom desempenho da importação de janeiro em relação a dezembro de 2009, com alta de 2,7% na média diária do total de valores desembarcados. "Em janeiro, de forma geral, esse movimento costuma cair", diz Castro. As exportações, ao contrário, tiveram queda de 14% no valor diário do total embarcado em janeiro, na comparação o mês anterior. Em relação a janeiro de 2009, a alta foi de 21,3%.

 

"As importações estão mostrando fôlego suficiente para manter nos próximos meses um valor médio total de US$ 600 milhões ao dia", diz Castro. Em janeiro, a média foi de US$ 573,6 milhões.

 

Otimista com o desempenho de janeiro, o economista André Sacconato, da Tendências, diz que o comportamento do comércio exterior no mês confirma as previsões da consultoria de superávit de US$ 20 bilhões para este ano. E reconhece que o desempenho das exportações puxadas principalmente pelas embarques de petróleo e seus derivados concentrados na última semana de janeiro deixa dúvidas.

 

"Não sabemos se com essa concentração vamos ter uma retração nas exportações nas próximas semanas ou se a última semana foi uma recuperação do que não foi vendido nas primeiras três semanas de janeiro", diz Sacconato. De qualquer forma, acredita, as exportações devem aumentar a partir de março, em função das safras agrícolas, e fica mantida a previsão de que as exportações e importações devem crescer em 2010, com ritmo mais forte e crescimento maior dos desembarques.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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