Varejo adapta-se ao aguaceiro, mas não evita queda de vendas

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A chuva das últimas semanas em São Paulo está provocando, além de alagamentos, uma verdadeira reviravolta no varejo da cidade. Agora, a ordem é antecipar vendas e entregas para no máximo às 14 horas. Isso porque depois desse horário o céu começa a escurecer e a tempestade é certa. O tempo ruim tem afetado o desempenho dos varejistas, que viram suas vendas caírem cerca de 30% nas últimas semanas, em relação a janeiro de 2008.

 

Os supermercados da capital estão sofrendo com a queda nas vendas e com as entregas de mercadorias. "Grandes fornecedores, como os de bebidas, hortifruti e perecíveis, que antes faziam entregas diárias, agora estão diminuindo o número de entregas com medo de perder mercadoria em alagamentos ou de não conseguirem fazer o abastecimento", conta Martinho Paiva Moreira, vice-presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas).

 

A Coca-Cola Femsa Brasil, por exemplo, programa as entregas às grandes redes de supermercado e está monitorando os estoques das lojas. "Estamos entregando mais quantidade para fazer menos viagens. Se algo acontece, reprogramamos a entrega para outro dia. Mas não deixamos os estoques baixarem para níveis críticos de jeito nenhum", diz Rames Bichara Filho, diretor de desenvolvimento comercial da Coca-Cola Femsa. Outras grandes empresas, como Unilever e Nestlé, estão remarcando as encomendas, segundo Moreira, para o período da manhã, na tentativa de evitar a confusão das chuvas da tarde.

 

"Alguns consumidores também têm dado preferência por fazer suas compras na parte da manhã. Mas isso não está compensando a queda de 30% nas vendas em janeiro contra o mesmo mês do ano passado. Chuva virou sinônimo de venda perdida", afirma o vice-presidente da Apas. As lojas de bairro são as mais afetadas. "Nesse tipo de loja, quando chove, o movimento cai a praticamente zero."

 

Na rua 25 de Março, maior polo comercial popular do país , as vendas caíram 30% no último dia 21, quando houve tempestade na cidade. Em 8 de dezembro, quando o trânsito parou por conta dos alagamentos, o faturamento das lojas despencou 50%. "A nossa previsão era crescer 5% na primeira quinzena de janeiro, mas empatamos. A chuva pode ter sido um dos fatores", diz Marcelo Mouawad, da União dos Lojistas da 25 de Março.

 

No Shopping Popular da Madrugada - uma espécie de feira com 4,2 mil estandes no bairro do Brás - o movimento de compradores que normalmente é de 25 mil pessoas por dia cai pela metade quando há tempestades ou chuvas prolongadas. "Estamos acompanhando em tempo real a meteorologia. Incluímos na programação da nossa rádio interna a previsão do tempo", disse Giovan Ferreira, diretor de marketing do Shopping Popular da Madrugada.

 

Os organizadores do shopping do Brás orientam os cerca de 25 mil compradores, que chegam diariamente em 240 ônibus, para um retorno antecipado, já prevendo tempo ruim após às 16 horas. "Antes, as pessoas partiam entre 16 e 18 horas. Agora, vão embora no máximo às 14 horas. As pessoas têm medo de perder a mercadoria em alagamentos", disse Ferreira, que recebe cerca de 12 mil consumidores por dia, quando a chuva é muito forte.

 

Os bares e lanchonetes da periferia também estão perdendo dinheiro, segundo o diretor da Femsa. "Muitos deles estão funcionando só até o meio dia para não pegar a chuva. O caminhão da Coca-Cola passa para entregar e não tem quem atenda." Para a Femsa, esse pequeno comércio representa 70% do faturamento - os super e hipermercados são 30%. "Já houve ocasião em que a rua estava alagada ou que o bar estava debaixo d'água. Mas quando é possível fazer a entrega estamos deixando, por exemplo, 12 ou 15 caixas de refrigerantes e cerveja em vez das 10 que o comerciante normalmente compra. A intenção é garantir um estoque", diz Bichara. Mas mesmo com as mudanças na logística, a empresa sofre de "ruptura na entrega". "Normalmente atendemos 100% dos pedidos. Mas agora cerca de 0,7% dos pontos de venda da capital não estão recebendo mercadoria." O prejuízo tem sido compensado pelo consumo aquecido de bebidas nos últimos meses.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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