Chuvas afetam pequenos e grandes negócios

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Tragédias: Feirantes, construtoras e transportadoras acumulam perdas

 

O resultado de 36 dias seguidos de temporais na grande São Paulo é dramático para pequenos e grandes negócios de diferentes setores. Os alagamentos cotidianos representam prejuízo atrás de prejuízo. E o horizonte da capital paulista se mantém encoberto, preocupando ainda mais os empresários. As fortes pancadas de chuvas devem continuar até março por causa do "el niño" e do aquecimento do oceano Atlântico na costa Sudeste, alerta o Centro de Gerenciamento de Emergência (CGE) da prefeitura.

 

"É comum chover bastante nesta época do ano, mas o índice pluviométrico é recorde desde julho do ano passado, porque o 'el nino' estacionou frentes frias mais ativas no Sul do país até São Paulo e o Atlântico está até 2C mais quente. Tudo isso deixa o tempo mais abafado e úmido. O resultado é chuva intensa, que não vai parar até março", explica Michael Pantera, meteorologista do CGE. A média mensal de chuvas de janeiro em São Paulo é de 239 milímetros; o aguaceiro superou 420 milímetros até terça-feira.

 

As chuvas acima do normal causaram transtornos às empresas de construção civil. Desde a entrega de mercadorias até a execução da obra, praticamente todo o ciclo do setor foi afetado. Entretanto, entidades que representam construtoras e incorporadoras paulistas descartam o risco de um atraso em massa na entrega de empreendimentos nas áreas atingidas pelos temporais. "Pode haver um atraso de 15 ou 20 dias, mas isso não deve ser generalizado e ainda pode ser contornado pelas empresas", afirma o presidente do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), João Crestana.

 
 
Além da possibilidade de recuperação de atrasos em determinados casos, as construtoras contam ainda, a seu favor, com uma cláusula presente em todos os contratos, que prevê a possibilidade de revisão de cronograma em caso de "chuvas anormais". "Todas as obras têm um período de carência, o que ajuda em momentos como o atual", diz o diretor de economia do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), Eduardo Zaidan.

 

Conforme Crestana, janeiro e fevereiro são meses já conhecidos pela indústria em razão das quedas d'água e, portanto, raramente compreendem a etapa de fundação das obras. "Os cronogramas já levam isso em consideração e as construtoras evitam programar a fundação ou grandes movimentações de terra em período mais chuvoso", explica.

 

Apesar da flexibilidade do cronograma, as construtoras não têm conseguido evitar prejuízos com materiais atingidos pelos temporais e com gastos com pessoal apesar da impossibilidade de execução da obra em períodos de chuva. "Todo mundo perde", afirma Zaidan. Houve caso, segundo ele, de empresa que contratou um guindaste, cujo aluguel é cobrado por hora, e teve de pagar inclusive pelo período em que o equipamento estava parado no congestionamento provocado por pontos alagados. "Há todo tipo de percalço", reitera.

 

Pelo agravamento das condições do trânsito na cidade, o setor de transportes é dos que mais perdem. A sede do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo (Setcesc), na zona leste da capital, ficou ilhada pela chuva que atingiu a cidade na terça-feira. Lá dentro, quase cem empresários do ramo aproveitaram o tempo extra para comentar o estrago que os temporais estavam causando nos seus negócios: caminhões parados, empresas isoladas por dias inteiros, prazos perdidos e queda de receita.

 

Rogério Helou, diretor do Setcesc, é dono da RCC Transportes, que faz até 1.700 entregas diárias com uma frota de 80 veículos - a maior parte na Grande São Paulo. Ele calcula que o mau tempo está atrasando 20% das entregas, em média, mas houve dias em que nenhum caminhão saiu da transportadora. O impacto na receita, diz, é muito maior.

 

Além de a mercadoria não ser recolhida no fornecedor - logo, o frete não é faturado -, o atraso exige a contratação de 20 a 30 carros no dia seguinte, além da frota regular, para dar conta da carga. Isso aumenta os custos, mas não necessariamente resolve o problema. "A carga se acumula ao longo dos dias e fica tudo para ser entregue no sábado, quando muitos clientes não recebem mercadorias. E na semana seguinte, chove de novo", diz.

 

Algumas empresas também devem enfrentar dificuldades devido a contratos que estipulam tetos máximos de atraso, sob pena de multa ou rescisão. Nesse caso, diz o diretor do sindicato, os empresários terão que apelar para cláusulas de "força maior" para justificar as dificuldades.

 

Atingida por enchentes nos últimos meses, a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), que movimenta R$ 15 milhões por dia, teve prejuízo de R$ 700 mil em três alagamentos, resultado de, principalmente, melancias e abacaxis boiando na água suja e depois depositados diretamente no lixo. Mas Valdir Watanabe, dono de uma banca de frutas, explica que a perda maior é indireta. "Depois de cada enchente ficamos até dois dias parados, sem vender, esperando a limpeza do pavilhão. Também tem a desconfiança do consumidor, que acha que aproveitamos produtos que tiveram contato com a água", conta Watanabe.

 

Vinicius Ferraz, gerente da Ceagesp, diz que hoje se reunirá com representantes do governo estadual e da prefeitura para discutir a construção de piscinões no entreposto para minimizar as enchentes causadas pela inundação na marginal do rio Pinheiros. Ferraz também conta que vai entregar projetos ao Ministério da Agricultura para alçar o piso de três pavilhões que ficam no nível da marginal. O primeiro projeto está orçado em R$ 60 milhões e o segundo, em R$ 100 milhões. A partir de hoje, prefeitura e Sabesp iniciam força-tarefa para limpeza de galerias, bueiros e bocas de lobo.

 

Além dos prejuízos materiais, as fortes chuvas fizeram 64 vítimas em todo o Estado. A Defesa Civil informou ontem que, desde 1º de dezembro, mais de 23 mil pessoas tiveram que deixar suas casas por causa dos temporais. Até terça-feira eram 4,7 mil desabrigados e 18,6 mil desalojados.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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