Preços de produtos industriais no atacado voltam a subir, indica IGP-M

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A deflação de preços no atacado acabou. A variação de 0,51% na segunda prévia do Índice Geral de Preços Médio (IGP-M) de janeiro, superior ao 0,27% registrado na primeira coleta da Fundação Getulio Vargas (FGV), sinaliza, segundo economistas, o fim do período de preços negativos no atacado - regra que se instalou após o acirramento da crise mundial. Os bens industriais foram os principais responsáveis pela mudança de trajetória do IGP-M, entre o fim de 2009 e o começo deste ano.

 

Para os analistas, a recuperação dos produtos industriais - que oscilam menos que os bens agrícolas no atacado - não será revertida ao longo do ano. Segundo Laura Halayi, especialista de inflação do Itaú Unibanco, a mudança de trajetória nos IGPs "demorou para ocorrer". Para ela, a alta de 0,53% do IPA industrial veio até abaixo do que se estimava. "Quando, a partir de setembro do ano passado, a atividade começou a se recuperar fortemente e, com ela, os preços no atacado, imaginávamos que a era deflacionária tinha acabado", diz.

 

Nos últimos dois meses do ano passado, o IPA industrial registrou quedas superiores a -0,1%. O sinal só foi invertido neste ano, quando alcançou 0,36% na primeira prévia de janeiro. Na segunda prévia, divulgada ontem, a alta de preços se ampliou: 0,53%.

 

No varejo, a alta de preços de bens industriais já ocorria no fim do ano passado. Segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), móveis e utensílios, que já acumulavam alta de 6% até setembro - período em que a economia deixou a recessão pós-crise e passou a ganhar velocidade -, aumentaram mais 1,6% nos últimos três meses do ano. Ao todo, os móveis e utensílios domésticos ficaram duas vezes mais caros que o conjunto de artigos residenciais, que variaram 3% no ano. Outros, como eletrodomésticos e equipamentos, que fecharam 2009 em quedas superiores à variação do IPCA, viram a deflação acumulada até setembro ser parcialmente revertida no quarto trimestre. Os eletrodomésticos chegaram a cair -4,8% até junho, mas registraram alta de quase 1% entre outubro e dezembro.

 

Após a recuperação de preços, em setembro e outubro do ano passado, foi a queda dos produtos alimentícios e bebidas industrializados que influenciou a deflação no atacado. No mês passado, o IGP-M ampliou o tombo nos preços de carnes industrializadas, que passaram de -0,98% para -1,7%. Mesmo movimento do açúcar, que caiu -1,22% e -2,05% nos dois últimos meses do ano passado. "O açúcar reverteu rapidamente a queda", diz Laura. No IGP-10, capturado entre os últimos 20 dias de dezembro e os primeiros dez dias de janeiro, o açúcar já acumulava alta de 6,22%. "Como os alimentos industrializados pararam de cair, abriram espaço para que outros itens puxassem as altas", avalia a analista.

 

Para o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, o alívio dado pelos preços no atacado ao comércio varejista terminou. Mas, segundo Borges, a alta nos IGPs só alcançará o varejo no segundo semestre. "A demanda final, representada pelo consumidor, demorou a alcançar a indústria, que tinha constituído grandes estoques antes da crise", afirma. Foi a partir de meados do ano passado que a produção industrial se intensificou, diante da crescente alta do consumo, estimulado pela melhora do mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, o governo federal isentou montadoras, fábricas de eletrodomésticos da linha branca e fabricantes de móveis da cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o que barateou o produto final.

 

"Ainda há ociosidade na indústria, especialmente quando olhamos o setor de bens intermediários, que são centrais na formação de preços por indicarem gargalos de oferta e pressão nos custos", afirma Borges. Segundo dados da LCA, o nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) das fábricas de bens intermediários fechou o ano passado em 84%, três pontos percentuais abaixo da média registrada pelo setor entre 2003 e 2008. Há recuperação, uma vez que o Nuci do setor chegou a mergulhar dez pontos após as turbulências mundiais - chegou a 77,5% em fevereiro de 2009. "Mas a recuperação dos intermediários, que estão no meio da cadeia produtiva, é mais lenta", avalia Borges, para quem o hiato do produto será fechado entre o segundo e o terceiro trimestre deste ano.

 

Segundo Rafael Baccioti, economista da Tendências Consultoria Integrada, a alta de preços verificada no varejo, no fim do ano passado, permite elevações no atacado. Mas, segundo ele, as elevações verificadas nas duas primeiras prévias do IGP-M no ano se dão em ritmo "pontual", uma vez que o consumo, por fatores sazonais, é forte. "Estamos acelerando o crescimento e há recuperação da atividade, mas a alta no atacado não deve continuar neste ritmo ao longo do ano", avalia. Segundo o economista, o IGP-M deve deixar o terreno negativo de 2009, quando fechou a -1,72%, mas a alta em 2010 não será superior à variação do IPCA - 3% e 4,2%, respectivamente.
 


Veículo: Valor Econômico


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