Preços no País assustam estrangeiro

Leia em 4min 40s

Pesquisas e consumidores descobrem que vários produtos estão mais caros no Brasil do que no exterior

 

Vânia Serafin, 28 anos, chegou no início de janeiro ao Brasil para um estágio de oito meses e procura um lugar para viver na região da Avenida Paulista, em São Paulo. Ela reclama que há poucas opções e está assustada com os preços. Só conseguiu flats por cerca de R$ 1,7 mil. Vânia conta que em Lisboa é possível dividir um apartamento com um amigo - numa boa região, com quarto separado e contas incluídas - por 200, cerca de R$ 500.

 

A experiência da publicitária portuguesa está longe de ser exceção. Estrangeiros que chegam ao País e brasileiros que vivem no exterior sentem no bolso o "preço do sucesso" brasileiro. Queridinho da vez dos mercados internacionais e uma das primeiras economias a sair da crise, o Brasil está na moda e cada vez mais caro.

 

O índice Big Mac, criado pela revista The Economist e uma das medidas mais conhecidas de comparação de preços entre países, demonstra isso. O sanduíche do McDonald"s está custando US$ 4,02 no Brasil, mais caro que nos Estados Unidos (US$ 3,57), no México (US$ 2,39) e na Argentina (US$ 3,00). Só perde para os US$ 4,62 cobrados na Europa.

 

Um levantamento da consultoria Euromonitor, feita a pedido do Estado, detectou que os preços de vários produtos no País estão entre os mais altos do mundo. O quilo de iogurte custa US$ 2,90 no Brasil, o mesmo que na França. O quilo de comida de bebê fica em US$ 12,30, comparado com US$ 8,10 no Reino Unido. E o papel higiênico brasileiro está entre os mais caros do mundo: US$ 4,40 o quilo, ante US$ 3,30 nos EUA e US$ 3,80 na França.

 

A consultoria cruzou os dados de tamanho do mercado pelo volume vendido e encontrou um custo médio. No Brasil, a classe C cresceu e ganhou das empresas lançamentos específicos, mais baratos, o que reduz o preço médio. Ainda assim, a comparação com os valores praticados nos países da Europa e nos EUA não favorece o País.

 

A diferença de custo de vida chama mais a atenção da parcela da população brasileira que viaja ou vive no exterior. Priscilla Raunaimer Carneiro, 32 anos, mora no sul da Itália com o marido, Fillipo. O casal tem uma loja de produtos brasileiros. Compraram recentemente um sofá-cama por 200 (R$ 500). No site de uma da grande varejistas de móveis de São Paulo na semana passada, um sofá-cama custava R$ 1,6 mil. "No Brasil, não há opção de comprar móveis de boa qualidade e gastar pouco", disse Priscilla.

 

Segundo Julio Callegari, economista do JP Morgan, as pessoas estão percebendo intuitivamente os efeitos da valorização da moeda brasileira. Uma série do Banco Central (BC) - que compara o real com as moedas dos parceiros comerciais - aponta que o câmbio, descontada a inflação, está 1,7% acima do que valia em novembro de 2008, antes da crise. Por esse critério, o real está 20% acima da média histórica (desde 1988) e apenas 4,4% abaixo de dezembro de 1998 - último mês de câmbio fixo do Plano Real.

 

Mas não é apenas o fator cambial que explica as diferenças de preço. No Brasil, os consumidores estão confiantes e a demanda segue forte, enquanto outros países enfrentam recessão. O mercado imobiliário é um caso exemplar. Foi nesse setor que começou a bolha nos EUA, mas o Brasil, particularmente São Paulo, ainda experimenta um "boom".

 

Quem vive fora do País também reclama das despesas do dia a dia por aqui. Dizem que não existem "lojas de desconto", que são comuns no exterior, e que os produtos importados e de marca custam "caríssimo". Vânia comprou em Portugal um relógio Swatch por 80 (cerca de R$ 200) e viu o mesmo produto aqui por R$ 480. "Só tenho roupas da Zara e me disseram que é quase uma loja de luxo no Brasil", disse.

 

SERVIÇOS

 

Alguns serviços também podem ser um problema - embora ainda seja muito mais barato contratar uma babá, uma faxineira ou ir à manicure no Brasil. Alexandre Castello Branco, 34 anos, é supervisor de auditoria da PricewaterhouseCoopers, em São Francisco, nos EUA, e esteve no Brasil em agosto de 2009. Ele reclama que gastava mais de R$ 70 para sair para jantar em São Paulo. "Não custa mais que R$ 35 em lugares do mesmo padrão em São Francisco", disse. A alimentação fora de casa foi um dos itens que mais subiu no Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) no ano passado.

 

A jornalista Rachel Verano trabalha como freelancer, viveu na Europa e passou o último ano viajando com o marido pela Ásia. Apaixonada por mergulho, ela conta que visitou os melhores lugares do continente e garante que não gastou mais de 70 em cada passeio, cerca de R$ 180. De férias no Brasil, foi mergulhar em Fernando de Noronha e pagou R$ 300. "Fiquei chocada. O custo de vida no Brasil está igual ou mais caro que na Europa."

 

Pelo menos pelas sandálias Havaianas os brasileiros continuam pagando menos que os gringos. Priscilla compra por R$ 10 o par no centro de São Paulo e vende na sua loja na Itália pelo equivalente a R$ 50.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


Veja também

Brasil recupera mercados na Argentina

Comércio exterior: Restrições foram amenizadas e setores como calçados e pneus sentem reflex...

Veja mais
Alimentos puxam expansão do comércio

O comércio varejista teve, em 2009, um desempenho melhor que o esperado no começo do ano e acumulou expans...

Veja mais
Exportação faz crescer distância entre varejo e indústria em 2009

No ano passado, até novembro, comércio vendeu 5% mais, mas indústria produziu 10,6% menos   A...

Veja mais
Vendas no comércio têm 7ª alta seguida

Calor e corte do IPI puxaram vendas de eletrodomésticos em novembro   O aumento da temperatura ajudou a el...

Veja mais
Indústria de alimentos vai liderar crescimento

Empresas de bens não-duráveis preveem crescer 10,6%, diz FGV   A indústria de bens de consum...

Veja mais
FGTS perdeu para a inflação

Pelo segundo ano consecutivo, em 2009 o dinheiro do trabalhador depositado no Fundo de Garantia do Tempo de Serviç...

Veja mais
Paulistanos preferem fazer compras à vista, diz pesquisa

Mesmo com oferta de crédito disponível, o paulistano gosta é de pagar à vista, segundo levan...

Veja mais
Crise leva inflação oficial a ter a 2ª menor taxa do regime de metas

IPCA de 2009 ficou em 4,31%, abaixo da meta oficial, influenciado pelo dólar baixo e pelo freio no preço d...

Veja mais
Fundos veem estabilidade econômica em 2010

Os administradores dos principais fundos de pensão brasileiros apostam na estabilidade e no crescimento da econom...

Veja mais