Remessa de lucro pode ser recorde em 2010

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Conjuntura: Com real valorizado, envio de dinheiro para as matrizes de multinacionais pode atingir até US$ 38 bi

 

As remessas de lucros e dividendos ao exterior voltaram a crescer no fim de 2009, trajetória que deve se acentuar ao longo deste ano, segundo analistas. Em novembro, as despesas com essas remessas superaram as receitas em US$ 2,012 bilhões, o maior valor mensal do segundo semestre do ano passado, mas ainda abaixo dos US$ 3,028 bilhões de junho de 2009 ou do recorde de US$ 4,345 bilhões de março de 2008. Com a expectativa de crescimento mais forte da economia em 2010, na casa de 6%, os ganhos das empresas devem aumentar, ao mesmo tempo em que as companhias tendem a aproveitar o câmbio valorizado para enviar mais dinheiro para as matrizes, a maioria delas localizadas em países ainda em retração econômica. Com a moeda fortalecida, os reais obtidos nos negócios no Brasil compram mais dólares.

 

Algumas previsões apontam um nível recorde de remessas em 2010, acima da máxima histórica de US$ 33,9 bilhões, atingida em 2008. O Banco Safra de Investimento projeta o envio de US$ 38 bilhões pelas empresas neste ano, enquanto o Itaú Unibanco aposta em US$ 34,2 bilhões. A MB Associados e a Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização (Sobeet) estimam números um pouco menores - US$ 32 bilhões e US$ 30,2 bilhões -, mas ainda assim bem superiores aos cerca de US$ 22 bilhões previstos para o ano passado - o número de dezembro será divulgado na quarta-feira. Quem projeta número menores acredita que parte dos lucros será reinvestida no Brasil - situação que pode ocorrer no segmento automobilístico, onde várias montadoras já anunciaram planos para elevar a capacidade instalada.

 

Em 2009, o setor automobilístico e o financeiro foram os que mais enviaram dinheiro ao exterior. De janeiro a novembro, o segmento de veículos automotores, reboques e carrocerias remeteu US$ 1,978 bilhão e o de serviços financeiros e atividades auxiliares, US$ 1,554 bilhão, segundo as estatísticas do Banco Central (BC), que consideram as operações de investimentos estrangeiros diretos acima de US$ 1 milhão e excluem o pagamento de dividendos de ações.

 

Para o economista-chefe da MB, Sérgio Vale, esses setores devem continuar a liderar o volume de remessas neste ano. Além de serem dois dos que mais devem se beneficiar da forte expansão do mercado interno, as matrizes de montadoras e bancos continuam a enfrentar dificuldades, diz ele. O Como a operação brasileira nesses segmentos é uma das mais rentáveis do mundo, uma parte expressiva dos ganhos deve ser remetida para os controladores, avalia.

 

"Acredito que a indústria automobilística, a farmacêutica e alguns segmentos que fabricam eletrodomésticos e eletrônicos poderão fazer as maiores remessas", aposta o economista-chefe do Safra, Cristiano Oliveira, referindo-se a setores ligados ao desempenho do mercado doméstico.

 

O presidente da Sobeet, Luís Afonso Lima, tem uma visão um pouco diferente sobre o que fará o setor automobilístico neste ano. Ele observa que várias montadoras têm anunciado planos ambiciosos de investimento no país para os próximos anos, dada a força do mercado brasileiro. "É possível que essas companhias enviem uma parcela menor de seus ganhos para as matrizes, preferindo reinvestir um volume maior de seus lucros", diz Lima. No caso do setor financeiro, a má situação das matrizes, especialmente dos bancos americanos, manterá as remessas em níveis elevados, acredita ele. Para Vale, setores de infraestrutura também poderão reaplicar no país parte de seus ganhos, porque os investimentos nessa área tendem a aumentar nos próximos anos. Haverá a Copa do Mundo em 2014 e a Olimpíada em 2016.

 

No entanto, ainda que um ou outro segmento reinvista mais ganhos no Brasil, a aposta generalizada é na aceleração das remessas em 2010. A combinação de crescimento mais forte dos lucros, num cenário de expansão acelerada do Produto Interno Bruto (PIB), e de um câmbio ainda valorizado é um poderoso incentivo nessa direção.
 

 


Veículo: Valor Econômico


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