Indústria sinaliza forte alta do investimento

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Produção total cai 0,2% em novembro, resultado influenciado por automóveis e setor extrativo


   
A produção industrial de novembro mostrou estabilidade em relação a outubro, com pequena queda de 0,2%, na série que desconta fatores sazonais. A retração - que surpreendeu analistas - decorreu do efeito do tombo de 2,2% na produção de veículos automotores sobre o total da indústria - o segmento tem peso de 7 pontos no conjunto da produção nacional - e da retração de 0,7% no setor extrativo. Olhando apenas a indústria de transformação, ela manteve a trajetória de alta e teve produção 1,4% maior no mês em relação a outubro. Os dados de novembro embutem, também, uma expressiva alta de 6,1% na produção de bens de capital, segmento que acumula, em três meses, crescimento de 16,9%.

 

Os dois resultados da produção industrial de novembro - a pequena retração de 0,2% no total e o forte crescimento de bens de capital - confirmam a trajetória da economia brasileira delineada no Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre: crescimento forte, porém não explosivo em bens de consumo, e uma importante retomada de investimentos, garantindo ampliação da oferta futura do setor industrial.

 

Na média móvel de novembro (comparação entre os três meses terminados naquele mês com o trimestre fechado em agosto), a produção de máquinas e equipamentos teve a maior expansão em cinco anos - 5,4%, menor apenas que os 7,9% registrados no período entre setembro e novembro de 2003. Na época, a atividade estava em aceleração, movimento que levaria o PIB dos 1,1% registrados em 2003 para os quase 6% de 2004. A situação hoje é muito semelhante, segundo as projeções de bancos e consultorias, que esperam um PIB próximo a zero em 2009 e um crescimento entre 5% e 6% em 2010.

 

Assim, a queda de 0,2% na produção industrial em novembro sobre o mês anterior, muito influenciada pela retração de bens de consumo duráveis (-4,8%) não altera o ritmo da economia. Os fabricantes, avalia Luiza Rodrigues, economista do Santander, "estão prevendo problemas de capacidade instalada num futuro próximo, então, nada mais natural que comecem a ampliar a compra de máquinas". O nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) do setor de bens de capital chegou a cair 15 pontos percentuais entre o patamar pré-crise (88,4% em agosto de 2008) e o vale pós-crise, (73,1% em maio do ano passado), segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

 

Segundo Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, itens importantes para sustentar crescimento sem gerar descontinuidade entre demanda e oferta, como materiais de construção, experimentavam crescimento forte nos últimos meses do ano passado. O economista calcula que a produção de insumos para construção civil cresceu 3,2% entre outubro e novembro, com ajuste sazonal, o valor mais forte em 22 meses.

 

"A confluência de fatores, entre consumo em alta e queda nos estoques do varejo e da indústria, permitiu melhora das condições para os fabricantes de bens de capital", avalia Bicalho. Para ele, essa melhora produtiva - refletida pelo aumento de quase cinco pontos percentuais do Nuci entre maio e novembro do ano passado - é verificada também quando se analisa a importação de máquinas, que aumenta em ritmo semelhante à produção nacional. Em relação ao mês anterior, a importação de bens de capital cresceu 5,4% em outubro e 8,8% em novembro. Para Bicalho, a tendência é que ambos, produção e importação, continuarão subindo, o que ajudará a sustentar o crescimento de quase 6% no PIB estimado para este ano.

 

A produção mais moderada de bens de consumo - queda de 0,6% em semi e não duráveis e retração de 4,8% em bens duráveis em relação a outubro - também reforça a avaliação de que parte da demanda doméstica tem sido atendida por produtos importados. Em novembro, o volume importado de bens de consumo não duráveis subiu 3,4% em relação a outubro, enquanto a importação de bens duráveis foi 5,1% maior na mesma comparação.

 

A retração de 0,2% na produção industrial interrompe uma sequência de dez meses seguidos de crescimento, mas ao mesmo tempo sucede a forte alta de 2,3% registrada em outubro. Setorialmente, a queda de 2,2% em automóveis veio depois de uma forte alta de 11,2% em outubro e de 107% mês a mês, de janeiro até novembro.

 

Na comparação com novembro de 2008, a indústria geral cresceu 5,1%, fruto de expansão de 1,2% na indústria extrativa e de 5,3% na de transformação. A comparação, no entanto, é impactada pela base rebaixada, uma vez que o último trimestre de 2008 foi muito afetado pelos efeitos recessivos da crise mundial. Com a taxa de menos 0,2% observada no total da indústria entre outubro e novembro, depois de aumento de 2,3% no mês anterior, o patamar de produção ficou 5,9% abaixo do recorde atingido em setembro de 2008.

 

No acumulado entre janeiro e novembro do ano passado, 23 das 27 atividades industriais pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registraram retração, quando comparadas com os primeiros 11 meses de 2008. A menor fabricação de veículos automotores (-17,1%) continuou exercendo o impacto negativo mais importante, seguida por máquinas e equipamentos (-22,0%), metalurgia básica (-20,3%) e material eletrônico e equipamentos de comunicações (-28,3%). Entre as atividades que cresceram, os destaques foram farmacêutica (7,2%) e bebidas (6,9%).

 

"A queda de 0,2% em novembro pode ter um efeito psicológico entre os agentes, que apostavam em elevações contínuas, mas não deve mudar a percepção de melhora geral na indústria brasileira, que se recupera fortemente", avalia Luiza, do Santander. Para ela, o resultado serviu para demonstrar que a indústria automobilística não contribuirá neste ano da mesma forma que fez em 2009, quando o governo incentivou fabricantes - com redução de impostos - e consumidores - com facilitação do crédito público. "Teremos um ano mais equilibrado", diz.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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