Transporte e alimentos pressionam prévia do IPCA

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Conjuntura: Aceleração não contagia inflação do ano, dizem analistas


   
Após três meses com elevações na casa de 0,2%, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) registrou alta de 0,44% em novembro, pressionado por uma alta de 0,95% dos transportes e de 0,39% dos preços de alimentos e bebidas, que saíram de uma deflação de 0,25% no mês passado. A aceleração do IPCA, no entanto, não contagia a inflação no ano. Segundo números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) , o IPCA-15 acumulado em 12 meses teve desaceleração de 4,15%, em outubro, para 4,09%, em novembro.

 

Para os analistas consultados pelo Valor, o IPCA entra agora em trajetória de alta, que deve alcançar o pico nos primeiros três meses de 2010, antes de perder velocidade, a partir de abril. Assim, a tendência, segundo os economistas, é que a inflação medida pelo IPCA - que baliza a política monetária do governo - fique dentro da meta de 4,5%, perseguida pelo Banco Central, neste e no próximo ano.

 
 
"A aceleração em alimentos e bebidas era esperada, mas acabou surpreendendo pela intensidade", afirma Fábio Romão, analista da LCA Consultores. Segundo Romão, a pressão nos preços, sentida desde o início do segundo semestre no atacado, chegou atrasada ao varejo. O IPCA-15 mede a última quinzena de um mês e a primeira do seguinte. No IPCA-15 de outubro, que mede o período entre 15 de setembro e 15 de outubro, o item alimentos e bebidas ainda caminhava em terreno negativo, tendo registrado deflação de 0, 25%. Por ser o conjunto de preços mais representativo na composição do IPCA - alimentos e bebidas representam 22,9% do índice - o movimento de preços neste grupo de produtos acaba influindo decisivamente nas oscilações da inflação oficial. Ou seja, quando registra variação negativa, puxa o IPCA para baixo, e vice-versa.

 

Na abertura por produtos, a aceleração nos alimentos foi verificada nos bens in natura: tomate (26,99%), cebola (19,05%) e batata inglesa (9,63%). Estes, segundo Gian Barbosa, economista da Tendências Consultoria, não caracterizam risco, uma vez que "são muito voláteis". "Alimentos in natura normalmente aumentam muito num determinado período e, em seguida, sofrem um tombo muito grande. Essa alta em novembro deve ser revertida já em dezembro."

 

O subgrupo transportes, que registrou a maior elevação no período - superior a vestuário (0,63%) e artigos de residência (0,53%) - foi sustentado por aumento em passagens aéreas e no preço de automóveis novos. No IPCA-15 do mês passado, o grupo marcou alta de apenas 0,18% - nos dados deste mês a alta foi de 0,95%. "O preço das tarifas cobradas pelas companhias aéreas voltou com tudo. Nas promoções de setembro e outubro, elas tinham caído 12,3%. Agora subiram 18,3%", afirma Romão. A alta de 30 pontos percentuais em 30 dias pode ser explicada pela proximidade do período de férias.

 

Além das passagens aéreas, os combustíveis, como álcool e gasolina, contribuíram para a alta da inflação. "Os bens duráveis tiveram aumento de preços, como os carros novos, que saíram de deflação para uma alta de 1,11%. Mas é um movimento pontual, que já estava precificado pelo mercado", avalia Francis Kinder, economista da Rosenberg & Associados. Para ele, o IPCA-15 deste mês repercute a alta de diferentes fatores "que devem se repetir nos próximos meses, até com maior intensidade, mas nada que o mercado e o BC não esperam", avalia.

 

No primeiro trimestre do ano que vem, a perspectiva é de níveis superiores do IPCA. Segundo José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Fator, o reajuste das tarifas de transporte público em diferentes capitais e a elevação do IPTU em São Paulo já em janeiro, além do aumento sazonal de preços de itens relativos à educação, em fevereiro, devem afetar negativamente a inflação medida pelo IPCA. "O aumento de transportes veio agora e deve vir maior em janeiro, mas depois não aumenta mais. Os alimentos, por sua vez, dependem de safra, clima, câmbio, preços internacionais de commodities, e tudo conspira para um ano melhor em 2010. Não tem risco de inflação. O ano que vem está contratado", afirma.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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