Máquina de Vendas estuda "turbinar" cartão

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A holding Máquina de Vendas, empresa formada por Ricardo Eletro e Insinuante, líderes de vendas no nordeste do País, planeja lançar um novo modelo de crediário, ampliando os serviços já oferecidos pelo cartão da loja. A ideia da holding é trazer ao público um novo formato do já conhecido crediário, com o cartão private label. A informação, que os diretores da rede preferem não comentar por estar em fase de estudo, já é apontada por especialistas da área um tiro certeiro da holding. "A Máquina de Vendas já tem um cartão próprio, e arriscar abrir um com bandeira de outro banco é uma tendência em todos os segmentos do varejo, e eles não ficariam de fora", afirmou Giovanni Fundra, professor de Economia e Finanças da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

 

Para o professor, a saída, que não é exclusividade da Ricardo Eletro e da Insinuante, servirá para dar ao consumidor ainda mais poder de compra. "A novidade desse tipo de produto é dar ao cartão mais poder de compra do que o do cartão de crédito comum dos bancos, além de funcionar como o cartão normal, que eles já possuem", afirmou.

 

De acordo com o professor, enquanto um cartão de crédito concede em média limite de 80% da renda do consumidor para o total da compra, um cartão dado por lojas varejistas pode permitir que ele comprometa por mês até 30% da sua renda com a parcela, o que ao fim resulta em um crédito mais elevado. "No caso de um cliente ter renda de R$ 1.000, o cartão lhe concede R$ 800 de crédito; no nosso novo crediário ele poderá gastar por exemplo R$ 3.000, desde que a parcela fique em até R$ 300, num pagamento em dez meses", explica.

 

O parcelamento nos cartões de crédito ou de loja pode ter custo menor do que o do carnê. Como o risco da inadimplência no crediário fica por conta do varejista, há normalmente juros embutidos na operação. Já no cartão muitas vezes é possível comprar sem juros, porém em menos parcelas.

 

Na Casas Bahia, por exemplo, um fogão de quatro bocas é vendido por R$ 399 à vista ou em até cinco vezes sem juros no cartão da loja. Já no pagamento com o carnê, pode ser feito em 20 parcelas de R$ 29,90, mas o valor total pago sobe para R$ 598. "Quando o consumidor não consegue pagar o valor integral do cartão na data do vencimento, os juros são os maiores do mercado, e é por isso que há uma necessidade enorme de planejar muito bem novas aquisições", alertou Fundra.

 

Private labbel não é novidade

 

Nas lojas Marisa o cartão Marisa respondeu por mais de 51,6% das vendas da companhia no primeiro trimestre de 2010, e não deve parar por aí. "O potencial dos serviços financeiros é enorme", afirmou Márcio Goldfarb, presidente da empresa. A aposta em vendas no cartão é tão alta que o grupo Marisa já vislumbra a venda de seguros de assistência massificada, como seguros de vida, planos de assistência odontológica e assistência a veículos.

 

"Esses produtos têm valor baixo unitário e grande volume de vendas e dependem de custos de distribuição reduzidos, cartões multifacetados é uma aposta crescente das grandes redes", disse Roberto Vertamatti, conselheiro da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). As expectativas de ampliação da Marisa este ano não são pequenas. As clientes terão 39 novas lojas para comprar com o seu cartão em 2010.

 

Já está confirmada a ampliação de 22 lojas e a inauguração de 11 novos pontos-de-venda focados em roupa feminina e seis Marisa Lingerie, em uma operação que irá demandar R$ 100 milhões em investimentos. Uma das principais regiões de interesse da empresa abrange do litoral do Rio de Janeiro a São Paulo, na região do pré-sal. "Queremos mais do que 39 lojas. Procuramos endereços de qualidade para crescer muito mais do que isso."

 

A postura da Marisa de apostar nas vendas em cartão não é uma exceção. Grandes varejistas, como C&A, Riachuelo e Pernambucanas, possuem seus cartões de crédito próprios, ou private label. Só no primeiro trimestre deste ano a Riachuelo anunciou que havia emitido 15,9 milhões de cartões próprios e a receita da área financeira foi de R$ 75,4 milhões, ou 20% do total. O objetivo é emitir meio milhão de cartões até o final do ano e 1 milhão em 12 meses.

 

Na concorrente Renner, havia 15,6 milhões de cartões em circulação em março, o que garantiu 56% das vendas nos primeiros três meses do ano. "O setor está aproveitando as oportunidades do mercado, pois o cartão é um indutor de vendas e aumenta a compra média por cliente", diz Mário Bernardes Júnior, analista da BB Investimentos.

 

A C&A e a Pernambucanas não divulgam seus números nem comentam o assunto, mas, segundo analistas de mercado, a participação dos serviços financeiros no faturamento e na última linha do balanço dessas empresas é relevante. "A grande frente de crescimento das empresa de varejo são exatamente as operações de cartão de crédito", diz Nelson Barrizzelli, professor de Economia da Faculdade de Economia da USP e consultor de mercado.

 

No caso da Máquina de Vendas, que deve entrar agora no mercado, o analista arrisca dizer que deve haver um crescimento de 10% do número de cartões ativos até o fim do ano, o equivalente à entrada de cerca de um milhão de novas unidades em operação. "A melhora no resultado dos cartões irá impulsionar as vendas da companhia".

 

Hoje no Brasil. com o crescimento de classes emergentes, a tendência do crédito com bandeira de bancos, com possibilidade de compras fora das lojas já é uma realidade. "Hoje as redes varejistas são responsáveis pela bancarização desta classe", afirmou o consultor. Para Fundra, os consumidores adotam o cartão de uma rede varejista antes de ter conta bancária, o que se aguçou o apetite dos grandes bancos. "O Grupo Pão de Açúcar já fez suas parcerias com os bancos Bradesco e Itaú nos últimos anos, e isso mostra que os bancos já começaram a procurar novos clientes dentro das varejistas."

 


Veículo: DCI


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