Construtoras criam obras de R$ 15,6 bi para vender a SP

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Plano viário tem 200 propostas para "servir de orientação" aos candidatos à prefeitura

 

Pacote abrange túneis, pontes, viadutos e avenidas; para especialistas, sugestões contrariam prioridade ao transporte coletivo

 

Algumas das principais construtoras do país criaram um plano de 200 obras viárias na cidade de São Paulo, ao custo estimado de R$ 15,6 bilhões, com a ambição de "servir de orientação às equipes dos candidatos" à prefeitura e de influenciar as decisões do poder público nos próximos anos.

 

Tratado como um banco de projetos para atenuar os gargalos do trânsito, abrange intervenções polêmicas, como a construção de um complexo de R$ 884 milhões com túneis no Morumbi e outro de R$ 254 milhões entre a rodovia Raposo Tavares e a marginal Pinheiros.

 

A estratégia do estudo contratado pelo sindicato que reúne as empreiteiras no Estado, na prática, é deixar as sugestões na prateleira para acelerar a tomada de decisões por novas obras de interesse direto da indústria da construção pesada.

 

O plano das construtoras é intitulado "São Paulo por um trânsito melhor". Na avaliação de cinco especialistas ouvidos pela Folha, a proposta de expansão da malha viária principalmente voltada para os carros vai na contramão da necessidade de restrição ao transporte individual e de prioridade ao coletivo.

 

Embora haja propostas de corredores e terminais de ônibus, a dimensão de investimentos direcionada para essa área se limita a 28% do total.
O custo para tirar todas as obras do papel é suficiente para construir de 80 a 100 km de metrô, o que mais que dobraria a rede atual, de 61,3 km.

 

O Sinicesp (sindicato da construção pesada), contratante do estudo, tem em sua diretoria representantes de empreiteiras como OAS, Queiroz Galvão e Camargo Corrêa. Na semana passada, já começou a contatar as equipes dos principais candidatos a prefeito para agendar a entrega do plano.

 

Técnicos entrevistados consideram que, no trabalho, há obras defensáveis, embora insuficientes para compensar a entrada superior a mil novos veículos por dia nas ruas. E avaliam ser grande a possibilidade de as apostas das construtoras serem usadas como diretrizes no município.

 

Primeiro, devido ao apelo popular que, desde as últimas décadas, estimula a realização de intervenções favoráveis aos carros -apesar das críticas. Segundo, pela falta de projetistas do município e pelo poder de influência das empreiteiras, segmento que costuma financiar campanhas eleitorais de diversos partidos.

 

Profissionais ligados ao Executivo e às construtoras relatam que algumas das principais obras viárias já feitas ou em discussão foram precedidas de sugestões das próprias empresas. Ou seja, a iniciativa das empreiteiras de propor as intervenções de seu interesse sempre existiu, mas nunca de forma tão ampla e detalhada.

 

Plano de construtoras prevê 54 viadutos, 44 avenidas e 18 pontes
 


Finalizado a pouco mais de um mês das eleições, documento tem projeções ilustrativas e estimativas de custo de cada obra

 

Das 200 intervenções, 58% são consideradas pequenas, com preço de até R$ 30 mi, e quase um terço já consta dos planos do poder público

 

"São Paulo por um trânsito melhor", o plano de obras viárias das construtoras para a capital paulista, contempla 54 viadutos, 18 pontes, 44 novas avenidas, 26 alargamentos ou duplicações, 36 passagens subterrâneas e 13 túneis.

 

O documento de 149 páginas tem projeções ilustrativas e estimativas de custo de cada uma das 200 obras. Foi finalizado a pouco mais de um mês das eleições, como resultado do trabalho de uma consultoria liderada por Francisco Moreno Neto, engenheiro e ex-professor da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo).

 

"O Estado brasileiro, em todos os níveis, perdeu a capacidade de formular projetos, de pré-desenhar a cidade. Opta por uma interlocução privilegiada com os grandes empreiteiros", afirma Raquel Rolnik, que já foi secretária de programas urbanos do Ministério das Cidades no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

 

Entre os projetos sugeridos pelas construtoras há, na região central, um "mergulhão" (seqüência de passagens subterrâneas) de R$ 323 milhões na avenida do Estado, do parque Dom Pedro até a avenida Cruzeiro do Sul.

 

"São obras tentadoras para quem anda de carro. Mas grande parte é pouco prioritária, num contexto em que há pouco dinheiro", diz Claudio Barbieri, professor do departamento de transportes da Poli-USP.
No transporte coletivo, há destaque para os 258 km de novas pistas exclusivas para ônibus, especialmente no corredor da 23 de Maio até a avenida Interlagos.

 


Alívio localizado

 

A proposta das empreiteiras não envolve só grandes obras: 58% delas são intervenções consideradas pequenas, pelo preço de até R$ 30 milhões.

 

Parte dos projetos recupera idéias antigas e quase um terço já consta também dos planos do poder público -como a criação de um corredor de caminhões na avenida dos Bandeirantes, de um túnel entre a avenida Jornalista Roberto Marinho e a rodovia dos Imigrantes, de uma pista auxiliar na marginal Tietê e de um corredor paralelo à via, do Piqueri à Casa Verde.

 

"As novas vias podem trazer alívios localizados. Mas, em São Paulo, viaduto é sempre a menor distância entre dois pontos congestionados", afirma Jaime Waisman, professor da USP.

 

As empreiteiras calculam ser possível executá-lo nos próximos quatro anos com uma reserva pouco superior a 10% do Orçamento da prefeitura, estimado em R$ 25 bilhões/ano.

 

Para tanto, seria necessário mais do que triplicar a expectativa de gastos em novas obras viárias pela gestão Gilberto Kassab (DEM) -que prevê até 2012 para o setor R$ 4 bilhões.

 

Veículo: Folha de S.Paulo


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