O caminho das rosas até São Paulo

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Sexta-feira, 9h45. Quando a advogada Patrícia Neves chegou ao trabalho, no Morumbi, foi surpreendida com um ramalhete de rosas vermelhas. O cartão trazia cumprimentos pelo seu aniversário de 28 anos. Mimo de suas colegas de empresa, foi um dos três mil buquês vendidos naquele dia na Capital.

 

Desnecessário dizer que Patrícia ficou feliz com o presente. É claro que, naquele momento, jamais passaria por sua cabeça o trajeto percorrido pelas rosas até as suas mãos. Mas o caminho foi longo.

 

Em Holambra, a 120 quilômetros de São Paulo, há cerca de 240 produtores de flores, na maioria descendentes dos holandeses que fundaram a cidade, em 1948. A cidade é conhecida pelo cultivo de plantas ornamentais. As rosas que Patrícia ganhou, da variedade vega, saíram de uma das três fazendas dos irmãos Van Rooijen.

 

É Bernardo Van Rooijen, o Benny, quem conta como funciona a produção. Após o plantio da muda, uma roseira demora um ano para começar a dar flores. Cada hectare de terra comporta de 40 a 60 mil pés. Em média, uma planta produz uma rosa a cada quatro dias e tem vida útil de cinco anos.

 

Benny emprega 70 funcionários que ganham cerca de R$ 600 por mês - além de moradia, já que ali há casas para os empregados. Fazem de tudo: plantam, podam, adubam, pulverizam venenos, colhem, classificam e embalam.

 

Silvana Pantaleão e Marina Aparecida estavam na colheita quando receberam a reportagem do JT. É uma cena poética. Andam pelos corredores entre as roseiras cortando os ramos e, quando terminam a fileira, têm nos braços um ramalhete bruto, que é depositado em um balde com água, para depois ser recolhido por um trator.

 

Silvana não faz idéia de quantas rosas colhe por dia. Fica feliz nos fins de semana. “Quando a gente pode levar umas para enfeitar a casa.” Marina não se esquece da única vez na vida que ganhou um buquê. Foi do marido, há exatamente uma década. “Era meu aniversário de 27 anos”, lembra. Na época, ela já trabalhava no cultivo de flores.

 

A colheita é levada para um barracão, onde funcionários aparam os caules e embalam as plantas. Depois, tudo é guardado em uma câmara fria, onde a temperatura não passa de cinco graus. À tarde, um caminhão passa e recolhe a produção. No dia seguinte, às 6h, haverá um leilão.

 

Logo na entrada, a placa anuncia: “veiling” significa leilão, em holandês. É o coração comercial da região. Numa área de 93 mil metros quadrados funciona uma estrutura européia, copiada da Holanda, de venda atacadista. Trezentos produtores são associados e escoam suas mercadorias por ali. Os leilões ocorrem diariamente. Só no ano passado o “veiling” vendeu 188 milhões de plantas e movimentou R$ 208,7 milhões.

 

Bolsa de flores

 

O mecanismo de vendas baseia-se em um sistema eletrônico, caótico como uma Bolsa de Valores. Cada lote é vendido em impressionante 1,8 segundo. Dois leiloeiros anunciam as mercadorias ao mesmo tempo no auditório onde ficam os compradores. É um leilão invertido. O valor começa alto e vai caindo, até surgir um interessado.

 

Na quarta-feira, estavam no martelo as flores colhidas na terça. Entre as compras do empresário Alipio Artuzi, destacavam-se 960 rosas de uma das fazendas dos Van Rooijen. Cada uma custou R$ 0,38. “O preço ideal para o produtor seria de pelo menos R$ 0,50”, reclama Benny. “Nosso custo ultrapassa R$ 0,30.” Mas ele concorda que basta um mês bom para compensar quando os preços não estão um mar de rosas. Perto do Dia das Mães, a unidade valia até R$ 0,90.

 

Alipio trouxe as mercadorias para a Capital no mesmo dia. Aos 43 anos, é considerado um bem-sucedido empresário do ramo. Trabalha com flores desde os 14: já plantou, vendeu e, desde 1991, tem sua empresa. “Nunca canso de ver uma flor bonita”, sorri. Vai pessoalmente ao veiling três vezes por semana. Na Cidade, vende em sua loja e na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), ambas na Vila Leopoldina, Zona Oeste. Há duas grandes feiras de flores na Ceagesp, às terças e sextas-feiras. Até oito mil pessoas costumam freqüentá-las.

 

Flores pela internet

 

A manhã ainda estava escura, às 6h de sexta-feira, quando a empresária Fátima Casarini foi às compras na Ceagesp. A Flores Online foi uma sacada dos filhos, que em 1998 sugeriram criar a primeira floricultura virtual brasileira. Deu certo. Em 2007, fez 120 mil entregas.

 

Na Ceagesp, reclama quando algum atacadista não traz o que ela precisa. No box de Alipio, ela comprou aquelas rosas vermelhas. Cada uma custou R$ 1,10. Há quatro anos, Cícero dos Santos é o carregador oficial de Fátima. Cobra R$ 15 o carreto - o preço é tabelado.

 

Às 7h30, as mercadorias chegam à floricultura. Ali, os 90 funcionários trabalham quase em linha de produção. Em 20 minutos, as flores viram um belo arranjo. Trabalho pronto, hora da entrega. O buquê recebido por Patrícia, a advogada do início da história, custou R$ 79. Daqui a menos de duas semanas, terão seu fim natural. E irão para a lata de lixo. Até o fechamento desta reportagem, porém, suas 18 rosas vermelhas iam bem.

 

 
Veículo: Jornal da Tarde


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