Europa em busca de respostas

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                                   Grécia recusa, nas urnas, austeridade imposta por credores e põe em xeque futuro do euro




Resultado do referendo será analisado em cúpula da zona do euro amanhã. Governo quer retomar negociações com credores imediatamente, e aposta sobre saída da moeda única divide economistas

Com 61,31% de votos “não” para novas medidas de austeridade, o premier grego, Alexis Tsipras, é considerado o vitorioso político do referendo. “Provamos que a democracia não pode ser chantageada”, disse na TV. A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, se encontram hoje para articular uma estratégia para a reunião de cúpula da zona do euro, marcada para amanhã.

Além disso, o Banco Central Europeu (BCE) decide se mantém ou não uma linha de crédito emergencial para o sistema bancário grego, que deve reabrir amanhã. Atenas prevê rápida retomada das negociações. Analistas de mercado elevam apostas numa possível saída da Grécia da zona do euro, enquanto economistas brasileiros veem solução pelo diálogo. O comparecimento às urnas foi alto — 62,4%, quase como o do pleito que, em janeiro passado, levou o partido Syriza ao poder (63,9%). Numa votação histórica, a Grécia mandou à Europa uma mensagem contra a austeridade e pela soberania nacional.

A apuração das urnas mostrou que 61,31% dos gregos disseram “não” às propostas europeias que significariam mais cortes e ajustes na já combalida economia grega. Os eleitores do “sim” foram 38,69%, com apenas 5,8% de votos brancos ou nulos. Esse resultado deixou sem respostas a União Europeia (UE), já dividida internamente sobre o futuro das negociações para salvar — ou não — Atenas de uma iminente bancarrota. Em meio a discursos desencontrados, líderes da zona do euro concordaram em um ponto: realizar amanhã uma reunião de emergência em Bruxelas para tentar debater os próximos passos. O governo grego defende que o “não” lhe dará mais força na negociação, mas resta saber se os credores aceitarão dar mais ajuda sem exigir a contrapartida das reformas.

— Provamos que a democracia não pode ser chantageada. A vitória do “não” é o mandato do qual precisávamos para buscar uma solução viável — comemorou o premier grego, Alexis Tsipras, considerado o grande vitorioso político do plebiscito.

Analistas insistiam que o triunfo do “não” nas urnas significava um passo a mais rumo à eventual saída grega do euro. Mas Tsipras fez questão de ressaltar que esse não é o caso. E não houve tempo para celebrações oficiais. Enquanto milhares de pessoas corriam para comemorar na Praça Syntagma, em Atenas, Tsipras convocou uma reunião na madrugada com o presidente do Banco Central da Grécia, Yanis Stournaras, e o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, para tentar traçar as primeiras medidas de alívio aos bancos do país, há uma semana sob controle de capitais. A promessa é que as instituições bancárias sejam reabertas amanhã e sem o limite de saques de € 60 por dia.

— Este é um “sim” à Europa democrática. A partir de amanhã (hoje), a Europa, cujo coração está batendo na Grécia, começará a cicatrizar suas feridas. Vamos buscar um comum acordo com nossos parceiros — declarou Varoufakis.

Essas promessas, porém, dependem de Frankfurt. Cabe ao Banco Central Europeu (BCE) decidir, hoje, se manterá uma linha emergencial de crédito que há meses sustenta o sistema bancário grego. E outra discussão, em Paris, poderá dar o tom dos próximos dias: a chanceler federal alemã, Angela Merkel, vai pessoalmente ao Palácio do Eliseu discutir o futuro das negociações com o presidente francês, François Hollande. E sob rumores de que os dois já apresentam sinais de discordância sobre as exigências a serem feitas para socorrer Atenas.

Em Berlim, onde são grandes as vozes favoráveis à saída grega do euro, coube ao vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, condenar o resultado do referendo. Para ele, será difícil negociar um novo socorro, pois Atenas se recusa a “jogar segundo as regras da zona do euro”.

“Tsipras e seu governo romperam as últimas pontes para um acordo entre a Grécia e a Europa. Eles conduzem a Grécia a um caminho de abandono e desesperança”, afirmou ele ao diário berlinense “Tagesspiegel”.

AUTORIDADES DA UE DIVERGEM

Hollande, que no sábado afirmara que “continuaria a defender que a Grécia fique no euro”, telefonou ontem aos presidentes da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e do Parlamento Europeu, Martin Schulz. Enquanto Juncker preferiu apenas dizer que “respeita o resultado do referendo”, Schulz adotou um tom conciliatório.

— A União Europeia deve lançar já um programa de ajuda humanitária à Grécia. Os mais pobres dos pobres não devem sofrer com a incapacidade política de Atenas de fechar um acordo — afirmou ele à rede de TV estatal alemã ARD.

Outro que se pronunciou rapidamente foi o presidente do Eurogrupo — que reúne os ministros das Finanças da zona do euro —, Jeroen Dijsselbloem, responsável pelas negociações com Atenas nos últimos meses. Após o resultado, fontes disseram que sequer havia previsão de uma nova data para a próxima reunião, porque “os ministros não sabem nem sobre o quê discutir”.

— É muito lamentável para a Grécia. Para a recuperação da economia grega são inevitáveis reformas e medidas difíceis — afirmou Dijsselbloem, acrescentando que vai agora esperar “pelas iniciativas das autoridades gregas”.

As reformas são a grande incógnita na retomada das negociações entre o governo grego e os credores. O presidente da Fundação Helênica para Política Europeia e Relações Exteriores, Loukas Tsoukalis, disse ao “New York Times” que agora ambos os lados terão de fazer concessões. Para ele, a Grécia fora do euro “seria prejudicial para todos”.

Em Paris, houve uma manifestação de solidariedade à Grécia. Mas, dividida, a Europa parecia refletir o estado de espírito dos gregos antes de irem às urnas. A professora Ana Georgiopolou, por exemplo, viveu um racha dentro da própria casa:

— Eu votei “sim”, meu marido anulou e meu filho foi no “não”. Imagina o quanto brigamos por isso? Votei “sim” pois me senti humilhada como grega. Ninguém se sente, de fato, seguro. — Votei “não”, mas isso não significa que quero que a Grécia saia do euro ou não pague as dívidas — justificou a aposentada Ana Karavitis. — Meu voto foi um manifesto contra o desespero. Não aguentamos mais essa escravidão. Quero acreditar que os meus filhos terão um futuro. Não aceito ler que, desde 2009, cerca de 10 mil gregos se suicidaram por perder o emprego e dever aos bancos.



Veículo: Jornal O Globo


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