No dia 5 de dezembro, quinta-feira, quando Nelson Mandela morreu, o argentino Mariano Lozano correu para colocar seu plano em prática. Comprou uma passagem de avião e partiu de São Paulo rumo à África do Sul na segunda-feira seguinte. Ele tinha uma mochila no carro, pronta há meses para viajar. Foi a Pretória e enfrentou seis horas de fila para se despedir de seu ídolo.
"Ele era a última lenda viva", disse Lozano, presidente da divisão de lácteos da Danone no Brasil, em sua última entrevista no cargo. Com o rosto queimado pelo sol que pegou na fila, ele sorri quando questionado sobre o quadro com fotos de Mandela que está na parede de seu escritório, na avenida Paulista, centro de São Paulo: foi presente de um diretor com quem trabalhou quando comandou a Danone na África do Sul, entre 2006 e 2008.
O quadro vai estar na mala de Lozano, que deixa o comando da principal operação da Danone no Brasil e parte para os Estados Unidos, onde vai assumir a direção da Danone no país e no Canadá em janeiro. Ele será substituído pelo italiano Dario Marchetti, que trabalha na empresa desde 2000 e comanda a operação na Ucrânia.
O sucessor de Lozano vai ter o desafio de aumentar as vendas sobre uma base de crescimento maior. O plano é continuar dobrando a empresa a cada cinco anos; para isso, é necessário crescer ao menos 15% ao ano em receita. Apesar da desaceleração da economia brasileira, Lozano diz que Marchetti vai chegar a um mercado em pleno desenvolvimento. "Acho que no ano que vamos além dos 15%, vamos a 20%."
O aumento das vendas vai na esteira dos investimentos feitos pela multinacional francesa. Nos últimos dois anos, a Danone investiu R$ 155 milhões no Brasil. A verba saiu do caixa da subsidiária para a ampliação da fábrica de Poços de Caldas (MG) e para os lançamentos das linhas Danio, Danoninho com dois sabores e requeijão - segmento em que a marca voltou a atuar.
Dos 15% de crescimento médio nos últimos anos, 10 pontos percentuais correspondem a volume e o restante é relativo a repasse de preço e aumento do mix, diz Lozano. O aumento do preço do leite este ano trouxe "um desafio grande de margem bruta", agravado pela alta nos custos com açúcar e embalagens, e compensado pelo repasse em algumas linhas de produtos, diz ele. A Danone evitou mexer nos itens "de entrada", como Danoninho, e em embalagens pequenas que custam R$ 1.
Na gestão de Lozano, entre 2009 e 2013, o faturamento da Danone dobrou no país: passou de R$ 1 bilhão para pouco mais de R$ 2 bilhões - meta também cumprida pelo antecessor, Gustavo do Valle, que assumiu em 2004, quando a Danone faturou R$ 500 milhões.
Lozano diz que a Danone ganhou mercado sobre as concorrentes. Tinha 30% da receita do setor de iogurte em 2004, 33% em 2008 e chegou a cerca de 37% em 2013, segundo a empresa. Em seguida estão Nestlé (19%), Batavo (da BRF, com uma fatia 10,5%) e JBS, com as marcas Vigor e Itambé (9,5%). As vendas de lácteos frescos (iogurtes, leite fermentado e petit suisse) no Brasil devem somar R$ 6,2 bilhões em 2013, alta de quase 11% sobre 2012.
Lozano comanda a operação brasileira de lácteos da Danone - o principal negócio da empresa, que responde por cerca de 80% do faturamento no Brasil. A empresa tem também as divisões de água, nutrição alimentar e infantil.
No próximo mês, Lozano vai assumir o cargo atualmente ocupado por Gustavo Valle, que vai comandar a Danone na Europa. A Danone opera como Dannon Company nos Estados Unidos.
Dario Marchetti deixa o cargo na Ucrânia para vir ao Brasil. Ele já foi diretor de marketing da Danone no México e na Rússia. Antes, trabalhou na fabricante de cereais Kellogg.
Veículo: Valor Econômico