A Campbell Soup poderá ser a próxima companhia a mudar de dono após o 'takeover' da Heinz por US$ 29 bilhões este ano. Os preços dos contratos de opção da Campbell subiram este mês em meio a especulações de que, com valor de mercado de US$ 13 bilhões, poderá atrair compradores.
Depois que a 3G Capital e a Berkshire Hathaway acertaram em fevereiro a compra da fabricante de ketchup Heinz, investidores estão vendo a Campbell como o próximo grande alvo do setor de alimentos industrializados, informa a empresa de serviços financeiros Edward Jones & Co. A firma de investimentos 3G poderia estar interessada devido a benefícios resultantes de uma combinação da Heinz com a capacidade de processamento de legumes da Campbell. A Berkshire, de Buffett, poderia ajudar novamente a bancar o negócio, avalia a Sanford C. Bernstein & Co.
Assim como a Heinz, a Campbell tem uma marca forte, que poderá atrair outros fabricantes de alimentos e empresas do setor financeiro. Mesmo enfrentando uma desaceleração das vendas de suas famosas sopas, uma vez que os consumidores estão preferindo alimentos mais frescos e marcas concorrentes como a Progresso apertam o cerco, a companhia ainda oferecerá a um possível comprador a maior participação no mercado de sopas (22%). Um 'takeover' precisaria da aprovação dos membros da família, que controlam mais de 40% das ações da Campbell, mas ainda assim a empresa seria mais acessível que 70% das demais companhias americanas do setor de alimentos, com base em relação preço sobre lucro.
Após a aquisição da Heinz, "os investidores tendem a pensar que onde há um negócio, pode haver mais dois ou três", diz Jack Russo, analista da Edward Jones.
Carla Burigatto, uma porta-voz da Campbell, sediada em Camden, Nova Jersey, não quis se manifestar sobre uma possível venda da companhia. Um representante da 3G não quis comentar e Buffett não respondeu a pedido de entrevista.
Um mês atrás, a Campbell divulgou uma queda das vendas de sopas no primeiro trimestre e disse que o lucro do exercício que se encerra em julho, será menor que o anteriormente previsto. Em meio à perda de participação de mercado para concorrentes como a General Mills, dona da marca Progresso, a Campbell vem se concentrando no reforço de sua divisão de bebidas.A Campbell vem fazendo aquisições desde 2001 para acompanhar as mudanças nas preferências dos consumidores. Entre elas estão as da fabricante de sucos Bolthouse Farms e da fornecedora de alimentos para bebês Plum Organics.
Depois que a Berkshire Hathaway e a 3G anunciaram a aquisição da Heinz em 14 de fevereiro, as ações da Campbell subiram, junto com as de outras empresas de produtos de consumo, como General Mills e a J.M. Smucker. O papel da Campbell chegou a subir 6,2% naquele dia, na maior alta em um único pregão desde 2008.
Uma coisa na Heinz que atraiu Buffett e a 3G foi a oportunidade de usar a aquisição como "um tipo de plataforma para crescer na indústria mundial de alimentos", disse Bill Johnson, ex-diretor-presidente da Heinz, em fevereiro.
Se a 3G estiver interessada em aumentar sua presença na área de alimentos embalados, a Campbell "definitivamente será a próxima da lista", diz Alexia Howard, analista da Bernstein. "Os grandes negócios da Heinz são muito baseados em legumes. Obviamente eles têm o ketchup de tomate aqui nos EUA; e no Reino Unido, uma operação de sopas muito parecida com a da Campbell. Provavelmente haveria muitos benefícios logísticos na área de legumes", diz ela.
Os negócios com as ações da Campbell envolveram um volume recorde de papéis em 6 de dezembro, em uma série de operações otimistas com opções que serão compensadoras se a ação subir mais de 5% até o fim desta semana. Mais de 20 mil contratos de opções de compra de dezembro a US$ 43 mudaram de mãos nesse dia, em comparação à média diária de 60 contratos. Henry Schwartz, presidente da Trade Alert, disse que este foi "um exemplo clássico de como as especulações de 'takeover' se desenrolam no mercado de opções".
Como a 3G provavelmente não tem verba suficiente para comprar a Campbell, pois digere a aquisição da Heinz, Buffett poderia usar sua capacidade para ajudar a bancar um negócio mais cedo, diz Alexia Howard. A Berkshire já controla a fabricante de doces See's Candies e ajudou a financiar a compra da Wm. Wrigley Jr. pela Mars em 2008. Buffett elogiou o modelo de negócios que transforma ingredientes de commodities em produtos premium, mais caros.
Na fabricação de alimentos, "é mais fácil comprar do que construir", diz John Kornitzer, da Kornitzer Capital Management. Sua firma tem ações da Campbell em carteira. Kornitzer estima que a Campbell poderia conseguir de US$ 55 a US$ 60 por ação em um 'takeover', em comparação ao preço de fechamento de US$ 40,97 na segunda-feira.
A fusão da Heinz com a Campbell faria sentido, mas a 3G prefere expandir seus negócios nos mercados emergentes, que estão crescendo em ritmo mais acelerado, diz Thilo Wrede, analista do Jefferies Group em Nova York. A 3G, com sede em Nova York, tem o bilionário brasileiro Jorge Paulo Lemann por trás.
Qualquer comprador da Campbell terá de convencer a família Dorrance, observa Wrede. John T. Dorrance, um químico, inventou a sopa condensada em 1897 e seus descendentes hoje controlam mais de 40% das ações da companhia. Sua neta Maru Alice Dorrance Malone faz parte do conselho de administração e é a maior detentora de ações, com 17%.
"Não temos visto nenhuma indicação de que eles estariam dispostos a vender", diz Wrede. "Este seria o maior desafio."
Veículo: Valor Econômico