Exigir graduação serve como filtro para empresas

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Especialistas dizem que essa tendência é caminho sem volta; recém-formados buscam outras oportunidades

 

Veículo: O Estado de S.Paulo

A exigência de diploma de ensino superior para funções não específicas, nas quais antes ele era dispensável, é um caminho sem volta, segundo especialistas. Para quem contrata, a lógica usada para exigir uma graduação é clara e financeira: uma pessoa que cursou uma faculdade escreve e lê melhor, consegue se expressar com mais facilidade e tem mais habilidades para fazer pesquisas ou procurar dados. Ou seja, poderá ser um funcionário mais preparado.


“Exigir diploma é também um filtro para o profissional de recursos humanos. Hoje, se uma empresa abre uma vaga para auxiliar de escritório, vão chegar 5 mil currículos. Se ele pede diploma, chegam 500. É mais fácil e mais barato para escolher”, diz Constantino Cavalheiro, diretor da Catho Educação Executiva.


E isso é feito porque há mão-de-obra qualificada disponível no mercado. Em 2006, cerca de 736 mil pessoas concluíram um curso superior no País, número bem maior do que os 245 mil concluintes em 1994. Entre as áreas com mais vagas disponíveis, e conseqüente número de formados, estão Administração, Direito, Engenharia, Comunicação Social, Pedagogia e Letras, segundo dados do Censo da Educação Superior de 2006, do Ministério da Educação.

Como conseqüência, tem crescido o número de pessoas desocupadas, mas com ensino superior, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apesar de ainda ser muito mais baixo do que o número de pessoas desocupadas sem um curso de graduação.

O cenário é mais complexo para os jovens, que, ainda inexperientes, disputam um lugar no mercado com profissionais mais experientes. Mesmo com a queda na taxa de desemprego e a retomada da atividade econômica dos últimos anos, 32% dos jovens entre 16 e 24 anos estão desempregados, de acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Aos 24 anos, o bacharel em Direito Rodrigo Pereira Souza tem dúvidas se seguirá estudando para a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). “Prestei duas vezes e não consegui passar ainda, estou desanimando”, conta ele, que se formou numa faculdade na Grande São Paulo. Durante a maior parte do curso, trabalhou numa lan house, como atendente - deixou para estagiar na área apenas nos dois últimos anos da graduação.

Agora, ainda sem a carteira da OAB, seus planos estão mais perto do comércio do que da área jurídica: juntou dinheiro para abrir uma lan house própria com um primo e seus esforços estão concentrados nisso. “Do jeito que as coisas estão acontecendo, não acho mais que vou trabalhar como advogado, mas uso o que aprendi na lan house e na faculdade agora que estou abrindo meu negócio”, conta ele. “Entendo melhor os papéis, as exigências. De repente, esse é o caminho para mim.”

Já no caso de Tiago Inácio da Silveira, de 26 anos, formado em Direito no ano passado, a opção por deixar a advocacia de lado, ao menos temporariamente, está relacionada com o retorno financeiro. Para ele, que chegou a estagiar em escritórios na área, comprar um táxi e ter seus próprios horários é um investimento que está sendo mais compensador do que o trabalho em sua profissão.

“Durante a faculdade, por um período conciliei as duas coisas. Fazia estágio de manhã, pegava o táxi à tarde e durante a noite ia para a faculdade”, conta ele. “Só com o estágio não conseguia pagar o curso”, diz.

Atualmente, ele calcula que consegue ganhar o dobro do que ganharia trabalhando em um escritório - ele é casado e tem um filho de 5 anos para sustentar. “Mesmo assim estou estudando para tirar a carteira da OAB e penso também em prestar um concurso público para a área ambiental, que me atrai.”

No seu caso a mudança ocorreu por opção, e pode ser benéfica. É o que aconteceu também com Luciana Lopes, de 35 anos, outro exemplo dessas escolhas. Primeiro foi estudar para ser podóloga, seguindo o caminho do pai, que tinha uma clínica. Anos depois, já com seus clientes fixos e sua renda própria, decidiu estudar Psicologia, para realizar um sonho antigo. Depois de formada, a opção foi trabalhar para conciliar o exercício das duas profissões, enquanto ainda fazia especialização em psicodrama.

“Com o tempo, eu e minha irmã, que também era podóloga, compramos a clínica e decidimos tocar o negócio”, conta ela. “Agora, desde o dia 1º de agosto, decidi me dedicar somente ao consultório, como psicóloga”, diz ela. Mas as opções não param por aí: “Estou estudando astrologia, para pensar uma terceira opção, paralela, no futuro.”


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