Classes C e D já embarcam na onda e começam a provar os orgânicos

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O mercado de produtos orgânicos ganha cada vez mais espaço nos carrinhos de clientes de supermercados brasileiros. A avaliação é do estudo "Hábitos e comportamento do consumidor", da Latin Panel, maior empresa de análise sobre consumo da América Latina, que acompanha ininterruptamente as escolhas em 8,2 mil domicílios em todo o país.
 


Em 2007, o estudo observou que 38,5% dos supermercados brasileiros tinham em suas gôndolas produtos cultivados sem agrotóxicos ou adubos químicos. E que 47,8% das famílias brasileiras adquiriram pelo menos um produto orgânico em lojas de auto-serviço. Como é de se imaginar, a adesão é maior nas classes A e B. O painel apontou que 75,9% das famílias nessa faixa compraram orgânicos pelo menos uma vez em 2007. Mas os outros segmentos também embarcaram na moda: 49,1% na classe C e 39,5% nas D e E.
 

 
"Nas classes C, D e E, quem faz as compras é a dona de casa, que se preocupa com a saúde da família", nota Martinho Paiva Moreira, titular do D'Avó Supermercados, rede com cinco lojas na zona leste paulistana e dois hipermercados em Suzano e Mogi das Cruzes (SP), que oferecem orgânicos desde 2000 para uma clientela de menor poder aquisitivo.
 

 
Como vice-presidente de comunicação da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Moreira acentua que a ascensão dos orgânicos nas redes varejistas foi favorecida pelo aumento da renda dos consumidores. E ainda não foi afetada pelo avanço nos preços dos alimentos, que atinge sobretudo commodities, como grãos.
 

 
Não são os atributos ecologicamente corretos, mas a identificação com a promoção de saúde que atrai consumidores para os orgânicos, diz Moreira. Segundo ele, o preço mais elevado de alguns itens em relação ao de seus similares produzidos com agrotóxicos não afeta muito o mercado. Mas isso vale para hortifrutícolas, já que alimentos processados e grãos orgânicos, como soja, trigo e arroz, ainda são raridade no país.
 

 
"Estamos atrasados pelo menos dez anos com relação à Europa, que dispõe de uma variedade bem maior", opina o vice-presidente da Apas, ao apontar, como outro gargalo para a expansão mais pronunciada, a dificuldade de discernir entre diet, light, funcional e orgânico.
 

 
Com 30 lojas espalhadas em bairros de bom poder aquisitivo do Rio de Janeiro, a rede de supermercados Zona Sul busca a diversidade com a oferta de orgânicos nacionais e importados. "Ajudamos a introduzir esses produtos no mercado brasileiro", afirma o diretor de vendas e marketing da rede, Jaime Xavier, que vislumbrou o potencial do mercado em 1994, ao visitar uma loja da rede Fresh & Fields nos EUA, especializada nessa linha.
 


Foram necessários dois anos, diz ele, até encontrar o primeiro fornecedor: duas senhoras que produziam e vendiam orgânicos certificados na Feirinha da Glória, no Rio de Janeiro. A produção, pequena, só supria uma loja. Mas bastou para sentir a boa receptividade dos clientes, recorda.
 

 
Hoje, cerca de 15% dos folhosos vendidos na rede são orgânicos. O percentual cai em outras categorias devido à oferta menos diversificada. "Temos três fornecedores que criaram marcas exclusivas para o Zona Sul: Vale das Palmeiras, do ator Marcos Palmeira; Vida Sustentável, e Fazenda Cafundó, que fornece mini-legumes e mini-folhosos orgânicos. Informo a demanda prevista para programarem a produção. Isso evita o desperdício."
 

 
Jaime Xavier ressalta empecilhos que estancam, em sua opinião, o avanço dos orgânicos nos supermercados. De um lado, a logística é complexa, por serem muitos fornecedores, em geral pequenos produtores. Certas variedades, como frutas, afirma, só são disponíveis por períodos determinados, já que o sistema orgânico não permite indutores de crescimento, para "forçar" safras em todas as estações do ano.
 


Além disso, há o que Xavier entende como "efeito manada" dos produtores. Quando um item faz sucesso, muitos copiam a idéia, em vez de inventar novas alternativas. Como resultado, ocorre um excedente na oferta daquele produto e conseqüente redução do preço.
 

 
A falta de suporte de marketing é outro problema. Muitos orgânicos são cultivados por pessoas idealistas que pensam na qualidade, mas não no impacto visual de uma bela embalagem. "Mostrei a vários fornecedores um pote em vidro para iogurte, mais coerente que o plástico. Mas falta escala, no Brasil, para adotá-lo."
 

 
"O cuidado com as embalagens está mudando", rebate Robert Michels, gerente operacional do Grupo Horta, sediado em São Roque (SP), que entrou no negócio da produção e distribuição dos orgânicos após uma visita de seu sócio-diretor, Cristiano Psillakis, a um supermercado europeu especializado em orgânicos, em 2000.
 

 
Certificados pela Ecocert e entregues diariamente em São Paulo e Rio de Janeiro, eles são embalados com o nome Cultivar, empresa criada para lidar com orgânicos, ou sob outras marcas, como Taeq (do grupo Pão de Açúcar) e Terraviva (Carrefour). Para Michels, 2004 foi o ano da virada. Desde então, as vendas da Cultivar para supermercados crescem 25% ao ano, representando hoje 33% dos negócios do Grupo Horta, que também distribui hidropônicos, alimentos processados e marcas de terceiros. Mesmo distribuidoras mais "céticas", diz ele, agora trabalham com produtos convencionais e também os orgânicos.
 

 
A Cultivar, diz ele, tem 42 produtores espalhados entre Santa Catarina a Minas Gerais que fornecem a maior parte dos produtos. O preço final é prefixado, garantindo a estabilidade inclusive no período de safra. "Fazemos a mesma negociação com nossos clientes. É bom para todos."
 


Sozinhos, avalia ele, os pequenos têm dificuldades para atender grandes redes, que demandam um sortimento amplo e exigem capital de giro para suportar a demora até receber o primeiro pagamento. Segundo fontes do setor, esse tempo pode superar os 50 dias.
 

 
Dos mais de 80 produtos que a empresa distribui, os mais demandados são alface, rúcula, tomate, cenoura, beterraba e morango, segundo Michels.
 


Segundo o Ministério da Agricultura, o Brasil ocupa mais de 800 mil hectares com a produção orgânica. O Centro Oeste destaca-se na pecuária, com 91% das pastagens certificadas e 65% da área para a criação animal. O Sul é campeão em espaço para olerícolas orgânicas (55%), sobretudo alface, cenoura, tomate e couve.
 


Veículo: Valor Econômico


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