Preço do trigo cai, mas valor do pão permanece estável

Leia em 4min 30s

Apesar de matéria-prima contribuir em 40% com valor final, sindicato diz que custo de produção continua alto

 
Osvaldo Lyra


De nada adiantou a medida do governo federal de isentar, no mês de maio, os produtores de trigo e os donos de panificadoras do recolhimento do Programa de Integração Social e da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (PIS/Cofins) e da taxa de 25% cobrada pelo frete nas importações. Vendido a preços que variam entre R$2,70 e R$8,50 o quilo, a depender do bairro e local onde é comercializado, o pãozinho francês não baixou de preço nos estabelecimentos de Salvador, mesmo com a queda de cerca de 12% da farinha. Para a população, resta buscar um substituto para o produto.


Segundo o presidente do Sindicato de Panificação de Salvador (Sindipan), Mário Pithon, a redução do tributo federal não influenciou tanto, já que muitas padarias são enquadradas no Simples. “Para que haja uma queda efetiva nos preços praticados pelo mercado, existe a necessidade de o governo do estado reduzir o ICMS na farinha de trigo em 30%”, defendeu.


Pithon, que é proprietário da rede Deli & Cia, disse que mesmo com a queda do trigo, os custos de produção ainda são muito elevados, o que inviabiliza um repasse para o consumidor final. “Sabemos que a farinha baixou, mas existem outros custos embutidos no valor do produto que não baixaram”. Os vilões responsáveis pela manutenção dos preços em alta são: energia elétrica e encargos com mão-de-obra.


Oscilação - Mário Pithon informou ainda que a farinha de trigo de boa qualidade (tipo A) chegou a ser comercializada entre abril e maio por R$115. Agora, a mesma saca com 50kg está sendo vendida por R$95. “Mesmo com essa queda, de setembro do ano passado a fevereiro deste ano, houve uma alta acumulada de 64% no trigo. Nesse mesmo período, o pão não acompanhou esse aumento. Portanto, podemos concluir que a redução da matéria-prima não pode incidir diretamente no valor final junto ao consumidor”.


O pior de tudo, segundo o presidente do Sindicato de Panificação da capital, é que não há previsão de queda para o pãozinho a médio e curto prazos. “Ainda mais se levarmos em consideração que a tendência mundial é a elevação no custo nos insumos. Infelizmente, temos que falar para a população que uma queda efetiva no valor só será possível após alguma grande novidade do mercado, a exemplo da venda do trigo nos patamares anteriores”.

 

Consumidor de baixa renda é o mais prejudicado


Enquanto os empresários do setor defendem a manutenção do preço do pão comercializado atualmente, a presidente do Movimento das Donas de Casa da Bahia, Selma Magnavita, diz que deveria haver uma queda efetiva no valor. Segundo ela, o consumidor final, principalmente, o de baixa renda, é o mais prejudicado com os altos preços do pãozinho no mercado.


“Se eles aumentam quando há variação no mercado, por que não baixar quando há queda”. A lógica para a população, segundo a dirigente do movimento de donas de casa, é que o lucro para o empresário vem da quantidade do produto vendido. “Portanto, se vendem mais a preços mais baixos, ganham mais com o aumento da venda”.


Em resposta, o presidente do Sindicato de Panificação de Salvador, Mário Pithon, disse que é arriscado baixar o valor do pão diante de uma queda de apenas 12% na farinha de trigo, “justamente, por não haver garantias de que ela não voltará a subir”. Por isso, ele defende o empresariado e diz que a categoria não pode ser taxada sempre como os “bandidos da história”. “Não há exploração da nossa parte. Até porque, o custo do produto não depende apenas de nós, mas sim de toda uma cadeia produtiva e do próprio governo”.

 

Cuscuz é uma saída


O pão francês ocupa um lugar de destaque no cardápio da população brasileira. Segundo a nutricionista Andréa Ferreira, isso se dá principalmente pela questão do sabor e da praticidade. “O pãozinho faz parte da vida das pessoas. Além de prático, é rico em carboidratos e fonte de energia”.


Diante dos altos preços cobrados pelo produto em Salvador, a especialista recomenda a substituição do pão por alimentos como o cuscuz de milho e raízes. “Sugestões boas para o dia-a-dia são inhame, aipim, fruta-pão e a batata-doce, que também possuem alto valor energético e são fontes de carboidratos”.


INDÚSTRIA DO PÃO


1 O preço da farinha de trigo contribui diretamente no custo do pão francês. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), essa dependência é de 40% do valor final do produto.


2 O Sindicato de Panificação de Salvador garante que o preço final do pãozinho depende do custo de produção e de onde está instalada a indústria, além do tipo da farinha de trigo utilizada.


3 As medidas do governo federal de isentar os produtores e donos de panificadoras do recolhimento do (PIS/Cofins) e da taxa de 25% cobrada pelo frete nas importações valem até 31 de dezembro deste ano. Os empresários do setor já estão se articulando para que elas sejam prorrogadas em, no mínimo, seis meses.
 
 

Veículo: Correio da Bahia


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