Fazenda quer conter expectativas por receio de alta de juro em 2010

Leia em 3min 10s

Ao contrário do que fez nos últimos anos quando esbanjou otimismo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está trabalhando para conter as expectativas de crescimento econômico do Brasil para 2010. A estratégia visa a impedir que uma onda de euforia em torno da retomada mais rápida do crescimento sirva de ingrediente para o Banco Central (BC) elevar a taxa de juros com temor de o aumento da demanda pressionar a inflação.

 

Não são raros os casos de economistas de mercado prevendo que o País vai crescer na casa de 6% em 2010, trabalhando a todo vapor no final do ano que vem. A Fazenda, segundo apurou a reportagem, leva em conta uma informação vinda do próprio Banco Central de que a necessidade de subir juros se daria diante de um crescimento econômico aproximando-se de 7% em bases anualizadas.

 

O Ministério da Fazenda já trabalha normalmente com um crescimento de 5% para o Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem, mas até agora preferiu não alterar a projeção oficial de 4,5%. Este número também serve de balizamento para a proposta de Orçamento de 2010, principalmente para a previsão de receitas, que também define o tamanho da despesa que o governo poderá fazer.

 

Na área técnica, há quem aposte, inclusive, em crescimento mais elevado no ano que vem, com a economia se expandindo acima de 5%. A avaliação na Fazenda é de que, no último trimestre de 2010, o ritmo de expansão já estará em torno de 6%, patamar verificado antes da crise econômica e que fez o BC subir os juros com o argumento de que a economia vivia uma fase de pressão inflacionária ocasionada por excesso de demanda.

 

Os integrantes da pasta consideram que as projeções da Fazenda, incluindo a feita para este ano - de crescimento de 1% -, foram mais próximas aos resultados efetivados pela economia nos últimos anos do que as do mercado, o que poderia ajudar Mantega nesse esforço de contenção da euforia.

 

Na Fazenda, técnicos consideram que há uma probabilidade concreta de os juros básicos subirem na segunda metade do ano que vem, refletindo a aceleração mais forte da economia. O que Mantega e sua equipe querem evitar é a antecipação desse movimento na Selic para o primeiro semestre, como parte dos analistas financeiros já prevê.

 

RECESSÃO. A previsão de crescimento da economia é uma das variáveis-chave no modelo do Banco Central para a projeção de inflação e para a definição da taxa básica de juros. Foi exatamente a estimativa de um ano fraco para a economia em 2009, inclusive com o mercado apostando em recessão no fechamento do ano, que levou a autoridade monetária a baixar fortemente a taxa Selic, para seu nível mais baixo da história, em 8,75% ao ano.

 

Esta semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) vai se reunir e deve manter a Selic no mesmo nível, segundo previsões de analistas de mercado. A questão central em relação à atividade econômica é o nível de ociosidade da indústria. Ou seja, quanto do parque produtivo está sendo utilizado para a produção de bens. Quanto maior o uso dessa capacidade, maior o risco de remarcações de preços pelos empresários.

 

É para evitar isso que o Banco Central se antecipa em seus movimentos, já que o impacto da política monetária tem uma defasagem de seis a nove meses. Na Fazenda, ninguém vê a capacidade instalada altamente ocupada antes do fim de 2010. Os técnicos entendem que esse cenário básico no máximo demandaria alta dos juros no segundo semestre, para evitar que a produção acelerada coloque em risco a inflação de 2011.

 

Veículo: Jornal do Commercio - RJ


Veja também

Alimentos in natura derrubam inflação no varejo em São Paulo

Alimentos in natura mais baratos derrubaram a inflação no varejo na cidade de São Paulo. O Í...

Veja mais
Atacado puxa desaceleração do IGP-10 para 0,10% em outubro

O Índice Geral de Preços-10 (IGP-10) variou 0,10%, em outubro. A taxa apurada em setembro foi de 0,35%. O ...

Veja mais
Exportador reforça 'armas' contra real forte

Comércio exterior: Reajuste de preços e aumento de importação estão entre as medidas ...

Veja mais
Analistas temem impacto de emprego e renda sobre inflação

Conjuntura: Mercado de trabalho pode afetar preços antes do que a ocupação de capacidade na ind&uac...

Veja mais
Governo também pode reduzir a meta fiscal de 2010

Conjuntura: Se arrecadação não reagir, superávit do próximo ano pode ficar entre 2,2%...

Veja mais
Menos endividado, paulistano elevará gasto em 11% no fim de ano

A taxa do endividamento familiar na capital paulista diminuiu 4% em outubro, o que deve animar ainda mais o varejo. Com ...

Veja mais
Para exportadores, dólar ideal deveria estar acima de R$ 2

O cenário para exportadores brasileiros deve piorar no curto prazo. É o que aponta a pesquisa sobre a desv...

Veja mais
Famílias paulistas menos endividadas

O nível de endividamento das famílias paulistanas mantém em outubro a trajetória de queda in...

Veja mais
Natal de 2009, juros de 2007

Após período de alta, taxas cobradas no varejo voltaram ao mesmo nível de dois anos atrás &...

Veja mais