Cúpula UE-Mercosul deverá avançar pouco em comércio

Leia em 4min

A luta contra as mudanças climáticas e a resposta à crise global devem dominar as discussões durante a 3ª reunião de cúpula entre Brasil e União Europeia (UE), que ocorre hoje em Estocolmo. A questão das negociações comerciais também vai aparecer nas conversas, com brasileiros e europeus insistindo na importância da retomada da Rodada Doha de liberalização comercial da Organização Mundial do Comércio (OMC). O assunto do acordo de livre comércio entre Mercosul e UE é outro que constará da pauta, mas a cúpula não deverá trazer nada de muito concreto sobre o tema.

 

Ao longo do dia, o Brasil também tratará das relações bilaterais com a Suécia, discutindo um plano de ação para uma parceria estratégica entre os dois países. O governo sueco vai aproveitar também para mostrar o seu apoio à proposta da empresa sueca Saab para a renovação da frota de caças brasileiros, o programa FX-2.

 

A cerca de 60 dias da cúpula do clima, em Copenhague, o tema ambiental terá grande destaque nas negociações entre Brasil e UE. Do lado brasileiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá mostrar o empenho do país em reduzir o ritmo do desmatamento e destacar a importância do programa de biocombustíveis, além de insistir que a conta do combate ao aquecimento global não pode ficar apenas nas costas dos países mais pobres. Já a UE, que considera ter a proposta mais ambiciosa para redução de emissões de carbono no planeta, quer que o Brasil assuma posição de maior liderança entre os emergentes na questão ambiental, como disse o ministro do Ambiente da Suécia, Andreas Carlgren.

 

Um ponto importante a ser discutido é a parceria triangular entre Brasil, UE e África na área de biocombustíveis. O objetivo é produzir etanol nos países africanos, contando com apoio tecnológico brasileiro e o mercado europeu como o destino para o produto. Brasil e EU já chegaram a um acordo sobre o assunto, mas é necessário acertar detalhes com a União Africana, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

 

No caso da resposta à crise global, Brasil e UE têm bastante sintonia, segundo fonte da UE. Tanto brasileiros como europeus querem uma regulação mais rígida do sistema financeiro, defendendo a adoção de normas globais para evitar os problemas que levaram à eclosão da turbulência atual.

 

Segundo Amorim, "inevitavelmente" Brasil e UE falarão sobre a "Rodada Doha e o protecionismo". Brasileiros e europeus defendem a retomada das negociações no âmbito da OMC, emperradas desde o ano passado. Além disso, a questão do acordo de livre comércio com o Mercosul aparecerá nas conversas, disse ele. "Mas é claro que nós não vamos negociar [o acordo], porque o Brasil não está nem na presidência do Mercosul", explicou.

 

Negociadores do Mercosul e da UE devem se reunir em novembro para tratar do tema, que pode ganhar mais fôlego em maio de 2010, quando haverá uma cúpula em Madri entre europeus e latino-americanos. Na reunião de hoje, porém, as tratativas não devem avançar de modo muito concreto, porque não estão presentes os outros membros do bloco sul-americano. E, enquanto a Rodada Doha não estiver sepultada, as negociações entre blocos tendem a ficar em compasso de espera.

 

Empresários brasileiros e suecos gostariam de ver avanços entre o Mercosul e a UE. Em Estocolmo, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, disse ver uma "certa animação" para a retomada das negociações , considerando que elas podem ser uma boa oportunidade para os empresários do bloco sul-americano e do europeu. Emperradas há cinco anos, elas pararam principalmente por conta dos subsídios da UE à agricultura e da resistência da Argentina em abrir o mercado automotivo.

 

No momento das discussões bilaterais entre Brasil e Suécia, o governo sueco não vai perder a oportunidade de discutir . A sueca Saab participa da licitação para a compra de 36 aviões, oferecendo como um dos grandes atrativos para o Brasil a participação conjunta no desenvolvimento tecnológico do projeto do Gripen NG.

 

A ministra do Comércio da Suécia, Ewa Björling, disse ontem que o governo sueco dá apoio firme à proposta da Saab, acreditando que o assunto será discutido na reunião de hoje. É uma chance para os suecos tentarem recuperar o terreno perdido para a francesa Dassault - em setembro, Lula manifestou publicamente a sua preferência pelos caças franceses. Também participa da licitação a americana Boeing, mas a avaliação dominante é que a empresa está fora do páreo.

 

Veículo: Valor Econômico


Veja também

Para analistas, haverá risco de IPCA mais alto só em 2011

A forte aceleração do PIB brasileiro, saindo de taxas próximas a zero para valores semelhantes...

Veja mais
Recuo em alimentos alivia preços para mais pobres

O recuo no preço dos alimentos conteve a inflação sentida pelas famílias de menor renda no p...

Veja mais
Comércio parcela em até 17 vezes sem juro

Com apoio de bancos e financeiras, lojas ampliam prazos para pagamento de bens   Nunca as lojas ofereceram prazos...

Veja mais
Crédito ao consumidor ainda não se recuperou

Valor contratado em agosto é 16,9% menor que o de igual mês de 2008   Apesar do aumento dos prazos, ...

Veja mais
Prazo do comércio bate recorde

Com apoio de bancos privados, que querem retomar mercado, lojas já parcelam vendas em até 17 meses  ...

Veja mais
Custo de vida aumenta 0,27% em São Paulo, mostra Dieese

O Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1), calculado com base nas despesas de consumo das fam&i...

Veja mais
Indústria prepara um 4º trimestre forte

Conjuntura: Um dos setores otimistas é o eletroeletrônico, que espera alta de 5% no fim do ano em rela&cced...

Veja mais
Inflação em São Paulo cai para 0,16% em setembro, mostra Fipe

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas ...

Veja mais
Indústria tem ampla retomada

Pelo oitavo mês consecutivo, a produção da indústria cresceu em relação a m&eci...

Veja mais