Indústria prepara um 4º trimestre forte

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Conjuntura: Um dos setores otimistas é o eletroeletrônico, que espera alta de 5% no fim do ano em relação a 2008


 
Depois de um terceiro trimestre forte, diferentes setores industriais planejam encerrar o quarto trimestre de 2009 com aumento real de vendas e produção em relação ao final do ano passado - auge do impacto negativo da crise econômica mundial sobre a economia brasileira. Têxtil, calçados, eletroeletrônicos e fabricantes de materiais de construção já refizeram projeções para o ano, tornando-as mais otimistas.

 

Os indicadores industriais ficaram mais fortes no terceiro trimestre - até agosto, metade da queda pós-crise já havia sido revertida, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados na sexta. O nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) da indústria apresenta movimento crescente desde o fim do segundo trimestre, ainda que os dados de setembro para fábricas de bens de consumo e bens de capital tenham registrado leve recuo frente à agosto. O Nuci serve de parâmetro para a indústria - quando ele se aproxima de 100%, indica a necessidade de aumentar investimentos em produção e pessoal. Depois de cair 9,1 pontos entre junho de 2008 (86,7%) e fevereiro deste ano (77,6%), o Nuci elevou-se em 4,3% pontos, alcançando 81,9% no mês passado.

 

A proximidade das festas de fim de ano faz com que a expectativa das indústrias do polo de Manaus sejam as melhores possíveis, avalia Gilmar Freitas, economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam). Segundo ele, as encomendas já contratadas nos meses de agosto e setembro garantem um quarto trimestre "excelente", que deve fazer com que o resultado consolidado deste ano se aproxime do registrado em 2008, quando a região apresentou as melhores marcas de faturamento e emprego.

 

Segundo dados da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), nos primeiros sete meses do ano houve queda de 12,06% no faturamento das empresas, totalizando R$ 26,4 bilhões. No mesmo período do ano passado, o faturamento foi de R$ 30,09 bilhões. "Como o segundo semestre do ano passado foi muito abalado pelos acontecimentos do quarto trimestre, a recuperação econômica que vivemos hoje deve equilibrar essa conta", afirma Freitas.

 

Para o economista, houve um exagero por parte da indústria no momento de efetuar cortes de pessoal, após o início da crise mundial. Na Zona Franca de Manaus, entre 16 e 20 mil pessoas perderam o emprego entre novembro do ano passado e o primeiro trimestre deste ano. A aceleração econômica, a partir da segunda metade de 2009, tem alterado essa prática. "Tivemos um terceiro trimestre tão aquecido que alguns setores tiveram de contratar funcionários temporários para atender a demanda interna", diz Wilson Périco, presidente da Fieam. O conjunto de indústrias de Manaus chegou a empregar 112 mil pessoas, antes da crise. No auge das demissões, no primeiro trimestre, o número caiu para 82 mil. Com a recuperação dos últimos três meses, foi para 90 mil. "Devemos fechar o ano com 100 mil funcionários nas indústrias", afirma Périco.

 

O segmento de eletroeletrônicos, um dos principais da zona industrial da capital do Amazonas, sofreu de maneira desigual os efeitos da crise. Enquanto os fabricantes de televisores aproveitaram a migração do consumo, que trocou aparelhos antigos por novas TVs de plasma e LCD, para ampliar a produção, as firmas de DVDs e aparelhos de áudio viram a competição com os importados aumentar com a valorização cambial.

 

Para Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), a expectativa do setor é de um crescimento de 5% neste quarto trimestre sobre os três meses anteriores. "Essa elevação se refere a aumento da produção, não é apenas queima de estoque", afirma. A comercialização de computadores se acelerou fortemente nos últimos meses e, com as festas de fim de ano, é possível alcançar o recorde de 12 milhões de máquinas vendidas em 2008.

 

Segundo Barbato, a indústria de material elétrico de instalação foi a que mais sofreu com a crise. "É um setor que demanda mais tempo para reagir, porque entra apenas na fase final da cadeia produtiva da construção civil. As tomadas e plugs são a última coisa que as famílias colocam nas casas", afirma.

 

Impulsionado pelo programa habitacional do governo "Minha casa, Minha Vida" e pela redução do IPI, a empresa de material de construção Fabrimar prevê aumento de 12% nas encomendas para o último trimestre na comparação com o terceiro trimestre deste ano. "Lançamos diversos produtos nos últimos três meses, cujas encomendas atingirão o ápice no último trimestre", diz o diretor comercial da empresa, José Fernando Caleiro. Na comparação com o quarto trimestre do ano passado, a previsão de alta nas encomendas corresponde a 8%.

 

A expectativa de faturamento da empresa, igual ao do ano passado, foi revisada para cima. "Vamos fechar 2009 com um faturamento entre 2% e 5% superior ao do ano passado. Já o volume de peças vendidas, terá um aumento entre 7% e 10% comparado a 2008", afirma o diretor da Fabrimar.

 

Já a Granfino, que comercializa e processa alimentos, prevê fechar o último trimestre deste ano em alta de 3% em relação ao mesmo período de 2008. De acordo com a presidente da empresa, Sílvia Coelho Lantimant, a venda de alimentos no período tende a ser maior devido às férias escolares, às festas de Natal e ao 13º salário. "Existe uma retomada cautelosa, mas está havendo uma retomada sim", disse Silvia. A empresa projeta encerrar 2009 com expansão de 2%, taxa prevista desde o início deste ano.

 

Carlos Loureiro, presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), afirma que as vendas do setor caíram 21% de janeiro a agosto na comparação com igual período de 2008. Em agosto, porém, foram comercializadas 334 mil toneladas de aços planos (chapas), o maior volume do ano. "Há aceleração nesta fase final do ano. Devemos alcançar 800 mil toneladas nos próximos três meses", afirma Loureiro. O resultado supera as 652 mil toneladas do mesmo período do ano passado.

 

"A indústria, que trouxe a crise para dentro do país, está deixando o fundo do poço, e já registra melhora generalizada, inclusive nas exportações", afirma Rogério César de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Para ele, ainda há grande margem de elevação do Nuci, uma vez que a indústria brasileira, historicamente, trabalha com pouca capacidade ociosa e estoques menores.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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