Exportação para mais países ajuda superávit

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Uma diversificação maior nos destinos das exportações brasileiras deu aos embarques um fôlego adicional que ajudou a amenizar a queda nas vendas ao exterior. Mesmo com diminuição de 22,8% no valor das exportações de janeiro a junho, na comparação com o primeiro semestre de 2008, os embarques brasileiros apresentaram variação positiva para 70 países no mesmo período, segundo levantamento do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco. A diversificação amenizou a queda de demanda dos "clientes" tradicionais e é vista por alguns setores como uma estratégia para manter o volume de vendas ao exterior no segundo semestre, compensando a perspectiva de dólar abaixo de R$ 2 ao fim do ano.

 

Segundo cálculo do Bradesco, excluindo a China do total de exportações do Brasil, o índice de concentração nos destinos dos embarques caiu para 0,037 em junho de 2009. Esse indicador manteve-se em 0,055 em 2007 e 2008 e alcançou no fim do primeiro semestre o menor nível pelo menos desde janeiro de 2000. Quanto menor o índice de concentração, maior a diversificação das exportações (ver gráfico ao lado).

 

Indústria deve acelerar expansão no 2º semestre

 

A produção industrial deve ter um segundo semestre bastante positivo, ajudando a sustentar a retomada do crescimento neste ano. Impulsionada por fatores temporários, como o ajuste de estoques, o impacto ainda positivo das reduções de impostos e alguma substituição de produtos importados por nacionais, o setor vai acelerar o ritmo de expansão na segunda metade do ano, avalia o economista André Carvalho, sócio da Main Street Consultoria, especializada na análise da atividade econômica. A expectativa de melhora gradual do crédito e das exportações também vai colaborar nesse processo, dizem Carvalho e outros analistas.

 

Esse crescimento mais forte, porém, não deverá ser suficiente para trazer a produção industrial ainda em 2009 para os níveis anteriores ao agravamento da crise global, ocorrido em setembro do ano passado. A aposta dominante é que isso só ocorrerá na segunda metade de 2010, possivelmente no quarto trimestre.

 

Economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) de 1999 a 2004, Carvalho diz que o fim do processo de desova de estoques deve dar fôlego à produção nos próximos meses. Para ele, o nível de inventários já foi ajustado em setores que produzem bens de consumo duráveis, como automóveis, mas ainda não chegou ao ideal em segmentos de bens intermediários (insumos e matérias-primas).

 

Números da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostram que, em junho, 12,4% das empresas ouvidas relataram ter estoques excessivos e 5,9%, insuficientes. Em janeiro, 21,8% das companhias se queixaram de inventários elevados e ninguém informou níveis abaixo do desejável. Ainda assim, o quadro de junho não voltou ao patamar de setembro de 2008, quando apenas 3,5% das empresas tinham estoques excessivos. Com a expectativa de que o processo termine de vez neste semestre, Carvalho espera uma retomada mais forte da indústria, ainda que a demanda não esteja de volta aos níveis pré-crise. "As empresas encontram espaço para aumentar a produção, uma vez feito o ajuste de estoques."

 

A economista Marcela Prada, da Tendências Consultoria Integrada, também acredita que os estoques mais próximos da normalidade devem ajudar a produção industrial a "seguir em expansão ao longo deste e do próximo ano, provavelmente a um ritmo mais forte no segundo semestre de 2009". Perspectivas menos desanimadoras para o investimento e as exportações devem ajudar, diz.

 

Para Carvalho, a prorrogação dos cortes de impostos de veículos, linha branca e construção civil vai ajudar a indústria na segunda metade do ano. Ele acredita que as medidas não apenas induzem à antecipação de compras, mas também levam a fazê-lo quem não planejava adquirir um carro ou um eletrodoméstico.

 

A substituição de produtos importados por nacionais é o terceiro fator temporário que deve estimular a produção industrial nos próximos meses, diz ele. Segundo Carvalho, esse processo ocorreu especialmente no segundo trimestre e deve continuar também no terceiro. "A partir do quarto trimestre, porém, isso deve perder força, por causa da valorização do câmbio e do crescimento mais forte da economia." No primeiro semestre do ano, a produção local de bens intermediários cresceu 5,8%, enquanto a importação desses produtos caiu 22,1%.

 

Segundo ele, a melhora gradual do crédito para as empresas e a recuperação moderada das exportações também vão ajudar neste semestre, devendo permanecer como estímulos ao longo de 2010. Com o desempenho esperado para a segunda metade do ano, ele estima que a produção industrial feche o ano em queda de 8%, um tombo forte, mas menor que os 13,9% registrados de janeiro a maio, na comparação com o mesmo período do ano passado.

 

Como explica Marcela, o resultado de 2009 será muito fraco, porque a herança estatística (o "carry over") de 2008 para 2009 foi muito negativo, de -16,5%. Isso significa que, se a produção se mantivesse no mesmo nível de dezembro passado, a indústria teria queda de 16,5% em 2009. Nos cinco primeiros meses do ano, a indústria avançou 7,7% em relação ao patamar do fim de 2008, mas amarga perda de 13,9% em relação ao mesmo período do ano passado. Desse modo, ainda que o setor cresça com força no segundo semestre, a variação no ano será bastante negativa - Marcela projeta recuo de 8,5%. Para o resultado de junho, a ser divulgado hoje, ela espera uma alta de 0,4% em relação a maio, feito o ajuste sazonal. Carvalho prevê estabilidade e há quem veja uma pequena queda, de 0,1%, como o Bradesco. Já para o período entre julho e dezembro, a expectativa é de reaceleração. Marcela acredita numa alta mensal média de 1,2%.

 

A economista Luiza Rodrigues, do Santander, também vê um bom desempenho no segundo semestre. Além do fim do ajuste de estoques e de alguma recuperação das exportações, ela diz que os efeitos defasados das quedas de juros vão impulsionar a indústria. De janeiro a junho, a taxa Selic caiu de 13,75% para 8,75% ao ano. Para ela, é possível que, de julho a dezembro, a produção cresça entre 1% e 2% ao mês, na comparação com o mês imediatamente anterior. Com isso, a indústria fecharia o ano em queda de 5%.

 

Para 2010, a produção industrial deve mostrar um crescimento bem mais forte, ainda que se espere uma desaceleração no ritmo de expansão mensal, para a casa de 0,5% a 0,8%. No caso da estimativa para o ano fechado, Carvalho estima um avanço de 6,5% e Marcela, de 9%. Um ponto importante é que, no ano que vem, a herança estatística vai jogar a favor da produção industrial. Se ela encolher neste ano os 8,5% projetados por Marcela, o "carry over" de 2009 para 2010 será de 6%. Isso ocorre porque a produção deve ganhar força ao longo do ano, começando num nível deprimido e terminando num patamar mais alto. É o oposto do que ocorreu em 2008.

 

Carvalho ressalta que, mesmo com a perspectiva positiva para o segundo semestre, a produção industrial seguirá neste ano muito distante do nível de produção anterior ao agravamento da crise. Ela só voltará ao patamar de setembro de 2008 no fim de 2010, segundo ele. Entre outubro e dezembro do ano passado, a produção industrial encolheu pouco mais de 20%.
 


Veículo: Valor Econômico


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