Indústria de cartões perde o crédito

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Assis Moreira

 

GENEBRA - As linhas de financiamento de bancos americanos para cartões de crédito sofrerão uma redução gigantesca que pode chegar a US$ 2,7 trilhões até o fim de 2010, diz o Institute of International Finance (IIF), refletindo projeções de "certos participantes do mercado".

 

Significa que o estilo de vida americano simbolizado pelo cartão de crédito continuará sofrendo e afetando também a exportação de produtos para o até agora maior mercado consumidor do planeta.

 

"Os americanos usam cinco cartões de crédito em média, mas a desalavancagem dos bancos e o risco maior de consumidores cortam crédito e trazem mais queda no consumo nos Estados Unidos", diz o professor de finanças Nuno Fernandes, do IMD, uma das principais escolas de negócios da Europa.

 

O IIF, que reúne os principais bancos do mundo, mostra que a desalavancagem do sistema bancário dos países industrializados prossegue, com um impacto "não bem compreendido, mas amplamente negativo para a economia mundial".

 

Exemplifica com dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS), espécie de banco dos bancos centrais, de que as grandes instituições financeiras reduziram seus créditos internacionais em US$ 6 trilhões até o fim de 2008.

 

O Banco Central Europeu revela que os empréstimos para o setor privado na eurozona caíram 0,2% em abril, comparado ao mês anterior, pelo terceiro mês consecutivo.

 

Nos Estados Unidos, as linhas de crédito dos bancos tiveram declínio recorde de US$ 302 bilhões entre janeiro e abril. E eles vão ter de começar a consolidar em seus balanços até US$ 1 trilhão de investimentos que estavam fora dos balanços, boa parte relacionados a "ativos tóxicos".

 

Precisando reduzir seus ativos no meio da alta de desemprego e recessão econômica, a expectativa é de que os bancos americanos cortem os créditos para os cartões de plástico em US$ 2,7 trilhões até o ano que vem.

 

O professor Nuno Fernandes nota que, entre janeiro e abril, pela primeira vez na história houve mais movimento com cartões de débitos, pelo qual os bancos descontam diretamente os gastos da conta do cliente, do que com cartões de crédito.

 

As taxas sobre os cartões de débitos são menos lucrativas para os bancos.

 

Também aumentou o número de calotes de dívidas feitas com os cartões. Os débitos estão hoje próximos de US$ 1 trilhão. A expectativa é de que os "write-off" (lançar ativos podres como perdas) poderá chegar a US$ 90 bilhões este ano, causando mais problemas para emissores de cartões como Citigroup, Bank of America, American Express, Capital One Financial Corporation e JPMorgan.

O Congresso americano resolveu vir em socorro de consumidores e impôs uma lei que reduz a capacidade dos bancos de aumentarem as taxas e juros de clientes relapsos e de não darem crédito a quem não é solvável, ou seja, aos que teriam mais necessidade.

 

Na prática, porém, uma pesquisa do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) mostrou que 60% dos bancos americanos já endureceram as condições para a concessão da primeira carta de crédito, 55% deles aumentaram as exigências de solvência do cliente e a taxa de juro aumentou para quem já tem o plástico.

 

Para Nuno Fernandes, a questão é quem paga pelo risco maior de uma parte da clientela. Para o professor do IMD, os congressistas pavimentam o terreno para uma próxima crise, de consumidor sem capacidade de pagar, mas que continuará tendo acesso a crédito, apesar do enorme corte que os bancos planejam fazer.

 

Veículo: Valor Econômico


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