Varejo calcula até onde vai o fôlego do consumidor

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Ainda com dinheiro no bolso, os brasileiros continuaram frequentando supermercados, shopping centers e magazines no primeiro trimestre deste ano, o que fez com as vendas no varejo ficassem acima das expectativas de muitos empresários do setor.

 

As previsões catastrofistas feitas no fim de 2008 não se confirmaram e algumas redes, como a Marisa, foram pegas de surpresa. Com medo do que iria acontecer, a varejista de vestuário reduziu suas encomendas e ficou sem mercadoria suficiente em estoque para atender à procura no início do ano.

 

Nos 12 shopping centers da Multiplan, maior rede de centros comerciais do país em faturamento, as vendas dos lojistas cresceram 20,6% no primeiro trimestre em relação a igual período de 2008, totalizando R$ 1,3 bilhão. "Achávamos que seria pior. Fomos surpreendidos positivamente", afirma Isaac Peres, presidente e controlador da Multiplan, para quem as "nuvens estão menos escuras".
"Essa foi a melhor Páscoa de todos os tempos para o Wal-Mart no Brasil", diz Hector Nuñez, presidente no país da multinacional americana, a maior varejista do mundo. Com um modelo de negócio de baixo custo, o Wal-Mart foi uma das raras companhias que conseguiram se sair bem até mesmo nos Estados Unidos, onde a crise provocou sérios danos ao consumo.

 

Enquanto os americanos amargam sua pior crise desde o "crash" de 1929, os empresários brasileiros dizem que já viveram dias muito mais dramáticos que os atuais. Peres, da Multiplan, lembra da crise da moratória, em 1983, quando o PIB brasileiro caiu 3,2%. Entre os empresários, a expectativa é de que não haja crescimento do PIB neste ano, com a possibilidade de uma queda ou até crescimento de 1%.

 

Carlos Jereissati, presidente do grupo Iguatemi, maior cadeia de shopping centers do Estado de São Paulo, avalia que as empresas brasileiras estão em uma situação financeira bem mais saudável que as americanas.
"Antes da crise, os investidores sempre nos perguntavam por que nosso endividamento era tão baixo. Eles estranhavam e viam nisso uma deficiência. Agora, eles enxergam uma vantagem. Mudaram de ideia", afirma Jereissati. Com os altos juros no Brasil, as empresas brasileiras que se endividaram "não estão mais aqui para contar história", acrescenta o empresário.

 


No entanto, José Galló, o presidente da Renner, segunda maior cadeia de vestuário do país, teme que o pior ainda está por vir. "O segundo semestre vai mostrar a vida como ela é", acrescenta o executivo, para quem os efeitos do desemprego e da contração no crédito ainda não apareceram.

 

No Brasil, a massa real de salário cresceu 6,2% em fevereiro em relação a igual período de 2008, o que irrigou o comércio. Segundo o IBGE, as vendas no varejo aumentaram 4,9% em volume e 11% em receita no primeiro bimestre de 2009 em relação aos dois primeiros meses de 2008.

 

Em abril, o governo deu um novo impulso ao consumo ao reduzir o IPI (imposto sobre produtos industrializados) para fogões, refrigeradores, máquinas de lavar roupa e "tanquinhos", prescrevendo para o setor de "linha branca" o mesmo remédio já administrado, com sucesso, ao setor de automóveis.

 

Os consumidores reagiram rapidamente e correram às lojas no fim de semana seguinte ao anúncio da redução do IPI para eletrodomésticos, que deixou os preços finais entre 10% e 15% mais baixos.

 

As varejistas registraram um aumento de até 25% na procura pelos produtos que tiveram o IPI reduzido e já começaram a rever seus pedidos para o Dia das Mães, evento mais importante para o setor de linha branca depois do Natal. Agora, as expectativas são de que as vendas, nessa data, sejam 20% maiores que em 2008. Nada mal para um ano de crise.

 

Até que ponto as medidas de socorro adotadas pelo governo conseguirão impedir as consequências das turbulências econômicas, contudo, ainda é incerto. "Será que os consumidores estão antecipando suas compras? Acabados os incentivos, como vai ficar?", questiona Galló.

 

Nem todos os segmentos do varejo têm motivos para comemorar. As grandes cadeias de vestuário sentiram mais o choque e tiveram um desempenho pior neste início de ano que os supermercados. A menor confiança levou os consumidores a dar prioridade aos gastos. Descobrir a maneira como as pessoas passaram a definir sua lista de compras, depois da crise, passou a valer ouro. Os televisores de LCD, por exemplo, continuam sendo alguns dos produtos mais desejados.

 

Nos dois primeiros meses do ano, as vendas no varejo de vestuário e calçados caíram 5,7% em volume em relação a igual período de 2008, enquanto os supermercados e hipermercados venderam 6,3% mais que em janeiro e fevereiro de 2008. Apesar da contração na oferta de crédito, o varejo de móveis e eletrodomésticos não foi tão afetado, o que pode ser explicado pelas agressivas promoções. As vendas nesse segmento ainda cresceram 2,4% em volume nos dois primeiros meses de 2009.

 

Veículo: Valor Econômico


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