R$ 1,8 trilhão para o consumo

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Enquanto Banco Central, analistas econômicos e Fundo Monetário Internacional divergem nas projeções sobre o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deste ano, o governo continua implementando uma série de ações para fugir da crise e estimular a economia. Mesmo diante do cenário de incerteza, o consumo interno deve superar a marca de R$ 1,8 trilhão este ano, alta de 1,6% sobre 2008, como aponta o estudo IPC-Target do Brasil em Foco 2009, e deve ser uma das forças propulsoras para superar o quadro recessivo.

 

A pesquisa também ilustra a perda de espaço da classe média alta e reafirma a importância da classe C no mercado, indicando para as empresas onde está o maior potencial de vendas este ano.
"O resultado é reflexo da consolidação da participação do consumo da classe C no Brasil, que por sua vez é efeito imediato dos programas sociais, como as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Bolsa Família. O foco principal desses e de vários outros programas se concentra no Nordeste. O mesmo aconteceu na Região Norte, que também apresentou crescimento da fatia de consumo, quando os números são comparados com os de 2008", observa Marcos Pazzini, diretor da Target Marketing e responsável pelo estudo.

 

Apesar de boa parte dos programas sociais serem focados nas classes D e E, a classe C também acaba se beneficiando.
Fato mais relevante do estudo, produzido pela empresa de pesquisa Target Marketing, a importância da classe C com rendas médias familiares de R$ 1,4 mil (C1) e R$ 950 (C2), respectivamente, segundo a metodologia do estudo é traduzida pelo seu potencial de consumo. Pazzini destaca que a classe C absorve sozinha R$ 532,8 bilhões, com 30,1% de participação do total consumido no País.

 

"Esta fatia pode ser ainda maior. Como os padrões de gastos da classe C2 são mais próximos dos parâmetros da D e E rendas médias de R$ 600 e R$ 400, respectivamente , o consumo unido dessa parcela menos favorecida da população equivale a 17,8% do total no País, alcançado R$ 314,6 bilhões", diz.
A parcela de cima da classe média (B1 e B2, com rendas médias de R$ 4,6 mil e R$ 2,3 mil, respectivamente), apesar de perder participação para a C, se mantém no topo do consumo no País, com 42,4% do total. No alto da pirâmide social, as classes A1 e A2 (rendas médias de R$ 14,4 mil e R$ R$ 8,1 mil, respectivamente) correspondem por 21,3% dos gastos queda ante 2008, quando representaram 22,1%.

 

Pazzini também observa que a classe B2, que deverá consumir cerca de R$ 397,6 bilhões este ano, tende a receber um contingente de famílias egressas da C1 consumo de R$ 326 bilhões , elevando o montante dos gastos da classe média alta para R$ 723,6 bilhões, 41% do total previsto para 2009. Já as classes A1, A2 e B1 devem consumir outros R$ 729,2 bilhões.

 

O estudo prevê expansão da classe C, especialmente por conta do ganho de participação no potencial de consumo dos grupos mais acima na pirâmide - o C1 e o C2. O maior aumento acontecerá na C1, que abrange 24,5% dos domicílios, ante 23% em 2008, e será responsável por 18,4% do consumo nacional, contra 17,4% no ano passado. Em contrapartida, a pesquisa estima retração nas classes A2, B2 e B1. "Esta movimentação significa uma oportunidade de mercado para as empresas, através do planejamento adequado de produtos e serviços às demandas destes consumidores", diz Pazzini.

 

Antonio Lanzana, professor do departamento de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP), corrobora as palavras do pesquisador. "A classe C se expande e cabe às empresas direcionarem seus esforços. Ao mesmo tempo, não basta baixar preços. É preciso estudar os padrões de consumo dessa parcela da população para entendê-la melhor e lançar produtos adequados. Quanto à retração no consumo das classes média e alta, tal movimento é reflexo direto da crise. Apenas essa parcela da população possui aplicações ou investe no mercado financeiro", diz.

 

Para Antonio Lanzana, os resultados estão dentro do esperado. "Beneficiados pelo aumento do salário mínimo e pelo reajuste das aposentadorias acima da inflação, além dos programas sociais do governo federal, a classe C, que também tinha acesso facilitado a crédito até o início da crise, deve manter sua característica de propensão cada vez maior ao consumo. Por isso, a projeção de crescimento no consumo e do consumo per capita, não me surpreende", afirma.

 

O estudo também traça um breve panorama da população brasileira, que deverá crescer 1,36% este ano, atingindo 191,5 milhões de pessoas - resultado ajustado de acordo com a contagem do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2007. O número de mulheres é pouco superior ao dos homens 51% contra 49%. O contigente urbano representa 83,3% do total consumido, com gasto per capita anual de R$ 11.085,02 alta de 5,1% sobre 2008, quando o gasto foi de R$ 10.550.

 

REGIÕES. O levantamento também revela o aumento da participação da Região Nordeste no consumo nacional. Embora o Sudeste permaneça como a locomotiva do País, absorvendo 51,4% do total ligeira queda ante 2008, quando respondeu por 51,8% , o Nordeste se manteve no segundo lugar no ranking nacional, com crescimento na comparação com o ano passado 18,8% contra 18,2%. Além disso, a região aumentou a dianteira em relação ao Sul, que perdeu presença em relação ao ano passado 16,3% ante os 16,8% de 2008. No Centro-Oeste, o consumo permaneceu estagnado em 7,8%, enquanto no Norte houve aumento de 5,4% para 5,7% este ano.

 

O estudo também revela que as despesas das famílias brasileiras crescerão mais que o PIB 1,6% , mostrando ainda queda no consumo em praticamente todas as capitais este ano, na comparação com 2008, e crescimento em cidades de porte médio, casos de Uberlândia (MG), Duque de Caxias (RJ), Nova Iguaçu (RJ) e Feira de Santana (BA), entre outras. A participação das 27 capitais no consumo será de 32,%, ante os 32,4% alcançados no ano passado. Em valor, esta parcela representa R$ 596,5 bilhões.

 

Somadas, as 15 cidades com maior consumo no País São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Goiânia, Belém, Guarulhos (SP), Campinas (SP), Manaus e São Bernardo do Campo (SP) representam 29,4% do consumo brasileiro. Entre elas, apenas a capital paraense ganhou posições no ranking, pulando da 14º em 2008 para o 11º lugar este ano. Outros municípios também ganharam espaço, como Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Uberlândia, além de São Luís, João Pessoa, Teresina, Natal e Cuiabá. O Estado e a cidade do Rio de Janeiro se mantêm na vice-liderança, com 11,10% e 5,31%, respectivamente, ambos registrando leve declínio em relação a 2008.

 

Os cálculos do IPC-Target do Brasil2009 foram feitos com base em dados secundários atualizados, pesquisados em fontes oficiais de informação e utilizando metodologia própria.

 

Veículo: Jornal do Commercio - RJ


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