Comércio popular prevê um Natal aquecido

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A preocupação de um impacto no poder de compra da população de baixa renda não atingiu as empresas do atacado e varejo popular, que atendem os milhares de sacoleiras. A boa expectativa para as vendas de fim de ano deve-se a uma atenção maior do consumidor a presentes mais baratos, roubando assim o espaço dos itens comercializados em shoppings e até de valores mais altos. Tanto que as maiores ruas de comércio popular do País, a 25 de Março e as da região do Brás, ambas em São Paulo, apostam que as vendas de Natal serão superiores às do ano passado. No caso da primeira, o crescimento deve ser entre 10% e 15% e, na segunda, a expectativa é de expansão de 8%. Na visão de especialistas, este fato deve-se ao baixo valor agregado das compras, a estoques feitos e à proximidade do fim de ano.

 

No Brás, com 6 mil lojas, a aposta é fechar o ano com faturamento de R$ 8,5 bilhões. Segundo a Associação de Lojistas do Brás (Alobrás), neste último trimestre acontecem de 30% a 35% das vendas do ano. O aumento, em relação ao ano passado deve girar na casa de 6% a 8%. O público esperado a partir de novembro é de 500 mil pessoas por dia. Jean Makdissi Júnior, secretário da entidade, crê que a crise americana não afetará o comércio neste fim de ano. "A febre por iPhones e outros eletroeletrônicos passou, por causa dos juros. Muitas pessoas procuram produtos mais baratos. Isto pode potencializar nossas vendas."

 

Milly Barranco, gerente de Marketing da Brascol, uma das maiores lojas da região - que trabalha com mais de 800 fornecedores -, afirma que de janeiro a setembro deste ano viu uma alta de 24% no faturamento e de 14% na quantidade de clientes. "Isto mostra que os consumidores estão com potencial de compra maior que nos anos anteriores. Esperamos crescer 30% neste último trimestre." Segundo Milly, a loja atende, nesta época, de 400 a 700 clientes por dia, por isso contratou, em agosto, 100 funcionários. "São 35 mil cadastrados e o tíquete médio é de R$ 3 a R$ 5 mil. Para cativarmos o cliente, parcelamos em até 10 vezes."

 

Quanto ao dólar disparar, Milly salienta ter flexibilidade para se adaptar, principalmente porque as fábricas nacionais são fortes. "Trabalhamos com produtos de giro rápido e os clientes sempre querem novidades e não temos um estoque forte."

 

Para Marcos Cintra, vice-presidente da Fundação Getulio Vargas (FGV), o comércio popular deve passar batido pela crise americana neste fim de ano, pois não depende de financiamento a longo prazo. "Embora os comerciantes prevejam índices altos de crescimento, não acredito em patamares maiores que 5%", diz.

 

Na União dos Lojistas da 25 de Março e Adjacências (Univinco), a expectativa é de que este Natal seja de 10% a 15% melhor que o do ano passado, que foi recorde, além de um público de 800 mil pessoas ao dia. De acordo com Marcelo Semaan, um dos diretores da Univinco, a projeção das vendas do Natal foi revista. "Projetávamos as vendas de Natal para um patamar de 10%, mas, com o resultado do Dia da Criança acima do esperado, esperamos um fim de ano com faturamento até 15% maior ao do ano passado. A aposta dos comerciantes da região está enfocada em brinquedos e em enfeites natalinos."

 

Semaan não vê, para este fim de ano, recessão ou falta de crédito na praça. "Não dependemos do crédito porque as parcelas são de no máximo 3 vezes e valor agregado é menor; quando não, o pagamento é à vista. O próprio lojista tem caixa para bancar uma porcentagem de crédito." Semaan acha difícil as financeiras financiarem esse tipo de compra. Ele diz que o maior financiamento das compras é oriundo do cartão de crédito. "O tíquete médio dos consumidores da região varia de R$ 70 a R$ 100. Enquanto o consumidor tiver limite no cartão, haverá venda. As vendas com cartão de crédito, em toda a extensão da rua, variam de 20% a 70%."

 

Na análise de Fábio Mariano, professor da pós-graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), não houve impacto da crise americana neste tipo de mercado. "Os consumidores que utilizam o cartão analisam a parcela que cabe no seu bolso e não fazem questão dos juros ou de mais parcelas."

 

Ricardo Pastore, coordenador do Núcleo de Estudos de Varejo da ESPM, complementa que não haverá grandes alterações nos patamares de venda dos mercados populares, pois a economia ainda gira empregos e está muito em cima da hora para fazer mudanças radicais. "Se os juros subirem muito e o crédito diminuir radicalmente, pode haver impacto. Se o comércio sofrer mudanças radicais e as vendas caírem muito, haverá recessão. Agora, quanto a aumento de preços por causa do dólar, no próximo ano deve aumentar. Neste ano não acredito, porque há estoques na praça."

 

2009

 

Para o ano que vem, as expectativas já não são tão animadoras, para o segmento popular, como neste fim de ano. O economista Marcos Cintra aponta de que, a partir de abril de 2009, a economia, como um todo, sentirá o impacto devido a juros mais altos e a um possível nível de desemprego. "Vai acontecer um afrouxamento do mercado de trabalho, mas só ano que vem. Quando há flutuações de variáveis econômicas, o consumo é o mais rápido a reagir: pára de comprar."

 

No vestuário, Makdissi Júnior, da Alobrás, acredita que haverá mais procura por matéria-prima nacional. "A importação foi vantajosa durante um tempo. Agora, não mais." Quanto a reajuste de preço em brinquedos e outros itens vendidos na 25 de Março, Semaan aguarda o rumo da economia. "Se o dólar estacionar a R$ 2,00, os reajustes serão baixos."

 

Veículo: DCI


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