Preço dos alimentos cai com colapso

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Queda no valor das commodities e baixa na demanda provocam redução do custo ao consumidor

 

A crise econômica vai ter implicações sobre o preço dos alimentos que devem cair nos próximos meses. Em Campinas, a cesta básica vem registrando declínio desde agosto. No mês passado, o recuo foi de 0,78% e no período anterior de 1,83%. A tendência para os meses de final de ano é continuar o ritmo de diminuição dos valores dos gêneros alimentícios em decorrência de uma demanda menor, principalmente fora do País, e ainda da queda nos preços das commodities que são balizados pelo mercado internacional.

 

A pesquisa mensal do custo da cesta básica realizada pelo Centro de Economia e Administração (CEA), da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mostra que os campineiros pagaram R$ 207,81 para comprar os 13 itens de alimentação. O valor ficou 0,78% abaixo de agosto, quando os consumidores desembolsaram R$ 209,44. Foi a primeira vez em 2008, que em dois meses seguidos houve declínio no valor total pago pelo conjunto de produtos. Apenas em fevereiro, havia sido registrada outra queda.

 

O coordenador do estudo e professor da Faculdade de Economia da PUC-Campinas, Cândido Ferreira Filho, afirmou que a tendência é de declínio nos valores dos produtos que estejam pautados pelo mercado internacional, como carne, soja e milho. Ele salientou que mesmo a alta dos insumos agrícolas que vai afetar muito os produtores deverá ser absorvida, porque não existirá espaço para reajustes no varejo. “A grande agricultura exportadora deve sofrer com o recuo os preços das commodities e diminuição da demanda”, comentou o economista.

 

Porém, o especialista destacou que alguns outros itens que são vendidos apenas no mercado nacional, como tomate e batata, podem ter reajuste para cima. Outro item que deve ter o preço afetado é o trigo. “O Brasil ainda é muito depende das importações deste produto e, com o dólar em alta, o preço deve subir nos próximos meses”, previu Ferreira Filho. Mesmo com a possibilidade de repasses pontuais no valor de alguns gêneros alimentícios, o economista apostou que o custo médio da cesta básica deve se manter em queda.

 

O professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz e pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Sérgio De Zen, especialista no mercado de carne bovina, afirmou que há uma tendência no mercado desse produto ficar mais barato nos próximos meses. A crise econômica será um fator determinante para que o consumidor de outros países compre menos e isso resulte em mais produto no mercado interno. Para ele, já há sinais no mercado de que esse cenário pode se concretizar em um futuro próximo. “O preço ainda está em alta, mas deve cair nos próximos meses com os impactos da crise”, disse. De acordo com a pesquisa da PUC-Campinas, o preço do quilo do produto subiu 8% em setembro passando de R$ 12,33 para R$ 13,31.

 

Lamento

 

Os produtores rurais já estão preocupados com os reflexos da turbulência da economia mundial. O presidente do Sindicato Rural de Campinas, Antônio Crestana, afirmou que os agricultores sofrem com as sucessivas altas dos insumos. “O dólar registrou queda durante boa parte do ano, mas os fornecedores de produtos como fertilizantes e pesticidas não reduziram os valores”, comentou. Ele destacou que outro entrave grave que pode levar muitos produtores a quebrar é o crédito no mercado financeiro. “Os bancos até têm dinheiro para emprestar. O problema é que as propostas de crédito sempre são com metade do dinheiro sendo emprestado com taxas de mercado que são superiores a 25%. E a outra nos juros propostos pelo governo”, afirmou.

 

SAIBA MAIS

 

O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Insumos Agrícolas na Assembléia Legislativa gaúcha, Gilmar Sossella (PDT), propôs ontem a estatização de minas de fósforo e potássio exploradas pela iniciativa privada entre as medidas para enfrentar a elevação de preços dos adubos. O deputado não estimou um provável custo de estatização das reservas, que foram privatizadas em 1992. A proposta consta de esboço do relatório que foi apresentado hoje durante reunião da CPI.

 

Ele também sugeriu a retirada do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), que aumentaria em até 25% o custo de importação dos componentes de adubos, maior participação da Petrobras no setor, criação de uma agência reguladora para cuidar dos insumos agrícolas, mudanças tributárias e isenção da Tarifa Externa Comum para fertilizantes adquiridos fora do Mercosul, entre outras propostas.

 

A CPI foi instalada no dia 20 de maio para avaliar “indícios de prática abusiva à ordem econômica" no aumento de fertilizantes e insumos. Os deputados irão votar o texto final do relatório na próxima segunda-feira. O relator poderá, ao longo da semana, incorporar contribuições dos demais integrantes da comissão ao texto.

 

Veículo: Correio Popular


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