Crise ameaça oferta de crédito para a safra no Centro-Oeste

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Com uma safra recorde de grãos e a perspectiva de aumentar o faturamento com as exportações, beneficiadas pela valorização do dólar, os produtores do Centro-Oeste lutam para não deixar que a redução de empréstimos comprometa a chance da região recuperar-se das dívidas da safra passada e garantir o financiamento da safra futura.

 

Segundo levantamento da Agroconsult, o Mato Grosso será o estado mais afetado pela redução da oferta de crédito para a safra 2008/2009 de soja.

 

A análise feita pela empresa de consultoria ressalta os efeitos da participação de players não comerciais, os chamados fundos de investimento, que passaram a atuar na comercialização de contratos futuros e derivativos de soja. De acordo com o estudo, os níveis de volatilidade alcançaram patamares jamais vistos, exigindo dos players que atuam nesse mercado, em particular das tradings, um maior esforço financeiro para cobrir suas posições nas bolsas. "Esse ambiente mais turbulento e arriscado para as tradings provocou uma mudança na forma dessas companhias atuarem no Brasil, agravando o quadro de escassez de crédito para os produtores plantarem a safra 2008/2009".

 

A recente turbulência que ataca o mercado financeiro em todo o mundo deve tornar a situação ainda mais delicada. Com grandes instituições internacionais correndo risco de entrar em falência ou pedir concordata a fuga de investimentos em todos os setores torna-se ainda mais acelerada. O cenário coincide ainda com uma safra mais cara em razão da alta dos insumos.

 

O volume de recursos necessários para financiar o custeio da safra de soja vai saltar de R$ 19,9 bilhões para R$ 29,9 bilhões, um aumento de 50,2%.

 

"O produtor não tem dinheiro para pagar os 40% do valor das parcelas vencidas este ano, para poder renegociar os débitos nos moldes da Medida Provisória nº 432 e da CMN - Conselho Monetário Nacional - , e para investir na próxima safra", afirma o diretor administrativo da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT), Ricardo Tomczyk.

 

A retração dos investimentos por parte das tradings pode ainda fazer com que os produtores percam o embalo da valorização cambial do dólar e seu impacto positivo na conta dos exportadores, que correm o risco de arcar com a reversão na pressão dos grãos que a alta da moeda norte-americana costuma provocar.

 

De acordo com a Agroconsult, os riscos que envolvem a safra atual estão diretamente ligados ao crédito disponível para financiar as operações no mercado futuro, o que no momento é complicado para os bancos por se tratar de um período de cobertura dos prejuízos decorrentes da crise imobiliária do mercado subprime norte-americano.

 

Do outro lado estão as tradings, que na safra 2007/2008 disponibilizaram R$ 5,3 bilhões ou 27% do total de custeio da safra de soja, mas que agora sofrem com os efeitos da crise e não se sabe o quanto conseguirão acompanhar o ritmo do aumento dos custos da safra brasileira.

 

"Para manter a mesma participação para esta safra 2008/09 seriam necessários R$ 8,1 bilhões", estima a Agroconsult. No entanto, o mesmo levantamento prevê que a participação das tradings no financiamento da safra deverá ser reduzida para 18% da safra.

 

Para cobrir parte do recuo das tradings, a Aprosoja afirma que o produtor mato-grossense precisará elevar de 14% para 29% a parcela de recurso próprio para o plantio da safra 2008/2009, o que corresponde a um acréscimo de R$ 1,6 bilhão, equivalente a R$ 276 por hectare.

 

Vazio Sanitário

 

Enquanto buscam conseguir crédito ainda para esta safra os produtores do Mato-Grosso do Sul também lidam com a questão do vazio sanitário, cujo número de autuações em razão do seu descumprimento aumentou quase 300%. Em 2008, já foram registradas 47 autuações contra 17 do ano passado. Quem descumpre a lei recebe multas que podem chegar a R$ 13,5 mil. Na última safra foram notificados 2.106 focos de ferrugem, que é considerada o principal problema da cultura da soja. Desde 2001, a doença provocou a perda de mais de 14 milhões de toneladas do grão, um prejuízo acima de US$ 3,3 bilhões.

 

Veículo: DCI


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