Mercado interno atrai capital estrangeiro

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Indústria recebe maior fatia do dinheiro externo


  
Os setores da indústria que se beneficiam direta ou indiretamente da expansão do mercado doméstico foram os que mais atraíram o investimento estrangeiro direto em 2009, enquanto o financiamento interno do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) se concentrou mais na infraestrutura, quando descontados os R$ 25 bilhões destinados à Petrobras.

 

Segundo analistas, o tamanho e a perspectiva de crescimento do mercado interno são grandes atrativos para o capital externo, num momento em que se consolida a percepção de que o Brasil deverá crescer a taxas mais elevadas que a média do resto do mundo. O BNDES, por sua vez, é a grande fonte de financiamento para projetos de longa maturação no país, característica dos investimentos em infraestrutura, que tem prioridade no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

 

Depois do recorde atingido no ano passado, e do impacto da crise global, o volume de investimento externo para atividades produtivas recuou neste ano, mas a fatia abocanhada pela indústria cresceu significativamente. De janeiro a outubro, o setor ficou com 47,2% dos US$ 22,449 bilhões destinados para operações de participação no capital, acima dos 31,5% dos US$ 32,245 bilhões registrados no mesmo período de 2008.

 

A tendência também se observa nos empréstimos intercompanhias, realizados entre a matriz no exterior e a filial no Brasil, com valor acima de US$ 1 milhão. Nessas operações, a indústria abocanhou 58,2% dos US$ 15,625 bilhões desembolsados para esse fim, mais que os 46,1% dos US$ 19,757 bilhões de igual período de 2008. Os ingressos totais para a indústria atingiram US$ 19,7 bilhões de janeiro a outubro, valor muito próximo aos US$ 19,9 bilhões do mesmo intervalo de 2008.

 

Os investimentos elevados no setor de veículos evidenciam o interesse do investidor estrangeiro nos segmentos ligados ao mercado interno, diz o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. De janeiro a outubro, o setor recebeu US$ 2,083 bilhões para operações de participação no capital, mais que o dobro dos US$ 904 milhões do mesmo período de 2008.

 

O presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização (Sobeet), Luís Afonso Lima, diz que o Brasil vai se consolidando como o quinto maior mercado do mundo para o setor automotivo, num cenário marcado pelas perspectivas favoráveis nos próximos anos para a massa salarial e para a oferta de crédito.

 

"A dimensão e o potencial de crescimento do mercado interno são os grandes ímãs para o investimento estrangeiro direto vir para o Brasil", diz Lima. Para ele, os números mostram que há grande interesse das empresas multinacionais em investir na indústria brasileira, ainda que o setor responda por apenas cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB).

 

O setor de serviços, com mais de 60% do PIB, recebeu 39,9% dos investimentos diretos para participação no capital de janeiro a outubro, segundo números do Banco Central (BC). As inversões externas em infraestrutura, como em energia elétrica, estão incluídas nesse segmento.

 

O setor de veículos aparece com destaque também nas estatísticas de desembolso de recursos do BNDES, recebendo R$ 5,677 bilhões de janeiro a outubro deste ano, mais que os R$ 3,695 bilhões do mesmo período de 2008. Para o chefe do departamento de pesquisa econômica do BNDES, Fernando Puga, o segmento deverá ser um dos carros-chefe da indústria nos próximos anos, evidenciando o panorama positivo para o mercado interno.

 

Puga lembra ainda que as perspectivas favoráveis para o setor automotivo contribuem para dinamizar outros segmentos da economia que atuam como seus fornecedores, como o de metalurgia (onde está a siderurgia) e o de produtos químicos. O segmento metalúrgico ficou com R$ 3,817 bilhões dos empréstimos do BNDES desembolsados de janeiro a outubro, mais que os R$ 2,637 bilhões do mesmo período de 2008.

 

Dos ingressos de investimentos estrangeiros diretos para participação no capital, a indústria metalúrgica ficou com US$ 3,450 bilhões, menos que os US$ 4,712 bilhões de igual intervalo do ano passado, mas ainda assim a maior fatia do total recebido pela indústria entre janeiro e outubro de 2009.

 

Para Vale, os investimentos em metalurgia também estão relacionados ao bom momento da construção civil e à exploração do petróleo na camada pré-sal. "A construção civil deverá ser nos próximos dez anos o que a indústria automobilística foi nos últimos dez anos ", diz Vale. Puga também vê a expectativa benigna para a construção como um dos motores para o investimento na metalurgia.

 

O setor de produtos químicos é outro que conseguiu uma parcela expressiva de investimentos estrangeiros diretos entre os meses de janeiro e outubro. Ficou com a terceira maior fatia dos recursos para participação no capital (US$ 1,099 bilhão) e a segunda maior dos empréstimos intercompanhias (US$ 1,804 bilhão). Apesar de o país ser um tradicional e grande importador de produtos químicos, Vale e Lima veem espaço para o aumento da fabricação local desses bens, insumos importantes para vários setores da economia.

 

Outro destaque da indústria é o setor de produtos alimentícios, impulsionado pela expectativa de aumento da renda e do emprego ao longo dos próximos anos, como ressalta Vale. "A tendência é que haja um aumento do consumo de alimentos industrializados, num quadro de melhora da massa salarial."

 

De janeiro a outubro, o setor de alimentos recebeu US$ 2,4 bilhões em empréstimos intercompanhias, a maior fatia desse tipo de operação, 82,5% mais que o US$ 1,315 bilhão registrado no mesmo período de 2008. As empresas do segmento alimentício obtiveram ainda R$ 4,315 bilhões de empréstimos do BNDES, o quarto maior volume de desembolsos do banco estatal para a indústria nesse intervalo.

 

Dos R$ 106,496 bilhões de financiamentos concedidos pelo BNDES de janeiro a outubro, o setor de coque, petróleo e combustíveis ficou com a maior parcela - R$ 22,518 bilhões. Grande parte desses dinheiro foi para a Petrobras, que obteve um empréstimo de R$ 25 bilhões do banco neste ano. Segundo Puga, o banco tem um perfil de financiar "o investimento de prazos mais longos de maturação", como é o caso dos projetos da Petrobras e de vários segmentos de infraestrutura. Não por acaso, o setor de infraestrutura ficou com 33,8% dos desembolsos do BNDES realizados de janeiro a outubro, mais do que a fatia obtida pela indústria, de 28,2%, quando se exclui o setor de coque, petróleo e combustíveis.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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