A crise de crédito, que parece ter atingido fortemente a Rússia, principal importador de carne bovina do Brasil, vai frustrar as exportações brasileiras do produto. A previsão de receita de US$ 5,5 bilhões será limitada a valores entre US$ 5,3 e US$ 5,4 bilhões até o final deste ano, segundo Roberto Gianetti da Fonseca, presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec). Para o ano que vem, Gianetti diz com cautela que a previsão é de manter os patamares entre US$ 5 bilhões e US$ 5,5 bilhões, caso a situação da Rússia não se estenda por muito tempo. "É preocupante o fato de 38% das exportações brasileiras de carne in natura terem como destino logo o mercado russo, que parece ser o mais atingido pela crise. Não sabemos se a falta de crédito lá será permanente, mas certamente nos trará problemas por mais alguns meses", lamenta Gianetti.
Ele antecipou ontem, em reunião na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que entre janeiro e novembro foram embarcadas 1,29 milhão de toneladas de carne bovina (2,02 milhões de equivalente carcaça), o que resultou em receita de US$ 5 bilhões ao setor. "Tivemos crescimento em valor de 22% no acumulado do ano em comparação com igual período do ano passado, mas uma queda de 14% em tonelagem. Mas, isoladamente em novembro tivemos muita retração - queda de 34% em volume e 13,8% em receita. É a primeira vez em muitos anos que temos recuo de um mês na comparação com igual período do ano anterior", afirma.
Ele informa que no mês de novembro os frigoríficos tiveram redução de abate, e que o preço da carne no mercado internacional recuou cerca de 10%. "Estamos contando com a recuperação de parte das exportações para a União Européia (UE), que é um mercado que paga quase o dobro do que a média dos outros". O executivo da Abiec também espera retomada do mercado chileno. "Esperamos sair das atuais 120 mil toneladas para 200 mil toneladas para a UE em 2009. Para o Chile, esperamos exportar 100 mil toneladas", diz Gianetti.
No entanto, para não decrescer no próximo ano, o setor exportador de carne bovina conta, justamente, com o mercado que mais deve ser penalizado com a crise internacional. Na avaliação do ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que preside o Conselho Superior de Agronegócio da Fiesp, o mercado europeu é o que deve, no mundo, ser o mais afetado.
Veículo: Gazeta Mercantil