Retração russa estrangula vendas de carnes brasileiras ao exterior

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Pela primeira vez, ao menos desde 2003, a receita com as exportações brasileiras de carne bovina recuou num mês em relação ao mesmo período do ano anterior, disse ontem Roberto Giannetti da Fonseca, presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina (Abiec). Em novembro, as vendas somaram US$ 335 milhões ante US$ 389 milhões no mesmo mês do ano passado.

 

"É a primeira vez em muitos anos que há queda nas exportações. (...) É o primeiro sinal de que a crise atinge também a carne", afirmou, referindo-se à turbulência financeira internacional, ontem durante reunião do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Segundo Giannetti, o ano de "2008 até novembro foi bem", com o recorde de US$ 5,09 bilhões em exportações, contra US$ 4,5 bilhões em todo o ano passado. "Vamos chegar a US$ 5,3 bilhões; US$ 5,5 bilhões não vai dar", disse, referindo-se à previsão para as exportações este ano. 

 

Segundo Giannetti, a crise já afeta a cadeia produtiva, com frigoríficos reduzindo escala de abate. "Já repercute no campo". 

 

A Rússia, que importou 38% da carne bovina vendida pelo Brasil até novembro, é a principal responsável pela quedas das vendas no mês passado, por conta da restrição de crédito aos exportadores, decorrente da crise financeira. "Preocupa porque a Rússia é um dos países que mais sofre os efeitos da crise", afirmou, acrescentando que há importadores com dificuldades de fazer pagamentos. 

 

Para ele, as dificuldades com a Rússia vão continuar "por alguns meses. Mas a Rússia não é o único problema. Outros importantes clientes do Brasil são Venezuela, Irã, Argélia, Egito e Hong Kong, todos emergentes, que sofrem hoje, em alguns casos, com a queda dos preços do petróleo. "Apesar de ter 33% das exportações mundiais, o Brasil não está nos desenvolvidos", observou. 

 

Uma das razões é a restrição imposta pela União Européia à carne bovina do Brasil este ano. Com isso, as exportações deve ficar entre 100 mil e 120 mil toneladas, segundo Giannetti. Foram 350 mil em 2007. "Tivemos uma queda de 250 mil toneladas num mercado que é o que melhor paga", afirmou. O preço médio para a UE está na casa dos US$ 7 mil por tonelada enquanto em outros mercados, cai para US$ 4 mil, disse o dirigente. 

 

Mas ele acredita que as vendas ao bloco europeu devem crescer para 200 mil toneladas em 2009. "Se não houver uma situação muito grave na Rússia e se tiver retomada gradual da UE, o impacto da crise será menor", disse Giannetti. Admitindo que é difícil fazer previsões agora, ele afirmou acreditar em exportações entre US$ 5 bilhões e US$ 5,5 bilhões em 2009. 

 

A crise também complicou as exportações brasileiras de frango nos meses de outubro e novembro, segundo Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef). "Novembro mostrou a agudez da crise", disse Turra, que estima exportações de US$ 7 bilhões este ano ante US$ 4,976 bilhões em 2007. 

 

A queda das vendas à Rússia e Venezuela, países dependentes do petróleo, e os estoques em excesso no Japão preocupam, segundo Turra, mas o Oriente Médio segue demandando. Ele não descartou, contudo, que até essa região reduza as compras em decorrência da crise. Para driblar a crise, afirmou, o setor buscará abrir novos mercados, como Malásia e México. "Janeiro deve ser complicado, mas mesmo assim a previsão é crescer 5% ano que vem". 

 

Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipes (reúne exportadores de carne suína), disse na reunião do conselho que "2008 ia ser um dos melhores anos para a suinocultura, mas em novembro, despencou o mundo". Segundo ele, em novembro e dezembro as vendas caíram 50%. 

 

Também na carne suína, a Rússia é a grande preocupação, já que o país importa 40% da carne suína que o Brasil exporta - este ano a estimativa é de 600 mil toneladas. "Ainda dependemos muito da Rússia (...), que está se tornando mais protecionista", observou. 

 

Para o leite, um item ainda pouco exportado pelo Brasil, a perspectiva é de que a produção cresça 4% este ano, segundo Jorge Rubez, presidente da Leite Brasil. A forte alta na produção no primeiro semestre - 14% - elevou a oferta pressionando as cotações, hoje em R$ 0,57 na média nacional. Agora, disse Rubez, "o produtor tirou o pé do acelerador e está produzindo menos". 

 

Há pressão também na oferta externa, com elevação dos estoques em países como a Nova Zelândia, disse Marcel Barros, diretor da DPA, joint venture entre Nestlé e Fonterra. Diante da maior oferta, ele acredita que os preços do leite em pó no mercado internacional "só melhora depois do último trimestre de 2009". 

 

Ele afirmou que um reflexo da crise no setor de leite deve ser a continuidade do processo de consolidação no país. Mas, desta vez, a consolidação deve vir por meio de investidores estratégicos e não deve atrair fundos, como ocorreu no último ano, segundo Barros. 

 

Veículo: Valor Econômico


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