Em meio ao cenário econômico nebuloso, a Sadia optou por dar continuidade aos projetos de novas fábricas que estavam bem adiantados ou funcionavam experimentalmente, mesmo após o estouro da crise financeira global.
No mês passado, a companhia deu início às operações comerciais de sua primeira fábrica fora do Brasil, em Kaliningrado, na Rússia. A planta, batizada como Concórdia, foi inaugurada em dezembro de 2007 e, até antes de novembro deste ano, as linhas funcionavam apenas experimentalmente. Com o início das operações comerciais, a Sadia efetivamente se torna fornecedora de produtos processados dentro do mercado russo, em um momento de incertezas em relação aos reais efeitos da crise financeira sobre o consumo global.
Segundo Valmor Savoldi, diretor vice-presidente de operações da companhia, a produção avança em "curva lenta", mas deverá alcançar os níveis de 2 mil a 3 mil toneladas por mês já em 2009. "A capacidade máxima na primeira fase será de 5 mil toneladas por mês", contou o executivo. Savoldi estima que o volume máximo na primeira etapa possa ser atingido em aproximadamente dois anos, embora o momento seja incerto para fazer previsões.
Com a atuação dentro do mercado russo, a empresa evita riscos de enfrentar os mesmos problemas que recentemente deram dor de cabeça aos exportadores brasileiros de carnes bovinas. Com o enxugamento do crédito, muitos importadores daquele país tiveram dificuldades para internalizar cargas e finalizar suas operações de compra. De acordo com Savoldi, não ocorreu com a Sadia.
A Concórdia nasceu de joint venture entre a empresa brasileira e a russa Miratorg Holdings. A Miratorg é um dos maiores distribuidores de carnes da Rússia e trabalha com integração verticalizada da produção de suínos. Sua capacidade de produção supera a marca das 100 mil toneladas/ano de suínos vivos.
Os investimentos na fábrica chegaram a US$ 90 milhões, 60% provenientes da empresa brasileira, conforme divulgação feita à época da inauguração. As linhas de itens incluem presuntos, embutidos e empanados. A unidade terá produtos com as marcas Sadia e Myasnaya Guildia (que em português significa algo como Clube da Carne). Entre os clientes está o McDonald's. Para analistas, a decisão de levar em frente as operações é acertada. Fábrica parada é sinônimo de prejuízos.
Após o estouro da crise, que trouxe prejuízos da ordem de R$ 760 milhões à Sadia com operações de derivativos, a empresa optou por levar adiante as operações de fábricas novas que já funcionavam parcialmente ou estavam quase concluídas. Além da Concórdia, é o caso das unidades de Lucas do Rio Verde (no Mato Grosso) e Vitória de Santo Antão (em Pernambuco). Há projetos que ficam em stand by por enquanto, até que os efeitos da crise nos mercados sejam, de fato, conhecidos. Como exemplos, a fábrica no Oriente Médio e os abatedouros de suínos e aves em Mafra (norte de Santa Catarina). Segundo Luiz Fernando Furlan, presidente do conselho administrativo da companhia, Mafra não está inclusa nos planos para 2009.
A unidade no Mato Grosso começou a operar parcialmente no segundo semestre deste ano. A capacidade anual de abate é de 114 milhões de frangos e de 1,250 milhão de suínos. Além da produção de 55 mil toneladas de alimentos industrializados (bacon, linguiça e mortadela). A unidade ainda não está operando em sua capacidade máxima.
Em Pernambuco, a planta deverá começar suas atividades até março de 2009. A unidade vai produzir salsichas, linguiças, apresuntados, lanches e outros embutidos para atender ao mercado local. A capacidade anual será de 150 mil toneladas.
Os investimentos da empresa em Lucas do Rio Verde foram de R$ 800 milhões e, no nordeste, somaram R$ 250 milhões. As estimativas de faturamento, segundo Savoldi, são de R$ 1,1 bilhão e R$ 390 milhões, respectivamente, quando as fábricas atingirem sua capacidade máxima.
No ano que vem, a Sadia vai investir R$ 500 milhões em finalização de projetos e modernizações. Embora a empresa deva registrar em 2008 seu primeiro prejuízo anual após mais de 64 anos assistindo a lucros, a companhia sinaliza otimismo para 2009. O objetivo é ganhar espaço de concorrentes no mercado interno, além de não esperar perdas significativas com exportações.
Segundo Furlan, a queda de preços das commodities agrícolas vai ajudar na redução de custos e no barateamento de produtos finais, um dos motivos pelo qual a Sadia espera ampliar seu volume de vendas.
Veículo: DCI