Sadia promete enquadrar risco de câmbio em seis meses

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"Eu quero saber quando a Sadia terá uma política de risco em que eu possa confiar", disparou a analista Juliana Rozenbaum, do Unibanco, ontem, durante apresentação de resultados da fabricante de alimentos a analistas e investidores, na sede da companhia. O questionamento da analista sintetizou melhor do que qualquer outro a desconfiança que paira em torno da Sadia depois que ficou claro que a política de exposição ao risco cambial definida pela própria empresa foi jogada na lata do lixo. 


Rozenbaum queria saber em que prazo a Sadia voltará a se enquadrar dentro da sua política, que determina que a exposição cambial não deve superar a receita de seis meses de exportação, algo em torno de US$ 1,5 bilhão. Os números divulgados agora pela empresa mostram que sua exposição total ao câmbio chegou a bater em US$ 7,63 bilhões, antes que fossem tomadas medidas para minimizar o risco, ou seja, algo em torno de cinco vezes o limite auto-imposto pela companhia e informado a acionistas e credores. 


 
A analista e toda a platéia ouviram de Luiz Fernando Furlan, o presidente do conselho de administração da Sadia, o compromisso de que em seis meses a empresa deve estar caminhando para se enquadrar, já que os contratos de derivativo em aberto têm vencimento até setembro de 2009. Os meses de outubro a janeiro concentram os maiores vencimentos - mais de US$ 500 milhões de exposição mensal.

 

Em 30 de setembro, depois de ter liquidado duas de suas maiores operações, o que aconteceu nos dias 12 e 15 daquele mês, a posição vendida em dólar da empresa ainda era de US$ 6,37 bilhões. Como a empresa fez hedge (assumiu posições compradas em dólar) no valor de US$ 4,0 bilhões, sua posição líquida vendida é de US$ 2,37 bilhões. O hedge não é perfeito, porque as posições compradas são de prazo mais curto e precisam ser constantemente renovadas. 

 

Se tivesse liquidado as posições em aberto em 30 de setembro, com o câmbio a R$ 1,91, a companhia estima que teria registrado perdas adicionais de R$ 637 milhões (além dos R$ 893 milhões de perdas financeiras registradas no terceiro trimestre). Mas simulações incluídas no balanço trimestral por exigência da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) mostram que as perdas potenciais se ampliaram conforme o câmbio continuou a se desvalorizar. Com o dólar a R$ 1,95, as perdas subiriam para R$ 891 milhões. Com uma cotação de R$ 2,20, o prejuízo explodiria e iria a R$ 2,48 bilhões. A Sadia argumenta que suas posições compradas em câmbio e suas receitas com exportação também subiriam com o dólar mais alto e seriam mais do que suficientes para cobrir essas perdas adicionais. 

 

A respeito da falha dos controles internos da empresa que permitiram tamanha tomada de risco, Furlan assumiu outro compromisso: "daqui para a frente, nada de surpresas". Ao trazer a público seus graves problemas financeiros, em setembro, a Sadia alegou que as informações de desenquadramento da exposição cambial não foram comunicadas pela gerência de risco e pela diretoria financeira ao conselho de administração, que era presidido por Walter Fontana, afastado depois que a crise veio à tona. Curiosamente, na antiga estrutura da Sadia, a diretoria financeira não se reportava ao presidente. 

 

Ontem, Furlan, que foi chamado de volta à companhia para ocupar o lugar de Fontana, reiterou que a empresa alterou seu organograma e que, a partir de agora, tanto a gerência de risco quanto a diretoria financeira se reportarão diretamente ao presidente executivo, Gilberto Tomazoni. "O presidente receberá informações constantes, semanais", disse Furlan. Está sendo criado também um comitê de auditoria, além do comitê de finanças que já existia. 

 

A dívida de curto prazo da Sadia saltou 334% em um ano, atingindo R$ 3,8 bilhões. Segundo a agência de rating Standard & Poor's, a empresa tomou cerca de R$ 2 bilhões (US$ 1 bilhão) em empréstimos de curto prazo para equilibrar seu caixa diante das perdas com derivativos. 

 

Furlan assegurou que hoje a companhia não está mais atrás de crédito bancário, mas está "aberta a renegociações". "Não estamos com uma posição arrogante e nem subserviente. Não estamos empurrados no 'corner'", disse ele, que durante toda a apresentação imprimiu otimismo ao discurso. O ex-ministro do governo Lula procurou adotar um tom entre o cômico e o debochado e lançou mão de uma série de piadas e gracejos sobre os mais variados temas - da política ao esporte. Mas a platéia não estava muito para o riso. 

 

Veículo: Valor Econômico


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