Sadia tem o maior prejuízo da história depois de derivativos

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Luiz Fernando Furlan, presidente do conselho de administração da Sadia, que reassumiu a posição depois do escândalo financeiro que levou a companhia um prejuízo de R$ 777,4 milhões no terceiro trimestre, encerrou a teleconferência com imprensa recomendando cautela e canja de galinha. "Enquanto estiverem tomando canja, estarão consumindo frango Sadia". Apesar da tentativa do executivo de chamar atenção para as questões operacionais e para o "otimismo" da equipe da empresa, a apresentação foi dominada por questões ligadas aos derivativos.

 

A companhia tinha uma posição vendida em dólar - entre os chamados "target forward" e opções - de US$ 8,4 bilhões antes de divulgar os prejuízos financeiros ao mercado. Desse total, encerrou setembro com uma exposição de US$ 6,4 bilhões. Os valores são bastante superiores aos US$ 3,6 bilhões estimados pela empresa logo após a divulgação dos problemas com derivativos - quando afirmou que estava exposta entre US$ 3,2 bilhões e US$ 3,6 bilhões. 

 

O total também é substancialmente maior que a posição vendida de US$ 3,9 bilhões apresentada nas notas explicativas do balanço de junho, indicando aumento de exposição durante o próprio terceiro trimestre. 

 

Parte das operações foi liquidada antecipadamente e parte foi mantida, pois tem prazo de 12 meses. A parcela liquidada trouxe uma perda de R$ 544,5 milhões. 

 

No entanto, todo o prejuízo com a crise, incluindo perda com aplicações em títulos do Lehman Brothers (R$ 239,5 milhões) e outros ajustes, levaram a uma perda financeira líquida de R$ 1,2 bilhão no balanço de setembro - soma de perdas com e sem efeito no caixa. Essa soma foi que levou ao maior prejuízo trimestral da história da companhia. No terceiro trimestre de 2007, a empresa teve lucro líquido de R$ 188,3 milhões. 

 

Além das perdas assumidas a Sadia tinha R$ 970 milhões depositados como chamada de margem e fiança bancária dos contratos mantidos, ao fim de setembro. Furlan explicou, porém, que esse montante não significa perda. A empresa pode recuperar os recursos, que são corrigidos pela taxa de juros domésticas. A recuperação ou a perda dependerá do comportamento do câmbio no momento das verificações dos contratos ainda existentes - cujos vencimentos vão até setembro de 2009. 

 

Como contrapartida às posições vendidas em dólar, a Sadia tinha US$ 4,0 bilhões em contratos de compra de dólar, gerando uma exposição líquida de US$ 2,3 bilhões. 

 

A Sadia negou boatos de que teria acertado empréstimo de R$ 800 milhões com o Banco do Brasil ou de que estaria em busca de novas linhas. "Não tomamos novo empréstimo nem estamos procurando neste momento", afirmou Furlan. Segundo o executivo, a empresa apenas aproveitou a reabertura do mercado para "pequenas operações" de adiantamento de contrato de câmbio (ACC). 

 

Estão em curso liberações de recursos que gradualmente têm sido colocados no caixa da empresa pelo BNDES, mas de contratos para o financiamento de projetos da empresa que já existiam antes da crise que abateu a empresa em setembro, segundo Furlan. No fechamento de setembro, o caixa da companhia estava em R$ 2,3 bilhões - sem considerar os recursos depositados como margem e fiança dos contratos com derivativos ainda abertos. 

 

O conselho de administração da Sadia aprovou a manutenção do plano de R$ 1,6 bilhão em investimentos programados para 2008 e um montante superior a R$ 500 milhões para 2009, segundo Furlan. Esses recursos, contudo, não são referentes a novos projetos, mas apenas aos que já haviam sido aprovados pelo conselho da companhia antes das perdas com derivativos de câmbio. 

 

Na segunda-feira, a Sadia apresentará mais detalhes sobre as operações e sobre o relatório elaborado pela KPMG que apurou as ações e responsabilidades no caso das perdas com derivativos ocorridas com a desvalorização do real. O encontro foi solicitado pela Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, detentora de 8,6% das ações da empresa. A fundação quer explicações detalhadas sobre as perdas para estudar uma possível ação de responsabilidade civil contra os administradores e até mesmo para ressarcir as perdas à companhia. Uma versão completa do levantamento da KPMG será apresentada à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). 

 

A Sadia encerrou o terceiro trimestre com receita bruta de R$ 3,15 bilhões, total 28,3% superior ao de igual período de 2007. O avanço da receita líquida foi de 29,7%, para R$ 2,8 bilhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (lajida), indicador de desempenho operacional, em contrapartida, caiu 0,3%, para R$ 272,3 milhões. A margem lajida caiu de 12,7% para 9,8%. 

 

Veículo: Valor Econômico


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