Prejuízo da Sadia pode superar R$ 890 milhões

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Na divulgação dos resultados financeiros do terceiro trimestre a Sadia S.A. revisou ontem os números dos prejuízos anunciados em setembro. No balanço, a perda com operações de derivativos foi ajustada de R$ 760 milhões para R$ 653 milhões. Em compensação, os prejuízos até 30 de setembro com os títulos do banco Lehman Brothers , ainda não anunciados, agora somam R$ 239,5 milhões. "São perdas que ainda não influenciam no operacional da companhia. Esses títulos vencem em setembro de 2009 eo cenário pode mudar", explica Gilberto Tomazoni, diretor-presidente da companhia. No terceiro trimestre, a Sadia registrou prejuízo líquido de R$ 777,4 milhões - a Perdigão, sua principal concorrente teve prejuízo de R$ 25,4 milhões. No acumulado dos nove meses, o prejuízo da Sadia se dilui e soma R$ 442,6 milhões - em 2007, a empresa teve um lucro trimestral de R$ 188,4 milhões e nos nove meses, de R$ 393,9 milhões. De janeiro a setembro, a Perdigão teve lucro líquido de R$ 128,1 milhões.

 

Em 30 de setembro deste ano, os contratos derivativos de câmbio da Sadia tinham demandado R$ 970,2 milhões de depósito da companhia. "Os contratos futuros de câmbio possuem vencimentos mensais de até doze meses. O valor que retornará à companhia ainda não é sabido. Alguns contratos que temos na BM&FBovespa não permite que compensemos a posição vendida com a comprada, eliminando a necessidade de envio de margem. Estamos procurando ver se a bolsa aprimora esse serviço prestado", diz Luiz Fernando Furlan, presidente do Conselho de Administração.

 

A empresa informou que em 30 de setembro tinha no caixa aproximadamente R$ 2,3 bilhões para fazer frente a potenciais chamadas de margem e garantir fluxo operacional de pagamentos. "Este montante é suficiente para fazer jus a todos os compromissos da Sadia no curto e médio prazos", reitera Furlan.

 

Ao final de setembro de 2008, a Sadia registrava uma dívida líquida de R$ 4,0 bilhões, um aumento de 86,2% quando comparado à posição ao final do trimestre anterior (fim de junho 2008). As taxas de juros média ponderada nos empréstimos do circulante existentes em 30 de setembro de 2008 subiu para 9,44% ao ano, ante aos 6,06% ao ano em 30 de junho de 2008. A relação dívida liquida sobre EBITDA ficou em 3,4 no final do terceiro trimestre, bem acima dos 1,1 registrados ao final do mesmo trimestre de 2007. Segundo a companhia, a piora do indicador se deve aos investimentos feitos neste ano e dos novos aportes feitos para fazer frente às perdas financeiras.

 

De acordo com Furlan, o conselho de administração reiterou a manutenção do plano de investimento para este ano. Até dezembro serão aplicados R$ 1,6 bilhão, dos quais 92% já foram liberados.

 

No terceiro trimestre, a companhia teve uma receita líquida de R$ 2,8 bilhões, 29,7% mais do que o realizado em igual período de 2007. O faturamento foi de R$ 3,2 bilhões, crescimento de 28,3%. De janeiro a setembro, a receita líquida foi de R$ 7,7 bilhões, 26,4% mais que no mesmo período de 2007, e faturamento de R$ 8,67 bilhões - aumento de 25,2%.

 

O EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) atingiu R$ 272,3 milhões no trimestre, com margem de 9,8%. De janeiro a setembro, o EBITDA acumulado é de R$ 820,7 milhões, valor 11,8% maior do que o verificado no ano passado e que corresponde a uma margem de 10,7%.

 

A empresa continuou registrando desempenhos satisfatórios nas vendas no mercado brasileiro que cresceram 18,5% no trimestre e 13,3% de janeiro a setembro, na comparação com iguais períodos de 2007. A companhia manteve a projeção de margem EBITDA entre de 11% a 12% para 2008 e de uma receita de R$ 12 bilhões.

 

Desde o dia 25 de setembro, quando a companhia divulgou as perdas financeiras de R$ 760 milhões, até ontem, o valor das ações teve um tombo de 55%.

 

Além dos fatores financeiros, as empresas de carnes devem também padecer de margens operacionais menores daqui em diante, segundo Peter Ping Ho, analista da corretora Planner. "Esse setor já vinha de margens apertadas e a tendência é de mais compressão", diz Ping Ho. Ele explica que o cenário de aperto de crédito que está se desenhando tanto no mercado interno como no externo vai resultar em retração do consumidor, inclusive na compra de carnes (ver mais sobre o assunto na página B11). "Deve haver deslocamento de parte do volume destinado ao mercado externo para o interno o que vai pressionar os preços para baixo e encolher ainda mais as margens", prevê o especialista da Planner.

 

Fusão anunciada

 

A Minupar Participações S.A. e a Arantes Alimentos anunciaram ontem ao mercado as condições iniciais para uma possível integração operacional e societária das companhias. O memorando prevê que a operação não resultará em desembolso de caixa pelas parte envolvidas.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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