Citrosuco fecha fábrica e Bebedouro está de luto

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"Está um clima de velório aqui em Bebedouro (SP)", relata Walkmar Brasil de Souza Pinto, chefe da Casa da Agricultura da cidade - órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo. O luto descrito pelo engenheiro agrônomo é pelo fechamento, por enquanto temporário, da fábrica de processamento de laranja da Citrosuco.

 

A segunda maior processadora de suco de laranja do mundo informou, por meio de sua assessoria, que a planta industrial em questão "será utilizada apenas para o armazenamento da bebida". A " opção estratégica" da subsidiária do Grupo Fischer em suspender as operações de processamento de suco culminou com a demissão de 208 funcionários.
"É um impacto muito grande pois não existe possibilidade de absorver esse pessoal", lamenta o chefe da Casa da Agricultura de Bebedouro. Os efeitos desse impacto devem se estender até o início da próxima safra, quando pelo menos 200 pessoas que seriam contratadas temporariamente, ficarão à margem do mercado de trabalho.

 

Aos já desempregados se somam outra leva de trabalhadores, rurais, que vão ter que dar novo destino às laranjas por eles colhidas. A empresa garante que "a unidade continuará recebendo normalmente a laranja adquirida dos produtores da região", matéria-prima que seria processada nas outras duas fábricas da Citrosuco, em Matão e Limeira, também no interior paulista. A fábrica, agora parada, ostenta uma capacidade de moagem de 33 milhões de caixas.

 

Segundo comunicado divulgado pela assessoria, os níveis de produção e os volumes comercializados serão mantidos. "Mas a Citrosuco vai arcar com o custo para transportar a caixa até suas outras fábricas?", questiona Souza Pinto. De acordo com o engenheiro agrônomo, o custo de produção por caixa de laranja negociada e transportada para fora de Bebedouro subiria cerca de R$ 3,50. Para encher uma caixa de 40,8 quilos, o produtor não gasta menos de R$ 13. Levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) aponta que no primeiro mês do ano a indústria pagou em média R$ 6,75.

 

O presidente da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), Flávio Viegas, "já previa" a parada da linha de produção de Bebedouro. Segundo ele, "a indústria promove a contração da oferta, para ter condição de aumentar o preço ao consumidor e reduzir o preço pago ao produtor", acredita. Essa "política deliberada de contração da demanda" denunciada por Viegas foi negada pela empresa. "Não fecharíamos uma fábrica só para aumentar a margem", rebate a assessora.

 

"A decisão da Citrosuco de racionalizar seus processos de produção, mediante o melhor aproveitamento de seus ativos industriais, visa o ganho de eficiência numa conjuntura de estagnação da demanda internacional de suco de laranja", justifica-se formalmente a empresa. Gilberto Tozatti, consultor do Grupo de Consultores em Citros (Gconci), avalia que o impacto será regional "e não para o setor como um todo". "Temos uma safra reduzida e as industrias estão trabalhando com capacidade ociosa".

 

A unidade de Bebedouro pertencia à uma cooperativa dos produtores da região até ser vendida para a Cargill, que negociou o ativo com a Citrosuco em 2004. "Já havia ociosidade naquela ocasião". Viegas calcula que até ser fechada, a fábrica operava com apenas 50% da capacidade. "O fechamento já estava deliberado. Os sinais eram claros, não havia investimento em manutenção", denuncia o presidente da Associtrus, que não acredita na retomada das atividades. A unidade que a Louis Dreyfus Commodities mantém na cidade continua em operação, contudo não é processada nem metade das 40 milhões de caixas que suporta moer.

 

Menos fábrica, menos laranja

 

A Casa da Agricultura calcula que em 1991 eram cultivados apenas três mil hectares de cana-de-açúcar e 45 mil de laranja. Este ano a situação se inverteu, são 34,4 mil hectares de cana contra 18 mil hectares de laranja. Bebedouro já foi considerada a capital nacional da laranja.

 

Na área atual dedicada ao cultivo da fruta existem cerca de seis milhões de pés de laranja. No ano passado foram colhidas 8,6 milhões de caixas. "E nesta safra devemos colher menos ainda", calcula Souza Pinto. De acordo com o engenheiro agrônomo, a quebra provocada pelas chuvas escassas e irregulares pode chegar a 25%.

 

De acordo com Flávio Viegas, a Citrovita, do Grupo Votorantim estaria vendendo as unidades de processamento de laranja em Araras e Catanduva, ambas no interior paulista. As negociações reconhecidas por fontes do mercado e não comentadas pela empresa, acontecem à revelia dos contratos que seguem sendo fechados com os produtores.

 

Walkmar Brasil revela que a Citrovita renovou contrato por mais dois anos "com um pull de compradores da região para entrega na fábrica de Catanduva".

 

O Grupo Votorantim vendeu no fim de 2008 as empresas de biotecnologia Canavialis e Alellyxs para a Monsanto. Este ano, o Grupo negociou pouco menos da metade das ações do Banco Votorantim com o Banco do Brasil e, na contra-mão, anunciou a aquisição da Aracruz Celulose, indicando uma tendência de concentração nas áreas de produção de matéria-prima, como cimento e celulose, por exemplo.

 

A indústria processa 80% da laranja colhida. Desse total de bebida, 70% é destinado ao o mercado europeu. E caso ele volte a se aquecer, "a unidade da Citrosuco em Bebedouro estará pronta para operar", ameniza a multinacional por meio de sua assessoria. Dono do maior pomar de laranjas do mundo, São Paulo conta com apenas outras 8 unidades para processar a fruta.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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