Contra crise, SABMiller busca consumidor da África

Leia em 4min 40s

Andrews Bortey escolhe, junto com a esposa, uma mesa no Tsui Anaa - um pub cuja tradução é algo como "A Paciência Compensa" - em Accra, a capital de Ghana, depois de um dia de trabalho como pescador. Ele pede uma Chibuku e dá uma chacoalhada vigorosa na cerveja antes sorver a bebida densa e de aparência leitosa. A Chibuku, vendida em embalagens de papelão azul e branco, é chamada de "Shake-Shake" pelos aficionados porque os ingredientes tendem a se separar, deixando uma pasta parecida com iogurte no fundo. Esse resíduo pode incomodar alguns apreciadores de cerveja ocidentais. Mesmo assim, a SABMiller, conhecida por cervejas límpidas como a Peroni, a Grolsch e a Miller Lite, além da Castle Lager da África do Sul, está contando com a bebida favorita de Bortey para entrar no mercado de cerveja do continente africano, que vem crescendo em ritmo acelerado.

Com a desaceleração do consumo de cerveja na Europa ocidental e nos Estados Unidos, fabricantes globais de cerveja como SABMiller, Diageo e Heineken esperam ganhar participação de mercado entre a crescente classe média na África. A receita obtida pela SABMiller no primeiro semestre do ano passado com os países africanos, excluindo a África do Sul, cresceu 22% para US$ 1,8 bilhão. (Uma encarnação anterior da companhia vem vendendo cerveja na África do Sul desde 1895.)

Com a Chibuku, a SABMiller está tentando conquistar os africanos de baixa renda, mais acostumados com as cervejas "informais", de produção caseira. "Isso está atraindo consumidores de um novo nível de renda para a categoria", afirma Michael Steib, analista do Morgan Stanley. "Com o aumento da renda, há espaço para melhorar o padrão dos consumidores."

A SABMiller, a segunda maior fabricante de cerveja do mundo, perdendo apenas para a Anheuser-Busch InBev, está investindo US$ 260 milhões na África este ano, em parte para ampliar a produção da Chibuku, vista como uma alternativa comercial a uma bebida à base de milho e sorgo chamada Brukutu, tradicionalmente produzida e consumida em casa. "Ela tem o sabor da Brukutu", diz Bortey. Sua esposa, Patricia Kaa, acrescenta que a bebida da SABMiller não só é mais fácil de ser encontrada, como também é melhor produzida. "Ao contrário da Brukutu, sabemos que a Shake-Shake é preparada sob condições ideais de higiene", diz ela.

A Chibuku chega a custar 40% menos que as cervejas tradicionais, segundo Wes Tiedt, diretor-gerente da National Breweries, uma unidade da SABMiller. Bares de Gana vendem a embalagem de papelão de 1 litro por 1 cedi (58 centavos de dólar) a 1,3 cedi. A bebida tem uma vida útil de cinco dias, uma vez que continua fermentando dentro da embalagem de papelão, tornando-se mais alcoólica - a graduação é de 3%, podendo chegar a 5% - e mais amarga. O estilo de cerveja densa foi formalizado na Zâmbia na década de 1950, quando o mestre-cervejeiro Max Heinrich escreveu a fórmula e os habitantes locais a batizaram de chibuku, que significa "de acordo com o livro". Hoje, ela está bem estabelecida em Malawi, Botsuana e Zâmbia. A SABMiller pretende vender a bebida em 12 países africanos dentro de três anos.

A SABMiller não é a única fabricante de cerveja que almeja crescer na África. A Diageo, mais conhecida por sua vodca Smirnoff e pelo uísque Johnnie Walker, comprou uma cervejaria na Etiópia por US$ 225 milhões em janeiro. E a holandesa Heineken adquiriu cinco cervejarias na Nigéria e duas na Etiópia no ano passado. Mas elas estão basicamente se atendo às cervejas ao estilo ocidental.

O potencial de vendas das cervejas africanas mais densas não é pequeno. A SABMiller previu em 2009 que o mercado africano de cervejas de produção caseira pode estar avaliado em US$ 3 bilhões ao ano. Tiedt estima que o mercado de cervejas informais é cerca de quatro vezes maior que o das cervejas claras na África. A National Breweries tem cerca de 60% do mercado das cervejas opacas na África e uma capacidade anual de produção de 1,8 milhão de hectolitros. "Somos os únicos a fazer isso comercialmente", diz Tiedt. "Trata-se de uma oportunidade enorme."

A maneira como os aficionados consomem a Chibuku varia de país para país. Em Malawi, a parte de cima da embalagem de papelão é cortada e a cerveja é passada entre amigos. Em Zâmbia, a cerveja é bebida em copos. O sabor também varia de mercado para mercado, uma vez que a SABMiller atende as preferências locais e usa ingredientes como milho e sorgo maltado produzidos perto das fábricas, diz Tiedt.

Distribuir uma cerveja com prazo de validade de apenas cinco dias é difícil, especialmente nas áreas rurais, que não possuem vias pavimentadas, o que limita o mercado da SABMiller. Mary Abotse começou a vender a Chibuku em seu pub Tsui Anaa, em Accra, em julho. Ela diz que embora os clientes estejam entusiasmados com a bebida, ela não forma estoque devido ao seu prazo de validade curto. "Compro um engradado com 15 unidades", diz ela. "Meu estoque acaba em quatro dias."

A SABMiller acredita ter a solução para este problema: a Chibuku Super. O produto, que está passando por um teste de mercado em Zâmbia, é vendido em embalagens plásticas à prova de vazamentos e tem validade de 21 dias. "Acho que isso vai mudar o jogo para nós. Não se trata mais necessariamente de uma bebida de consumo presencial", diz Tiedt.


Veículo: Valor Econômico


Veja também

Ministério Público pede condenação da Ambev por litrão

O Ministério Público Federal pediu a condenação da Ambev em processo que investiga se o lan&...

Veja mais
Inglaterra tem a 'nova Champagne'

Champanhe inglês? Pelas regras de denominação protegidas da União Europeia isso é impo...

Veja mais
AB Inbev paga bônus a 40 executivos

Carlos Brito, o principal executivo da AB InBev, fabricante das cervejas Budweiser e Stella Artois, está para ser...

Veja mais
Parecer condena 'litrão' da Ambev

O Ministério Público Federal (MP) divulgou na semana passada que o litrão da Ambev - a embalagem de...

Veja mais
Sobretaxar vinho visa combater subsídio

Aplicação de salvaguarda pelo Ministério do Desenvolvimento também evitaria efeito de contra...

Veja mais
Vinícola nacional promete ampliar e melhorar produção

Caso o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) decida impor salvaguarda...

Veja mais
Concorrentes buscam mercado de café em cápsulas da Nespresso

Na semana passada, mais dois fabricantes acordaram e sentiram o cheiro do café - ou das caras cápsulas de ...

Veja mais
Governo pode restringir ou sobretaxar vinho importado

Ministério aponta indícios de que compras prejudicam indústria nacionalImportadores dizem que tipo ...

Veja mais
Secex estuda salvaguardas para o vinho brasileiro

A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) determinou a abertura de investigação para averiguar a ne...

Veja mais