Cenário macroeconômico favorece avanço do setor supermercadista em 2024. Faturamento das empresas mais que dobrou em uma década
A conjuntura macroeconômica de 2024 voltou a favorecer o desempenho do varejo alimentar brasileiro. O consumo das famílias brasileiras avançou 4,8% no acumulado do ano, conforme dados do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se do melhor resultado desde 2011, quando o crescimento também havia registrado expansão de mesma magnitude.
Esse aumento foi estimulado por uma combinação de fatores, com destaque para a melhora consistente do mercado de trabalho. A taxa de desemprego encerrou o ano em 6,2%, com média anual de 6,6% — o menor patamar da série histórica da PNAD Contínua, iniciada em 2012. Ao lado disso, o rendimento médio real habitual dos trabalhadores atingiu R$ 3.255,00, reforçando o poder de compra das famílias. A massa de rendimentos reais — que representa a soma dos salários pagos à população ocupada — teve expansão de 7,7% no ano, superando R$ 330 bilhões.
Esse cenário de recuperação do emprego e da renda foi complementado por estímulos oriundos dos programas de transferência de renda promovidos pelo governo federal — a exemplo do Bolsa Família, do Auxílio Gás e do Pé-de-Meia. Paralelamente, cerca de 8,7 milhões de brasileiros deixaram a condição de pobreza e passaram a integrar o mercado consumidor, segundo estimativas oficiais. O contingente é equivalente à população do Estado do Ceará, que somava 8,8 milhões de habitantes no último Censo Demográfico (2022).
Esses fatores tornaram-se ainda mais relevantes diante de uma inflação mais persistente — especialmente no grupo de alimentos e bebidas, que encerrou o ano em alta acumulada de 7,69%. A melhora das condições econômicas garantiu a manutenção da capacidade de consumo das famílias, elemento central para o bom desempenho do setor.
Esse conjunto de variáveis macroeconômicas teve efeito direto sobre o desempenho do setor supermercadista. De acordo com a 48ª edição do Ranking ABRAS, o consumo anual das famílias no varejo alimentar de autosserviços cresceu 6,5% em 2024 em relação ao ano anterior, elevando o faturamento bruto do setor para R$ 1,067 trilhão.
Em perspectiva histórica, o setor apresentou evolução expressiva. Em 2014, o faturamento registrado foi de R$ 295 bilhões. Já em 2024, apenas as empresas respondentes da pesquisa ABRAS movimentaram R$ 662,2 bilhões — mais que o dobro do montante registrado uma década antes. Esse crescimento reflete não apenas o avanço do consumo, mas também os ganhos de escala, de eficiência operacional e de expansão territorial do setor.
Como consequência, a participação do varejo de autosserviços no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro também aumentou. Pode-se dizer que, a cada R$ 100 gerados na economia nacional, aproximadamente R$ 9,12 tiveram origem no varejo alimentar de autosserviços. Em 2024, o setor respondeu por 9,12% do PIB, o que representa um avanço de 0,10 ponto percentual em relação aos 9,02% registrados em 2023 — uma variação relativa de aproximadamente 1,1%. Esse resultado indica que, embora a economia como um todo tenha crescido, o setor supermercadista avançou em ritmo superior. Para fins de contextualização, o PIB nacional teve expansão de 3,4% no ano, com crescimento de 3,3% da indústria, 3,7% dos serviços e a retração de 3,2% na agropecuária.
O impacto positivo não se limitou ao faturamento. Em termos de geração de emprego, o varejo de autosserviços manteve papel fundamental, sobretudo na formalização da mão de obra e no desenvolvimento regional. Atualmente, são mais de 9 milhões de empregos, distribuídos por cerca de 424 mil lojas em operação nos 26 estados e no Distrito Federal.
Segundo o vice-presidente de Relações Institucionais e Administrativo da ABRAS, Marcio Milan, os dados reforçam a relevância do setor na estrutura econômica do País. “Se voltarmos dez anos no tempo, veremos que o setor enfrentava uma fase de desaceleração do consumo, influenciada por fatores macroeconômicos e políticos. As empresas mantiveram seus investimentos, atravessaram períodos desafiadores e, agora, consolidam uma trajetória de crescimento mais robusta. O avanço de 6,5% em 2024 contrasta com o ritmo modesto de 1,8% registrado em 2014.”
Os dados apresentados têm como base as 1.017 empresas que responderam ao levantamento da ABRAS neste ano, além das companhias analisadas no estudo da NielsenIQ sobre a Estrutura do Varejo de Autosserviços e aquelas mapeadas pelo Sebrae no segmento do Simples Nacional.
R$ 1.067 trilhão de faturamento em 2024
9,12% do PIB
9 milhões de colaboradores diretos e indiretos
424.120 de lojas em todo o País
30 milhões de consumidores por dia passam pelas lojas do setor