Já se compra até vestido de noiva pela internet

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Novas tecnologias ajudam consumidor a ficar menos dependente do comércio tradicional

 

Daqui a quatro meses, quando Fernanda Figueiredo entrar no salão para a cerimônia de seu casamento, os convidados nem vão desconfiar que seu vestido de noiva veio do outro lado do mundo, mais precisamente de Xangai, na China.

 

Com um clique num site de vestidos de noiva, Fernanda resolveu um problema que para a maioria das noivas consome noites de sono e muitas idas à Rua São Caetano, polo de lojas de roupas para casamento que fica na cidade de São Paulo. "Não tenho paciência nem tempo a perder", diz a médica de 28 anos.

 

Ela viu o vestido num blog. Gostou do modelo e observou que ao lado da foto havia um endereço eletrônico. Foi só seguir o caminho do shopping virtual até chegar a um site chinês de roupas de casamento.

 

A melhor parte foi descobrir que o vestido custava US$ 319. Com mais US$ 30 de frete, o preço subiu para US$ 349, um pouco mais de R$ 600, pagos com cartão de crédito. "Se fosse fazer o primeiro aluguel gastaria entre R$ 3 mil e R$ 5 mil", calcula ela.

 

Apesar do temor de comprar algo que não lhe servisse ou que não fosse entregue no prazo, ela decidiu se arriscar. Primeiro porque faltava muito tempo até o dia do casamento. O site também dava as indicações de como tirar as medidas para obter o tamanho do manequim. Além disso, o comprador acompanha o estágio no qual está o produto, da confecção até o desembarque no porto brasileiro.

 

"Encomendei o vestido em novembro do ano passado e, 30 dias depois, estava na minha casa, no Rio de Janeiro", diz a médica. O vestido era exatamente o que ela tinha visto na foto. "O material é de ótima qualidade. Só precisei ajustar um pouco."

 

Pelo ajuste, ela gastou mais R$ 300 na costureira. Ao todo, desembolsou menos de R$ 1 mil pelo vestido de noiva. "Achei muito barato, não tive trabalho e encontrei mais opções do que teria nas lojas físicas", observa.

 

Ferramentas. Fernanda é um exemplo de como as novas tecnologias, como internet e celular, estão se tornando ferramentas para o consumidor ficar menos refém das lojas tradicionais.

 

"Antes, quando só existiam lojas físicas, o varejo era um território conhecido. Agora as lojas tradicionais terão de se reinventar para atender ao cliente", afirma Alejandro Souto Padron, sócio da área de Global Business Service da IBM Brasil, fazendo referência à possibilidade que o comércio eletrônico dá ao consumidor de pesquisar e comparar preços e até comprar produtos do outro lado do mundo.

 

A consultoria acaba de concluir pesquisa em seis países - três emergentes (Brasil, Índia e China) e três economias maduras (Estados Unidos, Reino Unido e Canadá) -, para saber o que os consumidores esperam e desejam das lojas no futuro.

 

A principal constatação é que não é possível atuar no varejo tradicional sem considerar tecnologias como internet, celular, quiosques eletrônicos e até a TV digital, que mal começou no Brasil. A pesquisa revela, por exemplo, que nos países emergentes há uma parcela maior de consumidores com disponibilidade de usar duas ou mais tecnologias na hora de ir às compras na comparação com consumidores de países desenvolvidos.

 

Metade dos brasileiros, assim como 50% dos indianos, já dispõem de duas ou mais tecnologias antes de bater o martelo nas compras nas lojas físicas. Essa participação só é superada pela China, onde 56% dos consumidores estão nessa condição. Ao contrário do que se pensa, em economias maduras como Reino Unido, EUA e Canadá, a fatia de consumidores com predisposição de usar duas ou mais tecnologias antes de comprar é menor, 37%, 28% e 23%, respectivamente.

 

"O brasileiro é ávido por tecnologia. Ele sai de casa sem carteira, mas se esquecer o celular, volta", observa Padron. Segundo ele, apesar de ainda não estar disponível no País, 81% dos 3 mil brasileiros ouvidos na pesquisa manifestaram a vontade de fazer compras usando o controle remoto, quando esse instrumento da TV digital estiver em funcionamento. O resultado é bem superior ao obtido na média dos seis países pesquisados para esse quesito, que foi de 64%.

 

Também 77% dos brasileiros estão abertos a comprar pelo celular usando mensagem de texto quando esse instrumento estiver disponível, mostra a pesquisa da IBM. Essa parcela supera a média obtida entre os seis países pesquisados, que foi de 62%.

 

De acordo com a enquete, a principal atividade dos consumidores que procuram sites de compras é comparar preços (96%). Outras atividades frequentes são acompanhar o cronograma de entrega do produto (84%), obter cupons de descontos (77%) e escrever ou ler resenhas de produtos (56%).

 

Classes. Ao contrário do que se pensa, no Brasil as classes menos abastadas, D e E, que formam a base da pirâmide social, não são reféns das lojas físicas do comércio tradicional. Uma parcela considerável desse estrato social já tem acesso a tecnologias que podem influenciar suas decisões de compras, como consultar preços em outras lojas.

 

Mais de um terço (35%) da classe E brasileira e quase a metade da classe D (48%) dispõem de duas ou mais tecnologias, como celular e internet, que podem ser acionadas na hora de ir às compras, aponta a IBM. Mas a liderança no acesso a tecnologias continua sendo dos estratos sociais de maior poder aquisitivo, as classes A (75%) e B (56%).


Preste atenção

 

1. Faturamento. O comércio online encerrou 2009 com faturamento em vendas de R$ 10,6 bilhões. O crescimento foi de 30% em relação ao registrado em 2008, segundo o E-bit

 

2.Consumo. No final do ano passado, 17,6 milhões de brasileiros fizeram pelo menos uma compra pela internet. Esse número corresponde a 26% dos internautas brasileiros

 

3. Classe C. A parcela da população que pertence a classe C, e que vem crescendo muito nos últimos anos, responde atualmente por 35% das vendas online no mercado brasileiro

 

Veículo: O Estado de São Paulo

 


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