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A fabricante de papel e celulose APP é criticada pela derrubada de florestas na Ásia. Seu desafio é responder ao boicote de clientes, como a Mattel

 

Em apenas três dias de junho passado, 510 mil pessoas assistiram no site de vídeos YouTube a um misto de documentário e animação produzido pela organização não governamental Greenpeace, em 18 línguas, em que o boneco Ken confessa seu desgosto com o envolvimento da namorada Barbie na derrubada de florestas nativas da Indonésia. “Não saio com garotas envolvidas em desmatamento”, diz o afetado Ken no filmete de pouco mais de dois minutos. Em consequência desse vídeo, no dia 10 daquele mês, a fabricante americana de brinquedos Mattel, que produz a Barbie e seu eterno namorado Ken, anunciou a suspensão da compra da caixa de papelão da boneca loira mais famosa do mundo, fornecida pela companhia sino-indonésia Asia Pulp&Paper (APP), até serem investigadas as acusações de uso de madeira nativa na sua produção.

 

Antes da Mattel, as críticas às operações indonésias da empresa já haviam levado a APP, a maior fabricante asiática de papel e celulose e a terceira do mundo, a perder contratos com clientes internacionais do porte de Walmart, Woolworth, Staples, Office Depot, Tesco, Gucci e Carrefour, entre outras empresas. A controvérsia mostra os obstáculos que a produção de papel e celulose dos fabricantes da Ásia terá de superar para conquistar mais mercados. No Brasil, onde a importação de papel de impressão cresceu impressionantes 200%, nos últimos cinco anos, as indústrias nacionais têm motivos reais para se preocupar com o futuro. Até 2015, a China deve aumentar a produção de 90 milhões para 125 milhões de toneladas métricas de papel por ano. Em 2010, o País se tornou o maior produtor de papel e celulose do mundo, desbancando os Estados Unidos.

 

A APP, que faturou US$ 5,8 bilhões em 2010, vai expandir sua capacidade de 8 milhões para 15 milhões de toneladas métricas de celulose e papel por ano até 2015. Entretanto, as vantagens proporcionadas pela de escala e pelo baixo custo não bastam. No mês passado, o governo chinês fechou fábricas e linhas de produção de diversos fabricantes responsáveis por 8,2 milhões de toneladas por ano. As metas regulatórias para tratamento de água, de dejetos, dos índices de ruído e da emissão de carbono foram elevadas em maio de 2009 e novamente reeditadas em julho passado. O país que inventou o papel, há mais de dois mil anos, está se empenhando em aumentar a competitividade do seu produto.

 

A APP é uma subsidiária do grupo Sinar Mas, conglomerado de 100 empresas controlado pela família sino-indonésia do bilionário Eka Tjipta Widjaja, de 87 anos, 15 filhos, e terceiro homem mais rico da Indonésia, com uma fortuna estimada em US$ 6 bilhões, segundo a revista americana Forbes. O grupo atua nos setores de papel e celulose, agricultura e alimentos, finanças e construção civil, com mais de 120 mil funcionários e sedes em Xangai, Jacarta e Cingapura. Na China, onde é a maior produtora privada, a empresa controla 30 plantações de eucalipto e acácia e 20 fábricas de papel e celulose, algumas em sociedade com o Estado. Mas, as ambições da companhia não se restringem ao país. A APP já comprou cinco linhas de produção de papel e celulose no Canadá, três ativos na Europa e avalia negócios nos Estados Unidos e no Brasil, onde atua apenas com uma representação comercial. Nessas fábricas, a APP produz todos os tipos de papel, com exceção de papel-moeda e de imprensa.

 

Com ativos avaliados em mais de US$ 10 bilhões, a APP, na visão de muitos analistas, tem potencial de se transformar no maior produtor de papel e celulose do mundo no curto prazo. Em Zhenjiang, nas redondezas de Nanjing, a subsidiária Gold East Paper opera a mais avançada máquina de papel existente no mundo, fabricada pela alemã Voith. No Sul, na ilha de Hainan, na fronteira com o Vietnã, a Jinhai Pulp&Paper, outra companhia do grupo, comanda a maior fábrica do mundo: uma máquina de 428 metros de comprimento instalada num galpão de 660 metros, capaz de produzir dois milhões de toneladas métricas de papel por ano. O papel que sai da bobina da planta mede nada menos que 10,96 metros de largura. “Mudamos o mercado chinês com produtos top de linha, mas nem todos compreendem”, diz Sophy Huang, diretora de Comunicação Corporativa da APP.

 

“Temos uma imagem negativa derivada de um passado de incompreensões, de falsas acusações e de ataques de organizações não governamentais.” De fato, diferentemente da China, onde toda a produção é feita com madeira de florestas plantadas, com “tolerância zero” ao desmatamento ilegal, na Indonésia, 85% da madeira vem de florestas plantadas e 15% são comprados de fornecedores privados, que exploram áreas degradadas concedidas pelo governo, sobre as quais a APP diz não ter controle. Entre 2000 e 2009, a Indonésia perdeu 150 mil km2 de florestas. Segundo a organização indonésia Forest Watch Indonesia (FWI), o país sofre o processo de desmatamento tropical mais rápido do mundo. “Toda a nossa madeira é legal e manejada com metas de conservação superiores às do governo indonésio”, afirma Ian Lifshitz, diretor de sustentabilidade da APP.

 

“Mas, nas áreas exploradas por concessionários privados, pode haver corte de bolsões de florestas nativas remanescentes. Somos parte da solução, não do problema.” Para o executivo, a responsabilidade pelo desmatamento na Indonésia não é da indústria de papel, mas da miséria e da falta de oportunidade da população que vive nas florestas. “Acontece que o Greenpeace precisa de bodes expiatórios”, diz Lifshitz. Foi justamente a dificuldade de controlar a cadeia de custódia da madeira usada no setor de papel da Indonésia que levou o selo Forest Stewardship Council (FSC) a dissociar-se na APP em 2007, induzindo a companhia a buscar a certificação PEFC, menos reconhecida. Na época, o FSC acusou a empresa de “associar-se a práticas florestais destrutivas” na ilha de Sumatra. A APP nega e afirma que por trás do conflito persiste a polarização entre desenvolvimento e conservação.

 


Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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