Companhias mapeiam destino do lixo eletrônico no país

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Quantos celulares velhos estão mudos nas gavetas? Quantos computadores fora de uso estão escondidos nos armários dos fundos de casa? Afinal, o que é feito desses produtos quando são descartados?

 

O universo do lixo eletrônico é pouco conhecido no Brasil, mas as empresas do setor tentam, neste momento, rastrear a destinação que os consumidores dão a esses aparelhos ao deixar de usá-los.

 

As associações da indústria eletro e eletrônica (Abinee) e a dos fabricantes de produtos eletrônicos (Eletros) contrataram a consultoria Global Intelligence Alliance para traçar o mapa do lixo eletrônico no país. O estudo deve ficar pronto no início de 2011.

 

A preocupação atende a uma necessidade: a Política Nacional de Resíduos Sólidos estabelece exigências mais rígidas para o recolhimento e a reciclagem dos produtos eletrônicos e aumenta a responsabilidade dos fabricantes. A lei foi sancionada em agosto e está em fase de regulamentação. Enquanto isso, as empresas têm de começar a se preparar.

 

O problema é que ninguém sabe exatamente onde se encontra esse material e qual o tamanho do passivo. Uma estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU) indica que cada brasileiro gera 0,5 quilo, em média, por ano.

 

"Não dá para discutir regras sem ter um mapeamento de como o mercado se comporta no pós-consumo", diz o diretor de responsabilidade socioambiental da Abinee, André Luís Saraiva.

 

O agravante é que se reaproveita muito pouco dos materiais descartados no país. Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apenas 2,4% dos resíduos sólidos urbanos, de todos os tipos, são reciclados no Brasil.

 

Os principais fabricantes de celulares, computadores e outros eletroeletrônicos já têm seus programas de coleta e reciclagem de aparelhos. As operadoras de telefonia, também. O que se discute agora é como as empresas farão para ajustá-los às novas regras.

 

"Estamos estudando a lei e trabalhando para implantar um serviço de coleta mais abrangente, que atenda à pessoa física e jurídica", diz a gerente de cumprimento ambiental da Dell para a América Latina, Cíntia Gate.

 

Atualmente, a Dell recolhe na casa do consumidor qualquer equipamento de sua marca. O próximo passo é avaliar como estender o programa aos clientes corporativos. "Muitas empresas não sabem para onde mandar seus equipamentos obsoletos", afirma Cíntia. Na sua avaliação, a procura vai aumentar muito com a nova lei.

 

No entanto, para o diretor de pós-vendas da Nokia, Luiz Xavier, não é política nacional que vai alterar esse cenário. "As pessoas não têm o hábito de devolver seus aparelhos usados", afirma.

 

No mundo todo, segundo dados da Nokia, o volume de celulares recolhidos de todas as marcas a cada ano representa apenas 3% da base instalada de telefones móveis no mundo. No Brasil, essa proporção varia de 2% a 2,5%.

 

Mesmo assim, companhias que se dedicam à reciclagem e à manufatura reversa (processo que cuida da desmontagem e do tratamento dos produtos descartados) estão animadas com as perspectivas abertas pela aprovação da política nacional.

 

"Os volumes de produtos recolhidos tendem a aumentar porque as empresas terão de tratar esses materiais corretamente", afirma o gerente de desenvolvimento de negócios da Umicore, Ricardo Rodrigues.

 

A companhia belga coleta celulares e outros eletrônicos, processa os metais preciosos existentes neles e usa esse material em outros produtos, como catalisadores automotivos. "Temos parceria com fabricantes e sucateiros. Compramos o material e analisamos o que pode ser reaproveitado", afirma Rodrigues.

 

Segundo ele, a Umicore deve recolher 150 toneladas de celulares, baterias e placas de circuito impresso no Brasil neste ano e 200 toneladas em 2011. Desse material, a companhia extrai metais como ouro, prata e cobre (ver tabela). O processo é feito na central de reciclagem do grupo, na Bélgica.

 

Não há, no Brasil, fábricas capacitadas a fazer o processamento de metais. Por isso, as empresas brasileiras têm de fechar parcerias com grupos que fazem esse processo no exterior.

 

A Vivo, por exemplo, tem acordos com a GM&C e a Belmont Trading, que recolhem os celulares usados devolvidos nas lojas da operadora e os reciclam no México e nos Estados Unidos.

 

"Ainda é mais caro reciclar que simplesmente jogar os produtos no lixo", afirma Carlos Gorri, gerente comercial da empresa de manufatura reversa Oxil. (TM

 


Veículo: Valor Econômico


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