Os desafios do novo CEO do Carrefour

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Há meses ele estava em uma cadeira ejetável. Agora seus dias como presidente mundial do Carrefour estão oficialmente contados: 18 de junho. É nesta data, na assembleia geral do grupo francês, que o sueco Lars Olofsson - alvejado de críticas por todos os lados por não ter conseguido revitalizar a companhia - será substituído por Georges Plassat, presidente do grupo Vivarte, que reúne grifes de moda e de calçados populares. E é conhecido sobretudo por seus talentos para recuperar empresas em dificuldades.

Antes de substituir Olofsson em junho, Plassat já integrará o grupo Carrefour em 2 de abril, como diretor-general "por um curto período de transição", anunciou o Carrefour ontem em um comunicado.

A chegada de Plassat à segunda maior rede de varejo do mundo está sendo vista como a de um "salvador". O balanço deixado por seu predecessor está longe de ser encorajador e as tarefas que o aguardam são consideradas colossais. Como diz a imprensa francesa, estaria entrando água por todos os lados no "navio Carrefour" e o agravamento da crise na Europa dificulta a recuperação do grupo.

Olofsson, ex- presidente da Nestlé na França, havia assumido o comando do Carrefour em janeiro de 2009. Em 2011, o grupo emitiu cinco alertas de revisão dos lucros, o último em outubro, um recorde na bolsa de Paris. Entre o final de janeiro deste ano e o mesmo período de 2011, as ações da companhia perderam 51%.

Os principais acionistas - o empresário Bernard Arnault, do grupo de luxo LVMH, e o fundo americano Colony Capital, que têm juntos, por meio da holding Blue Capital, 16% do capital e 22% dos direitos a voto do Carrefour - decidiram a saída de Olofsson.

O principal elemento negativo da gestão de Olofsson é o fato dele não ter conseguido reanimar, como prometido, os hipermercados do grupo (que representam cerca de 60% de seu faturamento). A fracassada aliança entre Carrefour e o Grupo Pão de Açúcar, defendida por Abilio Diniz e vista com simpatia por Olofsson, também não ajudou o executivo sueco.

O projeto Carrefour Planet previa nos hipermercados espaços distintos de artigos de moda e beleza, produtos orgânicos, congelados, artigos para casa e de lazer, além de vários serviços, como cabelereiros e cursos de cozinha. O plano, com investimentos estimados em € 1,5 bilhão e que deveria ter dado novo impulso às vendas, sobretudo de produtos não alimentares, não produziu os resultados desejados. Pelo contrário, as vendas do Carrefour na França, seu principal mercado, vêm diminuindo regularmente. A queda foi de 2,4% no último trimestre de 2011.

Nos hipermercados franceses, a redução foi ainda mais brutal, atingindo 4,5% no quarto trimestre de 2011. Estima-se que o sucessor de Olofsson possa abandonar de vez o conceito da rede Carrefour Planet de hipermercados (que totalizou 81 lojas no final de 2011), considerado muito oneroso.

Muitos analistas apontam que o principal problema do grupo é justamente seu país natal, que representa 43% das vendas. Em 2011, a participação de mercado do Carrefour na França caiu 0,8 ponto percentual, atingindo 21,8%.

Uma das principais razões da contração das vendas na França é a política de preços praticada pelo Carrefour. Segundo analistas do Crédit Suisse, os preços da varejista seriam entre 4% e 5% maiores do que os praticados por seu rival Leclerc. No caso de produtos de marca, a diferença pode chegar até 15%, o que em tempos de crise e de explosão do desemprego na França certamente afugenta o consumidor.

Para tentar estancar a sangria de clientes, o Carrefour acaba de lançar na França uma agressiva campanha para 500 produtos. E que promete ainda, caso o consumidor tenha achado o mesmo artigo mais barato na concorrência, reembolsar o dobro da diferença.

A expectativa é de que a recuperação do Carrefour que será lançada pelo novo presidente levará tempo. O sucessor de Olofsson já tem experiência no setor supermercadista. Antes de presidir a Vivarte, Georges Plassat, de 62 anos, já havia trabalhado 15 anos para o sócio francês do Pão do Açúcar, o grupo Casino, que presidiu e onde teria conseguido dobrar o faturamento. E também já havia chefiado, no final dos anos 90, as atividades do próprio Carrefour na Espanha.

Em 2000, ele assumiu as rédeas do grupo Vivarte (calçados André e marcas de roupas como Kookaï e Naf-Naf) e conseguiu dar novo ritmo às atividades da companhia, que perdiam velocidade. Hoje, a empresa fatura € 3 bilhões e possui mais de 4,5 mil lojas e 22 mil funcionários. Plassat possui 10% do capital da Vivarte, mas o grupo, segundo sua assessoria, não faz comentários sobre a eventual venda dessa participação.

Considerado carismático, mas também famoso por suas cenas de irritação, Plassat é bastante ligado à Vivarte e só aceitou a proposta do Carrefour, que havia recusado inicialmente, após se assegurar da transição no comando de sua companhia atual. Na Vivarte, Plassat será substituído por seu braço direito há dez anos, Antoine Metzger.

Olofsson, por sua vez, não deixará o Carrefour de mãos vazias. Apesar de sua polêmica gestão, calcula-se que ele receberá € 500 mil por ano como "aposentadoria". Resta saber por quanto tempo.


Plassat tem gênio forte e não precisa do cargo



Georges Plassat terá a missão de estabilizar os negócios - e as ações - do Carrefour, e alguns analistas e executivos dizem que seu gênio forte e longa experiência com varejo podem ser importantes para cumprir a tarefa. "Plassat tem o perfil certo", diz Arnaud Joly, analista da Cheuvreux. "Acreditamos que essa nomeação seja positiva para o Carrefour, mas há ainda muito a ser feito para dar uma virada no grupo."

Com sua sólida reputação no mercado e considerável riqueza pessoal, Plassat não precisa do emprego. Pessoas próximas ao executivo dizem que ele vê a nomeação como um desafio pessoal nessa última fase da sua carreira - e como uma possível compensação por ter perdido um outro emprego de alto escalão no varejo, quinze anos atrás. Na época, ele deixou um concorrente menor do Carrefour, o grupo Casino, do qual era diretor-presidente, após ter apoiado uma proposta de aquisição contra a vontade dos acionistas. Depois do Casino, entrou no Carrefour da Espanha. Dois anos depois foi para a Vivarte. Ele tornou-se um investidor na Vivarte em 2007. Ontem, a Vivarte informou que não vai haver nenhuma mudança na sua estrutura acionária.
 

As negociações entre Plassat e o Carrefour foram suspensas durante vários meses devido aos vínculos de Plassat com a Vivarte. O Carrefour compete com a Vivarte na venda de roupas para o mercado de massa.

Para alguns investidores, Plassat é uma boa escolha: ele falará de igual para igual com os acionistas. Plassat será investido da autoridade de presidente do conselho assim como de diretor-presidente, um título que levou mais de dois anos para Olofsson receber. Plassat é conhecido por ser um homem de negócios decidido e um grande motivador de equipes.

"Ele tem um caráter um pouco difícil, mas é um grande varejista e conhece o varejo de trás para frente", diz o ex-presidente do conselho da Carrefour, Luc Vandevelde "Ele não vai aceitar nenhum acordo que não seja bom para a companhia." Uma medida de seu sucesso será se ele conseguirá parar a queda livre nas ações da Carrefour na bolsa.

Plassat tem um currículo peculiar entre os altos executivos da França por não ser graduado em nenhuma das principais universidades do país, nem na famosa faculdade de administração ENA. Ele estudou na faculdade de gestão de hotéis de Lausanne, na Suíça, e na Universidade Cornell, nos EUA.


Veículo: Valor Econômico


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