Por que os supermercados dobram a oferta de marcas nas gôndolas?

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Levantamento da ABRAS revela que redes trabalham com mais de 100 marcas de arroz, 94 de feijão e 30 de biscoito

 

Quando a inflação dispara, é comum o consumidor recorrer a produtos mais baratos para que o valor da compra se ajuste ao orçamento mais apertado.

 

Desta vez, o aumento de preços dos produtos chegou a tal ponto que as redes de supermercados até dobraram as opções de marcas para os clientes.

 

Em 2021, os supermercadistas trabalharam com 101 marcas de arroz, 94 de feijão, 30 de biscoitos, 28 de açúcar, 25 de leite longa vida, 18 de café e 16 de óleo.

 

O levantamento foi realizado pela Abras (Associação Brasileira de Supermercados). Com a alta da inflação, estes números podem ser ainda maiores neste ano.

 

Antes da pandemia e da escalada inflacionária, a quantidade de marcas nas redes não chegava à metade, de acordo com Márcio Milan, vice-presidente institucional da associação.

 

Com experiência de 44 anos no grupo Pão de Açúcar, Milan afirma que a pandemia e o cenário econômico tiveram grande impacto no comportamento do consumidor.

 

NOVO CARDÁPIO

 

Além de optar por marcas mais baratas, o brasileiro mudou o cardápio do almoço e do jantar. A troca da carne bovina por outras proteínas, diz ele, ficou evidente em 2021.

 

O consumo per capita de frango subiu de 42,84 quilos, em 2019, para 45,7 quilos em 2021. De ovos, de 230 unidades para 255 unidades e, de carne suína, de 15,3 quilos para 17 quilos.

 

Enquanto isso, o consumo per capita de carne bovina, que chegou mais do que dobrar de preço no último ano, que era de 37,73 quilos, em 2019, caiu para 32,69 quilos no ano passado.

 

“O consumidor vem mudando os seus hábitos e os supermercados, que são responsáveis por 87% dos alimentos e produtos de higiene que chegam às famílias, têm de acompanhar”, diz.

 

MAIS DIGITAL

 

O uso de plataformas digitais pelas redes de supermercados disparou nos últimos dois anos justamente para atender a demanda da clientela.

De acordo com a Abras, 85% das empresas já atuam por meio de plataformas e 77% aderiram aos aplicativos de entregas.

 

Uma parte das redes recebe os pedidos e faz a entrega e outra parte recebe os pedidos e uma outra empresa leva os produtos até a casa dos clientes.

 

“Neste último trimestre, o consumidor diversificou os canais de compra. Tem hora que vai à loja, tem hora que faz encomenda e tem hora que faz a encomenda e pega na loja”, diz Milan.

 

COMPRA CONCENTRADA E RACIONAL

 

Os supermercadistas também observaram que, neste ano, os consumidores voltaram a concentrar as compras no início do mês, período em que recebem o salário.

 

Notaram ainda que as embalagens mais econômicas de produtos, mesmo as tamanho família, estão sendo as preferidas pelos clientes, em vez das menores, como ocorria até então.

 

“A compra está sendo mais racional. As embalagens de sabão em pó, por exemplo, são de vários tamanhos. Os clientes estão preferindo as maiores porque são mais econômicas”, diz.

 

MARCAS PRÓPRIAS

 

As marcas próprias ou exclusiva de redes, que custam, em média, 15% menos do que as líderes de mercado, também ganharam participação no faturamento das lojas nos últimos anos.

 

Há casos de rede, de acordo com Milan, em que as tais marcas caseiras chegam a representar 20% da venda de categorias de produtos.

 

A rede Hirota, que lançou há dois anos a ‘Casa de Mãe’, informa que as vendas de produtos com a marca, com preços 10% menores do que os de líderes de mercado, só crescem.

 

Atualmente, a ‘Casa de Mãe’ está em produtos de mercearia, higiene e limpeza e snacks, mas a rede se prepara para expandir a marca para outras categorias ainda neste ano.

 

Assim como a rede Hirota, outras empresas seguem o mesmo caminho, diz Milan, na tentativa de oferecer produtos com a mesma qualidade da dos líderes e com preços mais acessíveis.

 

NEGOCIAÇÕES COM FORNECEDORES

 

As negociações entre as empresas do setor e os fornecedores, de acordo com Milan, estão ainda mais duras do que costumam ser.

 

“O mercado é muito competitivo, e o consumidor faz muito mais pesquisa para encontrar o que cabe no seu orçamento. E a tecnologia que ele usa para isso cabe na palma da mão.”

 

Não é por acaso, diz ele, que todos os dias os supermercados oferecem uma lista de produtos em oferta em volume muito maior do que já foi antes da pandemia.

 

Vender produtos com qualidade e mais em conta e ainda ter lucro para manter o negócio saudável é um dos grandes desafios dos supermercadistas neste ano.

 

SUPERMERCADOS X MASTERCARD

 

E esta é uma das razões que levou a Abras a procurar a Justiça para que a operadora de cartões Mastercard volte atrás em repasses propostos para o setor.

O aumento seria de 0,5% para as operações realizadas no débito e de 0,2% no crédito.

 

“Os percentuais parecem limitados, mas as projeções indicam um acréscimo de R$ 450 milhões em custos para os supermercadistas”, diz Milan.

A Mastercard, de acordo com ele, enfrenta um processo semelhante na Inglaterra, já que empresários ingleses também querem evitar a alta de custos.

 

PROJEÇÕES

 

Com um faturamento da ordem de R$ 611 bilhões, o setor prevê crescimento real de 2,8% neste ano em relação a 2021, ano em que cresceu 3% sobre 2020.

 

A expansão deste ano, de acordo com Milan, se deve ao aumento do pessoal ocupado e do Auxílio Brasil, de R$ 400, para o público de baixa renda.

 

“O consumidor reduz o consumo fora do lar, de acordo com Milan, mas fica mais seguro na hora de comprar os produtos nos supermercados.

 

FÓRUM

 

Para manter a competitividade do setor, atendendo a demanda dos consumidores, a Abras vai realizar no dia 9 de junho a segunda edição do Fórum da Cadeia Nacional de Abastecimento.

 

O evento tem como objetivo debater e propor para o setor soluções para desafios de geração de impacto econômico, social, ambiental e de governança.

 

Representantes de pelo menos 14 entidades de classe – de insumos agropecuários ao varejo de supermercados – devem participar do encontro.

 

Um relatório com as principais conclusões será produzido e levado à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-22), que acontece no Egito em novembro deste ano.

 

Na primeira edição do fórum, que aconteceu no ano passado, os participantes listaram cinco desafios para o setor no Brasil.

 

São eles: redução de custos (reforma tributária), consumo consciente (economia circular), redução de desperdício, combate à fome (conexão entre o mapa do desperdício e o da fome) e conhecimento sobre ESG (disseminação de informação, treinamento e capacitação).

 

Milan cita outro importante desafio do setor: aumentar a produtividade e procurar dar ao consumidor alternativas que atendam às suas necessidades e ainda caibam no seu orçamento.

 

Fonte: Fátima Fernandes,DC


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