A inflação oficial do Brasil, calculada pelo IPCA, chegou a 8,47% dos últimos 12 meses, o maior valor desde 2003. Em maio, o índice ficou em 0,74%. Maior do que a média nacional, a região metropolitana de Salvador registrou IPCA de 0,79% este mês, com acumulado de 7,45%. Uma das principais despesas do orçamento familiar, a energia elétrica foi o item que mais contribuiu com o IPCA. Em maio, o aumento das contas de energia em Salvador ficou em segundo entre os maiores do país, 12,07%, atrás apenas de Recife, que variou 12,2%.
Seis das regiões pesquisadas tiveram reajuste anual da tarifa de energia no mês de abril, o que se reflete nas contas de maio. No ano, o aumento do custo da energia chega a 32,59% em Salvado e 41,94% no Brasil.
A alimentação continua maltratando o bolso do consumidor e foi o segundo item com mais peso na inflação de maio. Cebola (35,59%), tomate (21,38%) e cenoura (15,90%) figuram no topo da lista. Item importante na elaboração dos pratos do dia a dia, a cebola acumula uma alta de 100,45% este ano. Mandioca, farinha, feijão e ovos baixaram de preço.
Adaptação
Com as contas e o mercado mais caros, a inflação já afeta o orçamento da família e está modificando os hábitos e os produtos que os baianos levam em seus carrinhos de compras. Quando a professora Telma Maria Gomes percebeu a sua compra semanal aumentar a cada ida ao supermercado, começou a cortar os supérfluos.
"O valor que comprei na semana passada não vai dar para comprar as mesmas coisas na próxima semana. Estou chocada, ficou cerca de R$ 100 mais caro. Estamos reduzindo a quantidade a cada semana. Deixei de comprar biscoitos, por exemplo. Levo só o essencial, frutas, verduras".
Cortar idas a restaurantes e opções de lazer fora de casa foram as soluções que a família buscou para dar conta dos aumentos de custos. "O lazer foi um pouco prejudicado. Passamos a convidar as pessoas para programas em casa. Isso acaba gerando mais proximidade com a família", disse a professora.
Na casa do analista de logística Evandro Carvalho, as compras do mês para duas pessoas, geralmente em torno de R$ 600, podem chegar atualmente a R$ 800, caso os mesmos produtos sejam mantidos. "Cortamos supérfluos, sobremesas, comemos cada vez menos em restaurantes. Antes também eu viajava muito mais".
Segundo Ana Georgina Dias, supervisora técnica do Dieese, que pesquisa o valor da cesta básica mensalmente, o impacto da disparada de preços dos alimentos varia de acordo com a renda familiar e afeta mais quem ganha até um salário mínimo, mas tem consequências diretas no consumo.
"Quem ganha um salário mínimo, no mês de maio, precisou gastar mais de 48% do salário líquido só para adquirir a cesta básica. A consequência imediata é que o gasto de alimentação tem pouca margem de redução. As pessoas passam a adotar estratégias de preços, trocar marcas, substituir produtos, trocar carne por frango. Há redução no consumo".
Veículo: A Tarde - BA