Repasses menores e procura por descontos seguram preço no NE

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Até novembro, inflação da alimentação no lar foi de 3,1% em Salvador; média no país foi 6,1%

Para especialistas, indústria faz reajuste maior em produto premium; consumidor valoriza promoções

 

 

 

 

JOANA CUNHA

ENVIADA ESPECIAL AO RIO GRANDE DO NORTE E AO CEARÁ

Seis pacotes de macarrão, dois de aveia. Água sanitária e quatro barras de sabão. "Pronto. Só falta o leite da minha menina", diz a dona de casa Maria José Chagas, manobrando o carrinho no supermercado Nordestão, em São Gonçalo do Amarante, nos arredores de Natal.

 

Ela se queixa do preço do iogurte, mas engata elogios ao biscoito escolhido pelo filho, impulsionando o consumo no Nordeste, principalmente dos bens de menor valor agregado, segmento mais importante da indústria local.

 

Pilar da reeleição de Dilma, o Nordeste sentiu menos as dores do momento econômico por que passa o Brasil neste ano. A pressão sobre os preços da alimentação, mazela econômica refletida diretamente no bolso, foi menos intensa na região do que no país em geral.

 

No acumulado até novembro, a inflação da alimentação no lar ficou em 5,1% em Fortaleza, 5,2% em Recife e 3,1% em Salvador. Diferentemente dos anos anteriores, as variações nas capitais nordestinas auditadas no IPCA (índice oficial de inflação) ficaram abaixo da média do Brasil (6,1%).

 

O IBGE justifica o resultado pela queda no valor da farinha de mandioca e dos feijões, itens de grande peso local. Para especialistas em varejo, a estratégia de precificação adotada pela indústria para reagir à persistência inflacionária é outro motivo.

 

Quando a indústria é afetada pela alta no preço de um insumo, ela não a transfere igualmente aos seus produtos premium e básicos, segundo Adriano Amui, professor da ESPM e especialista em varejo. Faz repasses mais pesados nos itens premium, cujos consumidores têm mais poder de compra.

 

"A indústria sabe onde tem espaço para incorporar mais", diz Amui.

 

Segundo ele, nos últimos anos, havia uma tentativa do setor de introduzir correções, mas diante de mudanças no comportamento dos clientes, foi mais prudente apertar as margens de lucro para preservar as vendas dos produtos mais básicos.

 

A partir de 2013 ficaram mais nítidas medidas tomadas pelo consumidor, como redução das visitas aos supermercados, maior busca por promoções e preferência por atacarejos (lojas que ficam entre o atacado e o varejo).

 

"A situação da renda mudou neste ano. E a precificação acaba sendo mais contida no Nordeste", diz Nelson Beltrame, professor da FIA.

 

A concorrência das marcas regionais contribui para a competição por preços, segundo Edmilson Marques, presidente da Assurn, entidade do setor no Rio Grande do Norte. Nomes locais como Treloso e Richester imperam nas prateleiras de biscoitos, com preços inferiores aos concorrentes multinacionais.

 

Amui rejeita a ideia de que os mercados do Sudeste e do Sul sustentam as operações da indústria no Nordeste.

 

"O mercado maduro, mais capaz de absorver reajustes, é importante. Mas a indústria não se sustenta sem o mercado em crescimento", afirma.

 

CAÇA-DESCONTO

 

O perfil do consumidor nordestino é o de um buscador de promoções. Segundo o instituto Nielsen, mais de 70% deles dizem preferir marcas de melhor custo benefício, enquanto a média nacional fica em 65%.

 

Sabrina Balhes, analista do Nielsen, lembra que o volume de lares com donas de casa de até 30 anos é 21% superior. "São famílias maiores e com mais crianças", diz ela.

 

A importância das classes C, D e E é 9% maior. "É uma consumidora que faz compra planejada, que limita a compra por impulso", diz Balhes.

 

Quando vai às compras, a dona de casa Luana de Sousa, 19, leva a mãe, Lucineide de Sousa, 38, para ajudar a ninar a pequena Luna, de dois meses, e a selecionar o melhor custo. Ainda que o reflexo inflacionário esteja menor na região, a avó de Luna lamenta a alta dos preços.

 

"Tento levar carne para variar de vez em quando, porque comer só frango não dá!"

 

Consumo de pequenos itens favorece crescimento de cidades do Nordeste

folha.com/no1566897

 

 

 

Veículo: Folha de S. Paulo


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